No último dia de Finados, ao percorrer o
cemitério para encontrar os túmulos de meus entes queridos, observei que várias
pessoas na minha faixa de idade (inclusive algumas conhecidas) já haviam
falecido. Imediatamente lembrei-me de uma mensagem compartilhada em redes
sociais que se tornou viral e que mostra produtos, filmes e séries da infância
e adolescência de pessoas da minha geração e que afirmava que, aos poucos, estamos
saindo de cena, pois, estamos indo embora. Por ocasião das festas de fim de
ano, encontrei pessoas que há muito não via, e fiquei surpreso com a forma
carinhosa e feliz ao nos revermos. Parecia que ao nos reencontrarmos,
saudávamo-nos mutuamente, como que a afirmar: ainda estamos aqui! Somos
sobreviventes!
De
igual forma, algumas pessoas com as quais convivi, ao me reencontrar nas redes
sociais, mostraram estar felizes com isso demonstrando que minha existência não
passou despercebida em suas vidas. E isso me surpreendeu positivamente, pois,
em alguns casos, considerei que não fiz no tempo de nossa convivência nada de
especial para receber tal consideração. Há uma frase popularmente conhecida e
que afirma: “a vida começa aos quarenta”. Esta frase, em meu ver, está
acertadíssima. É na faixa dos quarenta anos que adquirimos a maturidade, a
sabedoria e a consciência acerca de nós mesmos. Aprendemos muito sobre as
nossas qualidades e as nossas limitações.
Mas
há algo difícil de traduzir em palavras quando atingimos a faixa etária dos
cinquenta anos. Ao atingir esta marca, nos tornamos condescendentes com nós
mesmos, nos perdoamos pelos erros que cometemos, afinal, somos humanos. Não
podemos esperar acertar sempre. Aceitamos as nossas limitações. E passamos a
ter orgulho dos fios brancos que aparecem em nosso cabelo. Olhamos para trás,
lembramos das expectativas (pessoais/profissionais/materiais) que tínhamos para
o momento em que alcançássemos essa idade e, ao constatarmos que muito deixamos
de realizar, não nos sentimos frustrados. “Somos o que conseguimos ser” como diz
a canção. Não faltaram esforços, mas, como nos diz Marx, “fazemos nossa
história não como a queremos, mas, conforme as condições dadas”. Somos eu e
você (que compartilha da mesma geração) testemunhas vivas de grandes
transformações históricas e tecnológicas que mudaram o Brasil e o mundo.
Passamos por dificuldades que nos foram impostas pelo país em que crescemos
(autoritarismo, imposição de censura, dificuldades econômicas, inflação
galopante, etc.) que a geração do milênio não conhece, pois, apesar do retrocesso
que vivemos nos dias atuais, não se compara ao que passamos.
É
certo que ao atingir essa idade, sabemos que temos mais passado do que futuro.
O corpo começa a dar sinais de que precisa de mais cuidados. Afinal, cuidar tão
somente do intelecto e esquecê-lo não contribui para a longevidade,
inversamente, abrevia. É difícil traduzir em palavras o sentimento de adentrar
na chamada meia idade. É uma mistura de orgulho da pessoa que se conseguiu ser
ante as condições dadas. É a sensação de impor à vida uma quinta marcha, rodar
mais leve, economizar energia, desfrutar mais do que antes era imperceptível,
dar importância ao que realmente importa, não comprando brigas desnecessárias.
É ter a consciência de que não irá mudar o mundo conforme pensava em seus arroubos
de juventude, mas, que a sociedade e o mundo precisam que tome partido ante os
desafios do presente a indicar o caminho para os mais jovens e inexperientes. É
saber que, à nossa maneira e ante as condições dadas, contribuímos para que
essa sociedade seja um pouco mais humana, solidária e fraterna. Afinal, como
disse Robertson Stanley: “É necessário que o mundo depois de ti seja algo
melhor, pois, tu viveste nele”.
Convido
a todos (as) da minha geração a seguir firmes até os 100!
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