Milton Santos (1926-2001)
foi um dos maiores intelectuais do Brasil. Em 1948, formou-se em Direito e, dez
anos mais tarde, concluiu o doutorado em Geografia na Universidade de
Estrasburgo na França. No governo Janio Quadros foi subchefe da Casa Civil e o
propositor original no país do Imposto Sobre Grandes Fortunas - ISGF (jamais
discutido e/ou aprovado pelo Congresso Nacional, encontra-se engavetado). Em
1964, presidiu a Comissão Estadual de Planejamento Econômico do Estado da
Bahia. Trabalhou como redator do Jornal “A Tarde” de Salvador. Atuou como
professor universitário na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ficou
conhecido por seu posicionamento ideológico nacionalista. Sua defesa
intransigente da democracia e dos interesses nacionais o colocou sob os holofotes
do aparelho repressor da ditadura militar (1964-1985). Por suas posições
ideológicas, foi preso e demitido da UFBA.
Obrigado a exilar-se do país, trabalhou como professor na
Universidade de Toulouse, Bordeaux e Paris (todas na França). Atuou também na
Universidade de Toronto (Canadá), Lima (Peru), Dar Assalaam (Tanzânia),
Colúmbia (EUA), Central de Venezuela e Zulia (Venezuela). Retornou ao Brasil em
1977 para lecionar na Universidade de São Paulo (USP). Sua obra é vasta. Milton
Santos publicou mais de quarenta livros e trezentos artigos científicos.
Recebeu vinte títulos Honoris Causa
que lhes foram concedidos por universidades de várias partes do mundo. Foi o
primeiro brasileiro a receber um prêmio equivalente ao Nobel, o Prêmio Vautrin
Lud, prêmio máximo da Geografia. À época era o único intelectual nascido fora
do mundo anglo-saxão a receber tal honraria. Seus livros são estudados
especialmente nos departamentos de Geografia, História, Sociologia e Economia de
universidades de várias partes do mundo.
Milton Santos afirmava ser um intelectual outsider, nas
palavras dele, não fazia parte de nenhum partido político ou agremiação de
intelectuais ou algo parecido. Seu posicionamento expresso em suas falas e
obras era fruto tão somente do trabalho incansável de pesquisa e de sua
reflexão acerca da realidade vivida. O reconhecimento internacional veio logo,
tendo sido consultor da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da
Organização dos Estados Americanos (OEA), e da Organização das Nações Unidas
para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). Participou também da Comissão
Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo e do Conselho Municipal de
Desenvolvimento Urbano da cidade de São Paulo. Além disso, escrevia regularmente
na seção 501 d.C. do Mais!
Nascido a três de maio de 1926 em Brotas de Macaúba, na
Chapada Diamantina (BA), era neto de escravos, seus pais foram professores do
ensino primário (atual Ensino Fundamental I). Milton Santos foi conscientizado
pelos pais acerca da discriminação pela qual certamente passaria na vida e
orientado a não desistir. Não foi diferente do que pensavam seus progenitores.
Passou por momentos de discriminação racial manifesta e foi obrigado a desistir
de cargos de liderança em instituições cuja tradição reservava aos brancos tais
postos. Sobre isso afirmou: “Ser negro no Brasil é, pois, com frequência, ser
objeto de um olhar enviesado. A chamada boa sociedade parece considerar que há
um lugar predeterminado, lá em baixo, para os negros e assim tranquilamente se
comporta. Logo, tanto é incômodo haver permanecido na base da pirâmide social
quanto haver ‘subido na vida’.”
Pergunto-me se o caro leitor caso desconhecedor acerca do
intelectual Milton Santos o teria imaginado, um velhinho branco de barba e
cabelos brancos. Não se constranja, não é prova indesejada de racismo. É a
constatação que em nosso país, a discriminação étnica e social impõe obstáculos
gigantescos (quase insuperáveis) a quem foge do padrão, ou seja, o indivíduo
branco, sexo masculino, heterossexual e rico. A intenção deste artigo além de
enaltecer Milton Santos, é o de valorizar o conhecimento científico, os
pesquisadores, a escola e a universidade como único caminho para o
desenvolvimento nacional, aquém disso, há apenas a escuridão das mentes vazias
que ao terem livros em mãos apenas enxergam um amontoado de palavras escritas, sem
qualquer significado, por isso levantam a bandeira ideológica da suavização/desideologização
e outras mentes igualmente vazias aderem a essa marcha que leva o país ao
abismo!
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