Muito tenho refletido sobre o momento de
grande idiotia pelo qual atravessamos. A esse respeito lembro-me de um filme
que há muito tempo assisti e que tem como título “Idiocracy” (2006 – diretor
Mike Judge). Neste filme Joe Bowers, um cidadão de inteligência e cultura
quando muito mediana para os padrões do século XXI é posto em estado de
hibernação, porém, o experimento é esquecido e ele acorda no ano 2505. No
século XXVI, a humanidade está emburrecida e alienada pelos meios de comunicação
de massa, especialmente a TV, o que faz de Joe Bowers a pessoa mais genial do
planeta. No filme cabe a Joe Bowers, a mente mais “genial” do planeta reverter
o processo que fez da idiotia o paradigma da sociedade.
O
intelectual Umberto Eco (1932-2016) disse: “as redes sociais deram voz a uma
legião de imbecis”. Observo nas redes sociais pessoas que postam argumentações
reflexivas e coerentes sofrendo o combate de internautas que se utilizam de um
linguajar vulgar e destituído de reflexão. São os tristes tempos atuais em que mentes
medíocres sacam rapidamente argumentos com base no senso comum com os quais
pensam se equiparar a argumentos científicos de pessoas inteligentes, e condenam
a si próprias a viver na clausura de sua própria ignorância. Devem ter a ilusão
do conhecimento, mas, não há verdadeiro conhecimento sem a leitura e reflexão
acerca de grandes obras escritas por intelectuais. Falo das obras clássicas.
Daquelas que resistem ao tempo, pois, não foram escritas para atender aos
apelos comerciais do momento. Há uma grande diferença entre ser uma pessoa bem
informada e ser uma pessoa culta. A pessoa culta é a que consegue converter a
informação em conhecimento, pois, faz a interpretação dos fatos à luz da
leitura de obras com diferentes abordagens, todas de valor científico
reconhecido e após a reflexão fundamentada consegue extrair o conhecimento. Mas,
essa não é a realidade da maioria das pessoas. Grande parte das pessoas costuma
ter muita preguiça de ler, mais ainda de pensar.
Em
minha juventude, sonhava com a volta da democracia, ansiava por um país menos
injusto, feria-me a consciência constatar a miséria extrema com que pessoas de
minha cidade viviam. Mesmo sem entender direito como o sistema capitalista
funcionava, pois, a educação durante a ditadura militar era castradora,
revoltava-me as injustiças sociais. O tempo passou, porém, a maturidade que
adquiri não se fez acompanhar da renúncia do ideal de uma sociedade menos
injusta. Em nossa sociedade, na falta de um discurso convincente, lideranças
políticas adotam a estratégia da disseminação do medo e do ódio. Dessa forma, a
fobia e o ódio artificialmente produzido no que concerne a nomenclaturas de
sistemas e partidos suplanta o interesse na busca da justiça social. Há
lideranças que se intitulam intelectuais, porém, fraudam a história visando
fazer com que tudo continue como sempre foi desde a colonização desta nação, ou
seja, um país para poucos. “Quem não se movimenta não sente as correntes que o
prendem” afirmou a intelectual socialista Rosa Luxemburgo (1871-1919)
assassinada por integrantes de um grupo político que mais tarde formaria o
Partido Nazi de Hitler. Há “intelectuais” da direita no Brasil atual que “corrigem”
os alemães afirmando o nazismo ser de esquerda, numa clara demonstração de que
a idiotia não tem limites e as pessoas não têm vergonha dela.
Quando
jovem, ser revolucionário era contestar o sistema capitalista por suas
flagrantes injustiças sociais. Hoje ser revolucionário é combater o “socialismo
brasileiro”, reforçando um sistema que oprime e exclui. A questão é que no
Brasil nunca houve socialismo. Os governos petistas tão somente buscaram combater
as desigualdades sociais e regionais em atendimento à Constituição Federal de
1988 (artigo 3º - inciso III). Mas há quem veja nisso socialismo, embora nos governos
Lula e Dilma o neoliberalismo jamais tenha saído de cena. Apesar disso, os
avanços sociais foram perceptíveis. O Brasil era respeitado lá fora e não tinha
lideranças vira-latas. Hoje o país perdeu o rumo, sendo que a parcela
esclarecida do povo está envergonhada do triste papel que o país vem
protagonizando no palco das nações. O presidente da nação parece ainda viver
nos anos de chumbo da ditadura civil-militar (1964-1985). Não fosse por esta
constatação de muitos analistas de política, da qual comungo, poder-se-ia dizer
que veio do ano 2505 para governar o país no século XXI para que esta terra
continue a exercer o papel de vassalo do grande capital nacional e estrangeiro,
o qual não titubeia em se locupletar das riquezas do solo pátrio e daquelas
oriundas do suor laboral de milhões de brasileiros que trabalham sem ter no
horizonte perspectivas de dias melhores. Nunca regredimos tanto! Somos hoje
motivo de zombaria ou de lamentação mundo afora. O mundo observa atônito, o
velório sem fim de um país cuja população encontra-se em estado de catalepsia enquanto
o sistema financeiro anseia em fechar logo a tampa de seu caixão selando
definitivamente seu destino. A dúvida é se na condição de povo brasileiro
teremos direito à campainha (gongo)!
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