Há alguns dias, o presidente Jair
Bolsonaro (PSL) deu posse a Abraham Weintraub no cargo de Ministro da Educação.
A substituição foi necessária, pois, decorridos noventa dias, a pasta
continuava num estado de total letargia. O Ministro Ricardo Vélez por sua ação
e inação não correspondeu às expectativas da sociedade, menos ainda dos
profissionais da educação. Em meio às críticas acerca da atuação do Ministro,
relutante, Bolsonaro teve de substituí-lo. Por ocasião da posse de Weintraub,
Bolsonaro ao discursar afirmou “[...] Nós queremos uma garotada que comece a
não se interessar por política, como é atualmente dentro das escolas, mas
comece realmente aprender coisas que possam levar a quem sabe ao espaço no
futuro”¹. Imediatamente lembrei-me de uma fala do ex-presidente Lula em que ele
falava aos estudantes que estes deviam se interessar mais pela política, pois,
talvez fossem eles os políticos e a nova forma de fazer política de que o país
precisava².
Os
discursos de ambos passam pela educação e o papel que se espera dos estudantes.
Sempre acreditei que democracia é participação. E que a escola não deve ser um
lugar para preparar unicamente para o mercado de trabalho, mas, também para a
cidadania. Democracia e cidadania são termos que se complementam, não há uma
sem a outra. Porém, sob o falso pretexto da defesa da democracia e da
outorgação da cidadania, golpes de Estado e guerras foram deflagradas na
história da humanidade. Democracia e cidadania são conceitos abstratos, cuja
concretude somente é alcançada com a participação popular. Democracia e
cidadania precisam deixar as páginas do dicionário e passarem a ser vividas. Mas,
como construir a democracia em um país cuja regra é o autoritarismo? Cuja
democracia é efêmera e ocorre em hiatos entre os períodos de exceção? Em um
país cujos sonhos de dias melhores da parcela pauperizada da sociedade são
sempre castrados pelas elites do capital financeiro e do capital intelectual?
Se o que se pretende é fazer com que a escola
pública tenha a qualidade necessária para formar estudantes que serão os
futuros cientistas a desenvolver tecnologia de ponta é necessário criar as
condições para tal. E para isso é necessário conhecer a realidade das escolas,
sua infraestrutura e as condições de trabalhos dos docentes. Após ter o choque
de realidade, pois, boa parte dos políticos e até mesmo vários Ministros da
Educação sempre falaram da Educação Pública “sem pisar no chão da escola”, pois
a conheciam/conhecem por meios de jornais, revistas, quando muito de livros não
raramente escritos por intelectuais que também não gastaram solas de seus calçados
no chão da escola. É necessário rever políticas defendidas como a PEC do Fim do
Mundo (EC 95/2016) que congela os gastos públicos e afeta fortemente a Educação.
É preciso ter em mente que recursos empregados na Educação não são gastos e sim
investimentos e que desde o golpe de Estado de 2016, tudo o que tem sido feito em
matéria de Educação Pública objetiva literalmente “mandá-la ao espaço” juntamente
com o futuro dos estudantes e isto somente não ocorreu ainda graças aos
profissionais da Educação que exercem com grande seriedade a sua atividade,
mesmo, sendo cada vez mais desvalorizados pela classe política que a elegeu
como inimigos e por parte da sociedade que infelizmente está absorvendo esse
discurso.
Falar que a educação hoje não é de qualidade
por ter viés ideológico é de uma ingenuidade ou desonestidade gigantesca. Quando
não teve? Ou que escola do mundo não tem? A ideologia é o conjunto de ideias,
crenças e valores de um indivíduo ou de um grupo de pessoas. A ideologia está presente
em todos os lugares e todas as pessoas saudáveis a possuem. Na igreja, na
ciência, na arte, na política, etc. A escola é plural, mas, não é exceção! A
escola prepara para a vida. E a vida em sociedade é organizada por meio da
política. A política não é em si uma atividade pornográfica, embora
historicamente muitos políticos tenham atuado e atuem de forma obscena. A
criminalização da política é uma atitude burra. É necessário resgatar a arte da
boa política. E todos os espaços públicos precisam ser utilizados para
estimular a reflexão, o debate e a participação. A escola tem um importante
papel a desempenhar neste sentido. Se não o fizer contribuirá para o aumento do
número de analfabetos políticos tal como enunciado por Bertolt Brecht.
Bolsonaro talvez tenha tentado que seus filhos não se interessassem por
política, mas, eles se interessaram. Cabe a você decidir se deve acatar a fala
de Bolsonaro e estendê-la aos seus filhos ou, estimulá-los à prática do debate,
da reflexão e da participação. Os filhos de Bolsonaro se interessam pela
política e parecem ter o apoio do pai. E você como pai, vai seguir o discurso
do presidente Bolsonaro ou o exemplo do pai Bolsonaro quanto ao interesse e à
participação de seus filhos na política? Quer para seus filhos um papel
submisso na sociedade ou de cidadãos ativos? Concluo trazendo Arnold Toynbee
quando afirmou: “o maior castigo para aqueles que não se interessam por
política é que serão governados por aqueles que se interessam!
FONTES:
1. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/educacao/queremos-uma-garotada-que-nao-se-interesse-por-politica-diz-bolsonaro/
- acesso em 23 de abril de 2019.
2. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=OlKPivmWHWk
– acesso em 23 de abril de 2019.
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