Observei neste ano que os
carros 0 km não são mais vistos com tanta frequência em minha cidade como em
anos anteriores. Em dezembro reapareceram em menor quantidade, mas, com um fato
significativo, não são carros populares, mas, de alto valor e que logicamente
foram adquiridos por pessoas mais aquinhoadas da sociedade. Lembrei que uma
amiga foi a uma concessionária de outro município onde adquiriu um automóvel
usado e ao notar que a loja comercializava veículos novos de alto luxo perguntou
sobre a crise, e o proprietário respondeu que para ele não havia crise, pois,
nunca houve redução do fluxo de vendas. Faz todo sentido, no capitalismo, em
épocas de vento em popa, ninguém ganha mais dinheiro do que a burguesia, e, em
épocas de crise, é a classe trabalhadora chamada a pagar a conta. Crise, cujas
origens, comumente é a jogatina irresponsável dos grandes capitalistas nesse
cassino global em que se transformou o capitalismo atual.
Chama a atenção o silêncio dos manifestantes que se diziam
contrários à corrupção e que foram fundamentais no encorajamento do grupo que
hoje se encontra no poder e que nas palavras de Romero Jucá (PMDB) “num grande
acordo nacional, com Supremo, com tudo”, estupraram a Constituição Federal,
violentaram as mais elementares normas do Direito nacional e internacional
desrespeitando até mesmo os Direitos Humanos e lançaram o país no grupo das
nações com status de República das Bananas. Esses manifestantes não cessam de
provar a sua hipocrisia, a sua desonestidade, o seu preconceito social. Nunca
foram contra a corrupção. Sempre foram contra o PT, contra a classe
trabalhadora, contra o que chamam de “essa ralé”, “essa gente desqualificada”.
Incomodava-lhes trabalhadores comprando automóveis e ocupando as ruas. Incomodava-lhes
ver trabalhadores nos aeroportos. Incomodava à patroa, a empregada que utilizava
a mesma marca de perfume. E incomodava muito observar que os trabalhadores, já
não mais passavam fome e se davam ao luxo de escolher o emprego que melhor
remunerava. A elite brasileira nunca deixou de ser escravocrata, a Lei Áurea
não mudou a mentalidade dos capitalistas tupiniquins. Porém, a elite não é
culpada de tudo, pois, ela tem forte apoio de pessoas da classe trabalhadora,
que surrealmente formam um grande contingente de pobres de direita, dado o seu
analfabetismo político, têm amor aos grilhões, à chibata e ao pelourinho do
século XXI que atende pelo nome de Capitalismo Selvagem. São os escravos que
não podem ser libertos, pois, não são conscientes de sua condição de
escravidão.
Outro
importante papel na manutenção da sociedade injusta que temos é aquele exercido
pela pequena burguesia, que constitui verdadeira massa de manobra da grande
burguesia nacional e internacional. São os feitores de escravos modernos, fazem
a sustentação de um sistema que beneficia uma minoria de milionários e
bilionários, tal como os feitores de escravos, muitas vezes negros, eram cruéis
com sua própria gente, e se sentiam importantes, melhores do que os escravizados.
Pensavam ter a consideração do Senhor de escravos que, no entanto, jamais o
convidava para sentar-se à mesa para jantar na Casa Grande. Assim é a pequena
burguesia, quer ser rica, como dizia Cazuza, porém, depende da classe
trabalhadora para sobreviver, precisa vender seus produtos a ela, mas, por meio
do voto ou do apoio a golpes de Estado ajuda a grande burguesia que vende para
o mercado externo, a reduzir os salários dos trabalhadores que comprarão menos
e consequentemente minguarão as vendas e os lucros no mercado interno. A pequena
burguesia é extremamente alienada e não consegue sequer perceber o papel de
massa de manobra que historicamente sempre desempenhou.
A reforma trabalhista apresentada como benéfica para a
classe trabalhadora é um embuste. A CLT e a Constituição Federal jamais negaram
aos patrões o direito de oferecer benefícios extras aos trabalhadores. A
reforma trabalhista apenas beneficia o patronato. O objetivo agora é a
inviabilização de Lula, mesmo sem provas contra ele, senão o golpe não fecha.
Vivemos um Estado de exceção, a Justiça já deu provas suficientes de seu partidarismo,
de sua parcialidade e da corrupção que lhe impregna as entranhas. As
instituições estão podres. A Grande Mídia é antidemocrática. A grande burguesia
nacional que é impatriótica deseja e está conseguindo fazer o país voltar ao
estágio de colônia das metrópoles. Desde que assumiu o poder por meio de um
golpe de Estado, Temer tem feito jantares sofisticados e oferecido cargos e
recursos financeiros para os deputados apoiarem reformas que prejudicam a
população e beneficiam banqueiros e grandes capitalistas nacionais e
estrangeiros. Qual teria sido a repercussão se Lula ou Dilma tivessem feito tais
jantares e oferecido cargos e recursos financeiros a deputados mesmo que com
outros objetivos? A Grande Mídia permaneceria calada? Os batedores de panela ficariam
calados? Afinal, Temer está no poder, por causa dos opositores à Dilma. Aos
manifestantes que bateram panela e apoiaram o golpe de Estado. Temer era para
ser sempre um vice decorativo. A culpa de Temer no poder, e da reforma
trabalhista, da reforma previdenciária e do entreguismo dos recursos naturais e
das estatais é dos opositores que contribuíram para o golpe. Mas saber isto não nos redime! Somos todos
covardes em ver o país sendo destruído e nada fazermos! O povo argentino em
manifestação contra as reformas do governo Macri, bradou: aqui não é o Brasil!
Fiquei com vergonha! Com muita vergonha!