No final da Segunda Guerra Mundial, soldados estadunidenses e soviéticos comemoravam juntos às margens do Rio Elba a vitória sobre as tropas alemãs. Não podiam imaginar que o caminho da cooperação trilhado por suas nações seria abandonado no período seguinte conhecido como Guerra Fria. Hoje se sabe que o Japão estava disposto à rendição ainda em Maio de 1945, pois, sabia que a prometida entrada da União Soviética no front asiático era sua sentença de morte. Fazia uma única exigência: a preservação do Imperador tido como um semideus na tradição japonesa ante a afirmativa estadunidense de que não poderia impor nenhuma condição. O desejo dos EUA de não mais cumprir as cessões já acordadas de áreas de influência para a União Soviética, o levam a lançar as bombas atômicas para intimidar esta, porém, Stalin por meio de seus espiões já sabia da bomba antes mesmo da explosão experimental (Trinity) no deserto de Alamogordo. Stalin mantém suas intenções por áreas de influência e acelera o programa nuclear soviético. O presidente Truman, considerado despreparado para o cargo que assumiu após a morte de Roosevelt acreditava que os soviéticos jamais conseguiriam desenvolver sua própria bomba atômica. Ele estava enganado, os EUA ficaram pouco tempo no monopólio do poder nuclear. Algo já esperado pelo físico Julius Robert Oppenheimer líder do projeto Manhattan, afinal, “não havia segredo a esconder de um país que contasse com bons físicos”.
A Guerra Fria se traduziu numa disputa por áreas de influências entre os EUA e a URSS. Nunca houve um confronto direto, pois, este se traduzira na M.A.D. (mutually assured destruction), a destruição mutuamente assegurada tendo em vista o tamanho de seus arsenais nucleares. O mundo passou a ser dividido entre países alinhados aos EUA ou à URSS. Houve também o grupo dos não alinhados que discordavam da forma de agir de ambas as superpotências. Após o soco no estômago recebido pela Revolução Cubana de 1959, os EUA não mediram mais esforços para intervir em outras nações especialmente as latino-americanas. A nação ianque preferia ditaduras a regimes socialistas em seu quintal. Várias destas nações sentiram-se envolvidas na Guerra Fria, quando golpes de Estado patrocinados, estimulados ou até orquestrados por Washington foram postos em prática. Malas de dólares foram dadas para generais corruptos do Exército Brasileiro. O Brasil recebeu em seu litoral uma frota estadunidense inteira inclusive com porta-aviões para apoiar o golpe caso o Exército não conseguisse dar conta do recado. Os EUA treinaram militares brasileiros na prática de métodos de interrogatórios (tortura) na chamada Escola das Américas. O Brasil repassou seus ensinamentos aos países vizinhos que implantaram ditaduras com o aval e assistência técnica e financeira dos EUA (justamente o país que se declara o maior defensor da democracia no mundo). Sobre isto o presidente João Goulart deposto em 1964 disse: “Os EUA falam muito em democracia, mas, deveriam permiti-la”.
Em 1965, um ano após o golpe, empresas estrangeiras, principalmente estadunidenses, começaram a desfrutar dos benefícios da troca do governo democrata e patriota de João Goulart pela entrada de um governo autocrata e dócil a Washington. O caminho para os recursos naturais e o mercado brasileiro estava agora plenamente acessível. Veio o famigerado AI-5, o fim das garantias individuais, as prisões ilegais, as torturas, os assassinatos, a censura, etc. E até hoje, se busca ocultar o que ocorreu naquele período (1964-1985), mas, que parafraseando Kiernan ao falar do Haiti, compreende também o Brasil: “há um excesso de cadáveres no armário. Também, é claro, quanto mais tirânico e impopular um ditador, mais ele está ligado por lealdade a Washington”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário