O professor escocês Victor Gordon Kiernan (1913-2009) foi dono de uma mente iluminada, cujo conhecimento, mesmo após sua partida desse plano, continua a trazer luzes sobre as sombras da ignorância, que despudoradamente já não mais se escondem. Nestes tempos em que segundo Umberto Eco “a Internet e as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis”, pessoas não afeitas ao hábito da leitura e da reflexão se julgam donas de um saber que de fato não possuem, pois, ao se utilizarem do mero senso comum, de forma pretensiosa e arrogante, reduzem à mera opinião pessoal, todo o conhecimento científico exaustivamente produzido por intelectuais da área das humanidades. Tal fato confirma a constatação do saudoso geógrafo Milton Santos quando afirmou: “é muito difícil ser intelectual no Brasil. As pessoas não gostam de ouvir”. Sabemos que a neutralidade científica inexiste, e, que todo posicionamento é político, e, portanto, ideológico, principalmente aquele que se diz neutro, pois ao se esconder por trás de uma impossível neutralidade, visa ocultar suas reais intenções para dela tirar proveito ou em benefício de outrem (pessoa, grupo ou classe social), no que desvela o caráter conservador e dissimulado. O intelectual é chamado a fazer a opção entre desenvolver ciência com viés inclusivo ou exclusivo, mas, isto jamais pode ser considerado mera opinião pessoal (senso comum).
A obra: “Estados Unidos, o novo imperialismo: da colonização branca à hegemonia mundial”, mostra o caminho trilhado pelos Estados Unidos da América desde quando o navio Mayflower trouxe a primeira leva de imigrantes a se estabelecer nas terras que mais tarde formariam o país. Nos primórdios da nação ianque foram estabelecidas as treze colônias da Nova Inglaterra, as quais se encontram representadas nas faixas da atual bandeira (sete vermelhas e seis brancas). A declaração de independência em IV de julho de 1776 teve como resposta da Inglaterra, uma guerra que durou até 1783. Reconhecida a independência pela Inglaterra, o Irmão Jonatas (como os ingleses chamavam os EUA quando ainda podiam considerá-lo um irmão caçula e não um pai de família) se lançou numa conquista territorial que se fez com cessões por parte do primo John Bull (como os estadunidenses chamam a Inglaterra) e da Espanha, aquisições territoriais junto à França e à Rússia, e de muito sangue derramado dos habitantes nativos peles-vermelhas, sobre os quais um cultuado herói estadunidense chegou absurdamente a afirmar: “índio bom é índio morto”. Os indígenas que se recusaram a vender suas terras pelas ninharias determinadas pelas companhias colonizadoras, ou mudar-se para as reservas criadas em locais diversos ao solo sagrado de seus ancestrais, foram vítimas de massacres levados a cabo pelo próprio exército nacional. O México foi a principal nação prejudicada, pois, perdeu grande parte de suas terras (se de onde estamos, os EUA já incomodam, imagine sendo seus vizinhos). As pretensões da nação ianque não foram plenamente atingidas, pois, elas abarcavam a totalidade do território mexicano e a ilha de Cuba, isto sem falar em inúmeras ilhas do Oceano Pacífico.
Em 1860, o presidente Abraham Lincoln iniciou seu mandato e logo em seguida ocorreu a deflagração da Guerra Civil ou de Secessão. O sul escravocrata sob a bandeira dos Estados Confederados da América pretendia separar-se do restante do país, dentre outras razões, e principalmente, para continuar a escravizar a população negra introduzida à força no território. Abraham Lincoln, em meio ao esforço de guerra, se reelege em 1864, as tropas da União vencem a guerra, e logo no início de seu segundo mandato (1865), Lincoln é assassinado por um ator defensor da causa sulista, enquanto assistia a uma peça no Teatro Ford. Mesmo após sua formação territorial, os EUA ainda agiam como sendo o Irmão Jonatas. Embora sua estatura houvesse aumentado enormemente, como adolescente não sabia ainda como se portar no palco das nações. Titubeava entre ser um país solidário com as demais nações cujo grau de desenvolvimento lhe era inferior, ou fazer como seu primo John Bull (Inglaterra) e lançar-se ao mar para fazer guerras contra povos considerados atrasados e pilhar suas riquezas. Os EUA não demorariam muito a optar pela segunda opção. Inicialmente, capitalistas ianques foram adquirindo terras e empresas na América Central, aproveitando-se das elites corruptas e entreguistas destes países, e com o auxílio governamental estadunidense na manutenção destas no poder. O caráter das elites latino-americanas é definido da seguinte forma pelo Padre Combrin citado por Kiernan: “as elites da América Latina são as mais alienadas do mundo, são cheias de pesar por não terem nascido européias ou norte-americanas”.
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