Em 15 de Novembro de 1989, o país comemorava o centenário da Proclamação da República, embora isto significasse muito pouco para um povo acostumado a não participar dos momentos decisivos da história nacional, geralmente tramados e executados pela elite. Acertadamente Lima Barreto afirmou: “o Brasil não tem um povo, mas um público. Povo luta por seus direitos e público apenas assiste de camarote”. Por ocasião da Proclamação da República tivemos algo que é rotineiro no Brasil: um golpe de Estado que visava atender os interesses da elite, e como é costume, o povo brasileiro se mostrou indiferente. Somos um país de tradição autocrática, os golpes de Estado se sucedem periodicamente após breves hiatos democráticos. Talvez por isso, que mesmo entre os trabalhadores é comum observar pessoas que pedem a volta de regimes ditatoriais. Em nosso país, a cultura democrática não está amadurecida. De um lado temos uma elite parasita que desde os primórdios da história da pátria suga os recursos públicos para fazer a manutenção dos injustos privilégios que desfruta à custa de milhões que não têm o mínimo para viver com dignidade. De outro, temos um povo com baixa instrução e reduzidíssima consciência política e de classe que contribui para a sustentação da parcela que os explora.
Quando a Itália concluiu seu processo de unificação, o político Massimo D’Azeglio disse: “fizemos a Itália, precisamos agora fazer os italianos”. Massimo sabia que não se faz um país apenas com o território. É necessário um povo com sentimento de pertença ao território e ao sonho conjunto de nele construir uma grande nação. A Itália unificou seu território e foi bem sucedida na criação do povo italiano. Talvez devêssemos entrar em contato com historiadores e cientistas políticos italianos solicitando ajuda sobre como criar no Brasil, o povo brasileiro. Um povo com sentimento de pertença a este chão, e que seja comprometido em fazer deste rico território, aquilo que por natureza lhe está inevitavelmente reservado, ser uma grande nação, não apenas em tamanho de território. Afinal, ser uma potência é a vocação natural do Brasil. Se ainda não é, isto se deve às sabotagens de uma elite mesquinha, egocêntrica, cruel e com mente colonizada que prefere fazer o papel de feitor de escravos de seu povo em troca de benefícios espúrios a serviço dos senhores de escravos do grande capital nacional e estrangeiro.
Neste momento obscuro pelo qual passa o país do “futuro”, que teima em nunca chegar e diante da crise moral em que se encontra, a falta de um grande líder político é muito sentida por todos aqueles que ainda têm em seus espíritos uma chama de patriotismo acesa. E esse líder é o saudoso Leonel de Moura Brizola (1922-2004). Brizola dedicou sua vida às grandes causas nacionais. Era acima de tudo um patriota. Orador eloquente, sua fala não passava despercebida, emocionava as pessoas que compartilhavam de seus ideais e irritava profundamente seus adversários. Escrevia tão bem quanto falava. A grande mídia lhe recusava espaço para divulgar seus pronunciamentos sempre de forte conteúdo, por isso, com recursos próprios e de seus companheiros comprava espaços na mídia para publicar seus artigos conhecidos como “tijolaços”. O grupo Globo lhe fazia oposição e buscava a todo custo prejudicar a sua imagem e campanhas políticas. Brizola, porém, nunca se curvou. Afirmava que não era caro o preço a se pagar para manter a dignidade e o caráter intactos. Vários de seus artigos foram direcionados em tom de resposta ao grupo Globo, e outros em forma de denúncias acerca de favorecimentos concedidos por governos e empresas estatais às empresas do referido grupo. Considerava o império midiático de Roberto Marinho (1904-2003) uma ameaça à população brasileira e à democracia nacional. Em certa oportunidade entrou para a história do jornalismo nacional ao ganhar na justiça um direito de resposta em horário nobre, mais especificamente durante o Jornal Nacional. O direito de resposta em questão foi lido pelo próprio apresentador âncora do JN Cid Moreira. Uma dura resposta à Globo e a Roberto Marinho, o que causou o êxtase da parcela mais esclarecida da sociedade.
No dia 15 de Novembro de 1989, este escriba, então um jovem, depositava seu primeiro voto numa urna, e este foi em Leonel Brizola. Políticos como Brizola fazem muita falta neste momento sombrio pelo qual passa o país em que valores como o patriotismo e a decência na ocupação de cargo eletivo viraram tema de ficção, pois, a julgar por suas atitudes, grande parcela dos representantes eleitos zombam da sociedade. É importante que se diga que Brizola não se acomodaria ante o estado de coisas ocorridas após junho de 2013, quando milhões de manifestantes que se diziam insatisfeitos com a corrupção foram transformados em massa de manobra (devido o seu elevado grau de analfabetismo político), desestabilizando um governo democraticamente eleito e oportunizando a condução (via golpe) ao Poder de um grupo político que representa o suprassumo da corrupção nacional e que está destruindo qualquer possibilidade de desenvolvimento soberano do Brasil. O “público” brasileiro segue assistindo a destruição do país, a entrega de seus ricos recursos naturais ao capital estrangeiro e o desmonte da tímida tentativa de criação de um Estado de Bem-Estar Social. Rosa Luxemburgo disse: “Quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem”. Apáticos como são, os brasileiros sentem-se confortáveis presos aos grilhões da TV Globo, e não enxergam em suas miseráveis existências, a senzala da vida real!
Sugestão de boa leitura:
Tijolaços – Leonel Brizola – Ed. Galpão de idéias Leonel Brizola. 2017.
Sugestão de boa leitura:
Tijolaços – Leonel Brizola – Ed. Galpão de idéias Leonel Brizola. 2017.
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