sexta-feira, 3 de janeiro de 2014
O contraponto necessário
Há algum tempo atrás enquanto discorria sobre as classes socioeconômicas e o seu percentual de apropriação da riqueza nacional, um aluno perguntou a qual classe social eu pertencia, respondi-lhe: “à classe trabalhadora”, e, este então afirmou que eu não havia entendido e expliquei-lhe que entendi sim, pois, embora minha faixa de rendimentos me inclua na classe média, esta não me representa, pois, segundo Marx, no capitalismo a sociedade é dividida em duas classes, proletários (a ampla maioria) e os capitalistas (a minoria detentora dos meios de produção e aqueles que exploram a mais-valia de seus trabalhadores). Expliquei que grande parte da classe média é composta de trabalhadores e de uma pequena burguesia que alienada defende com unhas e dentes o capitalismo que a explora na ilusão de um dia estar no topo da pirâmide social. O sinal tocou e não tive tempo de aprofundar o tema o qual acabei não retomando na aula seguinte.
Neste momento em que escrevo, lembro-me da música “Burguesia” de Cazuza em que ele afirmava: [...] A burguesia fede/ A burguesia quer ficar rica/ Enquanto houver burguesia/ Não vai haver poesia/ A burguesia não repara na dor/ Da vendedora de chicletes/ A burguesia só olha pra si/ A burguesia só olha pra si /A burguesia é a direita, é a guerra [...]. No entanto, Cazuza também afirmava na letra que também havia o bom burguês que tinha interesse em construir um país, então, não se trata de satanizar a classe média, até porque a luta de todo governo popular é fazer com que mais e mais pessoas ascendam a esta classe social e isto tem sido feito com grande êxito nas gestões Lula/Dilma. Ocorre que boa parte da classe média é alienada e absorve os assim chamados “discursos chiclete” da alta burguesia e defende as bandeiras que acabam por beneficiar esta última. Não interessa à alta burguesia um Estado de Bem-Estar Social no estilo escandinavo por seu custo na forma de impostos, pois, não precisa de escola pública, hospitais públicos, etc., e defende a redução drástica dos impostos para acumular mais riqueza, tal modelo poderia interessar e muito à classe média, porém, esta se espelha na alta burguesia tentando ser o que não é, e, vive a dor de cabeça de ao final do mês ver suas contas fechar no vermelho, então, pensa no alívio que seria pagar menos impostos e sobrar algum tostão para pagar a dívida do cartão, quando deveria estar atuando ativamente em bloco com toda a classe trabalhadora lutando por impostos progressivos (onde os mais ricos pagam mais (sim, classe média você não está no topo da hierarquia social!) e combater os impostos regressivos praticados em nosso país que penalizam os que auferem menores rendimentos, pois, incidem sobre os produtos de consumo básico, ou seja, cobra-se no consumo o mesmo imposto de quem ganha salário mínimo e de quem ganha um milhão por mês. A classe média também deveria estar atuando fortemente na cobrança de investimentos públicos e exigindo qualidade na escola pública, nos serviços públicos de saúde e de segurança, etc..
Encontro pessoas que ouvem decepcionadas quando afirmo que somente através do socialismo alcançaremos a justiça social, pois, o capitalismo se alimenta da desigualdade social, mesmo assim, não raras vezes, alguns desses meus interlocutores afirmam orgulhosos serem capitalistas e apesar da minha “constatação muda” de serem na verdade trabalhadores alienados ou pequenos burgueses para os quais cabe bem a frase de Aldous Huxley: "A ditadura perfeita terá as aparências da democracia, uma prisão sem muros na qual os prisioneiros não sonharão sequer com a fuga. Um sistema de escravatura onde, graças ao consumo e ao divertimento, os escravos terão amor à sua escravidão”. O marxismo é a única ferramenta para impedir a barbárie advinda do fim do sonho de uma sociedade menos injusta e coerente com os direitos humanos para toda a população, dessa forma, ser socialista hoje é não pactuar com a opressão patronal, econômica e midiática que transforma seres humanos em seres embrutecidos por uma vida de muito trabalho por não mais que a mera sobrevivência. Ser socialista é estudar as estratégias do inimigo para resistir mesmo sob fogo cerrado impondo ao Estado a pauta da esquerda, ou seja, do povo. Nunca Marx foi tão essencial como nessa triste época que vivemos!
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