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sábado, 9 de março de 2013

A Águia e a Galinha – Parte 2


 Leonardo Boff afirma: “a águia e a galinha convivem em nós”, afinal, somos águias transformadas em galinhas e como o meio acaba influenciando nosso comportamento, levamos uma vida no chão, por que viver “rasteiramente” é normal, e, ser “normal” em nossa sociedade é ser discreto, passar em brancas nuvens, por que quem abre as asas incomoda, e ninguém quer alguém diferente por perto. Assim, tal como a águia, precisamos fazer uma escolha: arriscarmo-nos ao vôo ou vivermos no chão e sermos sujeitos normais, alienados, massificados, cujas almas foram extorquidas pelo sistema, pois, já não vivemos, sobrevivemos, já não sonhamos, pois nos tiraram o direito de alimentar as nossas tão necessárias utopias. Tudo está contra nós, pois, até entre nós há aqueles  que não alçam vôos e preferem viver uma confortável (ou talvez nem tão confortável assim) vida de migalhas, e a nos aconselhar a fazermos o mesmo. E aí pensamos: se eles não conseguiram, quem sou eu para arriscar um vôo mais alto? E ficamos debicando o milho e aceitando a limitação da galinha! E esperamos por um “naturalista” que talvez nunca venha para dizer: Ei, você é capaz! Você pode conquistar muito mais!
            
Mas uma águia sempre será uma águia e o coração da águia não aceita viver de migalhas e se o Sol por um breve instante iluminar seus olhos e houver uma palavra de incentivo, ou mesmo que esta palavra de incentivo jamais ocorra, a consciência de ser águia impele ao alto. Lembremo-nos do doloroso processo de renovação da águia, quando por volta dos 40 anos, suas penas pesadas dificultam o vôo, as garras compridas e flexíveis não permitem fazer a captura das presas, o bico comprido e curvado a impede que se alimente, a águia tem então apenas duas opções: morrer ou voar ao alto de uma montanha, com toda a dificuldade que isto encerra neste momento delicado de sua vida, para lá arrancar o bico batendo-o contra as pedras, esperar nascer um novo bico, para então arrancar as unhas e após surgir as novas unhas, arrancar as penas e quando as novas penas surgem, fazer o vôo de renovação e viver como se fosse águia jovem por mais 30 anos. Assim, tal como a águia, precisamos renovarmo-nos e despirmo-nos de tudo aquilo que impede que levemos uma vida plena.
A quem interessa que levemos uma vida de galinhas? Certamente ao sistema, pois, uma vez  vivendo como águias, seremos mais combativos, enxergaremos melhor o que se esconde por trás da aparência, não seremos enganados tão facilmente pela classe política e/ou patronal e lutaremos por melhores condições de trabalho, pois a águia tem grande autoconfiança e prefere arriscar-se ao vôo contra a nuvem de tempestade mais escura que se lhe apresenta, pois sabe que no alto há sempre calmaria. A águia  admirada por grupos humanos de diferentes dimensões espaço-temporais é o maior exemplo para que o ser humano se liberte das correntes imaginárias que o prendem a uma vida medíocre e lute incansavelmente por uma sociedade melhor, menos injusta e que a todos proporcione a dignidade humana.
Que a águia existente em você caro(a) leitor(a) alce vôo ao céu infinito e pelo seu exemplo liberte outras águias transformadas em galinhas pelo sistema!


Sugestão de boa leitura:

BOFF, Leonardo.  A águia e a galinha: Uma metáfora da condição humana. Petrópolis/RJ: Vozes.
BOFF, Leonardo. O despertar da águia: o dia-bólico e o sim-bólico na construção da realidade. Petrópolis/RJ: Vozes.

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