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sexta-feira, 1 de março de 2013

A Águia e a Galinha – Parte 1


Leonardo Boff é na atualidade um dos maiores intelectuais do Brasil, foi Frei da Igreja Católica, da qual teve que se desligar devido o cerceamento imposto por setores conservadores do Vaticano liderados pelo então Cardeal Joseph Ratzinger (atual Papa Bento XVI) aos membros ligados à Teologia da Libertação. Em minha opinião, a Teologia da Libertação foi o que de mais lindo e inspirador aconteceu na referida Igreja, pois, interpretava os ensinamentos de Jesus Cristo em termos de uma libertação das injustas condições econômicas, políticas ou sociais, dessa forma, pregava a necessidade da Igreja estar do lado dos oprimidos (trabalhadores, desempregados, pobres, sem teto, sem terra, etc.), participando ativamente da luta em prol de uma sociedade que a todos oportunizasse a dignidade humana.

No livro “A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana”, Boff narra a história criada por James Aggrey, natural de Gana, pequeno país da África Ocidental. Eis a história:

Era uma vez um camponês que foi a floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o rei/rainha de todos os pássaros. Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista: -Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia.

-De fato – disse o camponês. É águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.

- Não! Retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.

- Não, não! – insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia!

Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse: - Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não a terra, então abra suas asas e voe! A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas. O camponês comentou: - Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!

-Não – tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.

No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurrou-lhe: - Águia, já que você é uma águia, abra as suas asas e voe! Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas.

O camponês sorriu e voltou à carga: - Eu lhe havia dito, ela virou galinha!

-Não – respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar. No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas. O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe: - Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe! A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse uma nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte. Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias e ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez mais para o alto. Voou..., voou..., até confundir-se com o azul do firmamento...


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