Leonardo Boff é na
atualidade um dos maiores intelectuais do Brasil, foi Frei da Igreja Católica,
da qual teve que se desligar devido o cerceamento imposto por setores
conservadores do Vaticano liderados pelo então Cardeal Joseph Ratzinger (atual
Papa Bento XVI) aos membros ligados à Teologia da Libertação. Em minha opinião,
a Teologia da Libertação foi o que de mais lindo e inspirador aconteceu na
referida Igreja, pois, interpretava os ensinamentos de Jesus Cristo em termos
de uma libertação das injustas condições econômicas, políticas ou sociais,
dessa forma, pregava a necessidade da Igreja estar do lado dos oprimidos
(trabalhadores, desempregados, pobres, sem teto, sem terra, etc.), participando
ativamente da luta em prol de uma sociedade que a todos oportunizasse a
dignidade humana.
No livro “A
águia e a galinha: uma metáfora da condição humana”, Boff narra a história
criada por James Aggrey, natural de Gana, pequeno país da África Ocidental. Eis
a história:
Era uma vez um
camponês que foi a floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo em sua
casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as
galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o
rei/rainha de todos os pássaros. Depois de cinco anos, este homem recebeu em
sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o
naturalista: -Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia.
-De fato –
disse o camponês. É águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais uma
águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três
metros de extensão.
- Não! Retrucou
o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia.
Este coração a fará um dia voar às alturas.
- Não, não! –
insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia!
Então decidiram
fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a
disse: - Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não a
terra, então abra suas asas e voe! A águia pousou sobre o braço estendido do
naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo,
ciscando grãos. E pulou para junto delas. O camponês comentou: - Eu lhe disse,
ela virou uma simples galinha!
-Não – tornou a
insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia.
Vamos experimentar novamente amanhã.
No dia
seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurrou-lhe: -
Águia, já que você é uma águia, abra as suas asas e voe! Mas quando a águia viu
lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas.
O camponês
sorriu e voltou à carga: - Eu lhe havia dito, ela virou galinha!
-Não –
respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de
águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar. No dia
seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia,
levaram para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma
montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas. O naturalista ergueu a
águia para o alto e ordenou-lhe: - Águia, já que você é uma águia, já que você
pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe! A águia olhou ao redor.
Tremia como se experimentasse uma nova vida. Mas não voou. Então o naturalista
segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem
encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte. Nesse momento, ela
abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias e ergueu-se,
soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez
mais para o alto. Voou..., voou..., até confundir-se com o azul do
firmamento...
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