Este humilde escriba e inveterado leitor, não considera
bom um ano cujo menu literário a ser degustado, esteja desprovido de pelo menos
um exemplar da safra de Zweig. No ano passado, nos esbaldamos, foram cinco
livros. Doravante, para não esgotar rapidamente a fonte, pretendo ir com mais
calma.
Aos
assíduos leitores desse espaço, não é necessário apresentar Stefan Zweig
(1881-1942), porém, o faço, em respeito aos leitores que porventura possam
estar em contato inicial com esta coluna. "Stefan Zweig foi um escritor,
romancista, poeta, dramaturgo, jornalista e biógrafo austríaco de origem
judaica. A partir da década de 1920 e até sua morte foi um dos escritores mais
famosos, traduzidos e publicados do mundo" (Wikipédia).
Stefan
Zweig nasceu em Viena (Áustria) numa família abastada de origem judaica. Seu
pai era industrial e que segundo o autor teria vivido a melhor época para se
viver, pois era um tempo de paz, de avanços científicos e de progresso material
do país e de seus habitantes. Zweig, por sua vez, não teve a mesma sorte, pois
foi uma testemunha ocular da história nacional e mundial, pois presenciou a
virada de século, a Primeira Guerra Mundial, o período da reconstrução e
ascensão do nazifascismo e o início da Segunda Guerra Mundial.
No
livro, o autor escreve sua própria biografia, na qual considera que mais
importante do que ele, são as pessoas brilhantes que conheceu e os fatos
históricos que testemunhou. É realmente impressionante a lista de celebridades
da música, Richard Strauss (dentre outros), artistas como Auguste Rodin (dentre
outros) e da literatura, Thomas Mann, Joseph Roth, James Joyce, Sigmund Freud
(dentre outros).
O
autor discorre sobre os tempos em que se podia viajar pelo mundo sem vistos no
passaporte e também de uma Paris cosmopolita que a todos acolhia. Zweig nasceu
e viveu sua adolescência e juventude na Áustria, um país que não valorizava o
materialismo, mas a cultura, a música, o teatro, a arte.
O
jovem Stefan Zweig cursou as melhores escolas particulares, das quais não tem
boas lembranças, pois foi nelas que aprendeu a odiar o autoritarismo. Nelas os
jovens estudantes não eram vistos como seres em formação, e sim como indivíduos
que deveriam buscar a excelência sempre.
Zweig,
quando jovem, decidiu fazer um curso universitário fácil, pois os tempos
escolares não lhe ofertaram o prazer pelos estudos. Cursou filosofia, apesar de
já ter descoberto em si, o prazer pela escrita, inicialmente pela poesia.
Stefan
tinha como hobby predileto o xadrez e, também o hábito de colecionar
manuscritos e objetos de escritores e artistas famosos, inclusive participando
de leilões para sua aquisição. Coleção que teve que se desfazer e até mesmo doar,
pois na condição de judeu, teve que peregrinar pelo mundo para escapar das
garras do nazismo.
O
autor sempre teve grande humildade e se espantava com o sucesso de suas obras,
não julgava ser merecedor de tanto reconhecimento. Cosmopolita, adorava viajar
pela Europa, inicialmente, a lazer ou para uma imersão cultural. Gostava,
apesar de seu poder financeiro, de ficar hospedado em bairros populares, pois
considerava que lá é que a vida de verdade acontecia. Com a carreira de
literato consolidada, passou a viajar pelo mundo, promovendo palestras e o
lançamento de seus livros em diferentes países.
No
livro, Stefan relata como percebeu os ventos das mudanças na Áustria e na
Europa e, de que começou a se preocupar com o desenrolar dos fatos históricos
(hoje conhecidos) enquanto muitos ainda mantinham a calma. Buscou alertar
conhecidos seus, que pareciam crer que estava exagerando, pois julgavam estar
do lado seguro da fronteira, numa Áustria cosmopolita e que acolhia bem os
judeus.
Zweig
morava na pequena Salzburg, cidade de fronteira com a Alemanha, separada por um
pequeno rio, de onde ficava sabendo os horrores da ascensão do nazismo naquele
país. Livros começaram a ser queimados pelo nazismo, os seus estavam entre os
proscritos. Na Itália, há algum tempo, o fascismo fizera o mesmo.
Como
dissemos, na condição de judeu, alertou os demais e seguiu rumo ao exílio,
mudando de país sempre que o perigo nazista se aproximava. Esteve na
Inglaterra, foi aos Estados Unidos, mas, se apaixonou pelo Brasil e sua gente.
Escreveu
a obra "Brasil: país do futuro" no qual tecia elogios, que
sinceramente, nunca merecemos, em tempos atuais, menos ainda, com a ascensão da
mesma ideologia de extrema-direita da Alemanha, inclusive com um grupo político
se apropriando do lema nazista "Alemanha acima de tudo, Deus acima de
todos".
Stefan
Zweig, escolheu a região serrana de Petrópolis para residir, e nela recebia informações
sobre a destruição da Europa, juntamente com as notícias de parentes e amigos,
mortos pelo regime nazista. Zweig, amava o velho continente e sonhava com uma
Europa unida, muito antes de alguém sugerir a formação de qualquer coisa
parecida com a União Europeia.
Sem conseguir se adaptar ao novo mundo que
surgia e, no qual ninguém conseguia parar os exércitos nazistas, Zweig e sua
companheira, suicidaram-se (1942) com doses letais de barbitúricos, logo após o
envio (para seus editores) da obra aqui resenhada para publicação. A casa onde
viveu e morreu, é hoje um museu em sua homenagem.
Sugestão
de boa leitura:
Título: Autobiografia:
O mundo de ontem - memórias de um europeu.
Autor:
Stefan Zweig.
Editora: Zahar,
2014, 400p.
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