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sábado, 19 de julho de 2025

Autobiografia: o mundo de ontem - Stefan Zweig

 

Este humilde escriba e inveterado leitor, não considera bom um ano cujo menu literário a ser degustado, esteja desprovido de pelo menos um exemplar da safra de Zweig. No ano passado, nos esbaldamos, foram cinco livros. Doravante, para não esgotar rapidamente a fonte, pretendo ir com mais calma.

            Aos assíduos leitores desse espaço, não é necessário apresentar Stefan Zweig (1881-1942), porém, o faço, em respeito aos leitores que porventura possam estar em contato inicial com esta coluna. "Stefan Zweig foi um escritor, romancista, poeta, dramaturgo, jornalista e biógrafo austríaco de origem judaica. A partir da década de 1920 e até sua morte foi um dos escritores mais famosos, traduzidos e publicados do mundo" (Wikipédia).

            Stefan Zweig nasceu em Viena (Áustria) numa família abastada de origem judaica. Seu pai era industrial e que segundo o autor teria vivido a melhor época para se viver, pois era um tempo de paz, de avanços científicos e de progresso material do país e de seus habitantes. Zweig, por sua vez, não teve a mesma sorte, pois foi uma testemunha ocular da história nacional e mundial, pois presenciou a virada de século, a Primeira Guerra Mundial, o período da reconstrução e ascensão do nazifascismo e o início da Segunda Guerra Mundial.

            No livro, o autor escreve sua própria biografia, na qual considera que mais importante do que ele, são as pessoas brilhantes que conheceu e os fatos históricos que testemunhou. É realmente impressionante a lista de celebridades da música, Richard Strauss (dentre outros), artistas como Auguste Rodin (dentre outros) e da literatura, Thomas Mann, Joseph Roth, James Joyce, Sigmund Freud (dentre outros).

            O autor discorre sobre os tempos em que se podia viajar pelo mundo sem vistos no passaporte e também de uma Paris cosmopolita que a todos acolhia. Zweig nasceu e viveu sua adolescência e juventude na Áustria, um país que não valorizava o materialismo, mas a cultura, a música, o teatro, a arte.

            O jovem Stefan Zweig cursou as melhores escolas particulares, das quais não tem boas lembranças, pois foi nelas que aprendeu a odiar o autoritarismo. Nelas os jovens estudantes não eram vistos como seres em formação, e sim como indivíduos que deveriam buscar a excelência sempre.

            Zweig, quando jovem, decidiu fazer um curso universitário fácil, pois os tempos escolares não lhe ofertaram o prazer pelos estudos. Cursou filosofia, apesar de já ter descoberto em si, o prazer pela escrita, inicialmente pela poesia.

            Stefan tinha como hobby predileto o xadrez e, também o hábito de colecionar manuscritos e objetos de escritores e artistas famosos, inclusive participando de leilões para sua aquisição. Coleção que teve que se desfazer e até mesmo doar, pois na condição de judeu, teve que peregrinar pelo mundo para escapar das garras do nazismo.

            O autor sempre teve grande humildade e se espantava com o sucesso de suas obras, não julgava ser merecedor de tanto reconhecimento. Cosmopolita, adorava viajar pela Europa, inicialmente, a lazer ou para uma imersão cultural. Gostava, apesar de seu poder financeiro, de ficar hospedado em bairros populares, pois considerava que lá é que a vida de verdade acontecia. Com a carreira de literato consolidada, passou a viajar pelo mundo, promovendo palestras e o lançamento de seus livros em diferentes países.

            No livro, Stefan relata como percebeu os ventos das mudanças na Áustria e na Europa e, de que começou a se preocupar com o desenrolar dos fatos históricos (hoje conhecidos) enquanto muitos ainda mantinham a calma. Buscou alertar conhecidos seus, que pareciam crer que estava exagerando, pois julgavam estar do lado seguro da fronteira, numa Áustria cosmopolita e que acolhia bem os judeus.

            Zweig morava na pequena Salzburg, cidade de fronteira com a Alemanha, separada por um pequeno rio, de onde ficava sabendo os horrores da ascensão do nazismo naquele país. Livros começaram a ser queimados pelo nazismo, os seus estavam entre os proscritos. Na Itália, há algum tempo, o fascismo fizera o mesmo.

            Como dissemos, na condição de judeu, alertou os demais e seguiu rumo ao exílio, mudando de país sempre que o perigo nazista se aproximava. Esteve na Inglaterra, foi aos Estados Unidos, mas, se apaixonou pelo Brasil e sua gente.

            Escreveu a obra "Brasil: país do futuro" no qual tecia elogios, que sinceramente, nunca merecemos, em tempos atuais, menos ainda, com a ascensão da mesma ideologia de extrema-direita da Alemanha, inclusive com um grupo político se apropriando do lema nazista "Alemanha acima de tudo, Deus acima de todos".

            Stefan Zweig, escolheu a região serrana de Petrópolis para residir, e nela recebia informações sobre a destruição da Europa, juntamente com as notícias de parentes e amigos, mortos pelo regime nazista. Zweig, amava o velho continente e sonhava com uma Europa unida, muito antes de alguém sugerir a formação de qualquer coisa parecida com a União Europeia.

             Sem conseguir se adaptar ao novo mundo que surgia e, no qual ninguém conseguia parar os exércitos nazistas, Zweig e sua companheira, suicidaram-se (1942) com doses letais de barbitúricos, logo após o envio (para seus editores) da obra aqui resenhada para publicação. A casa onde viveu e morreu, é hoje um museu em sua homenagem.

 

Sugestão de boa leitura:

Título: Autobiografia: O mundo de ontem - memórias de um europeu.

Autor: Stefan Zweig.

Editora: Zahar, 2014, 400p.

 

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