São muitas as ocasiões em
que temos que explicar o significado de termos e palavras que não são de uso
cotidiano dos estudantes. Não raras vezes, eles nos pedem que fale a
"língua deles". Explico-lhes que na qualidade de estudantes, eles
precisam aumentar seu vocabulário e o professor não estaria auxiliando falando
a "língua deles". Sobre isso tenho a impressão que nosso vocabulário
empobreceu, pois leio obras clássicas de literatura nacional e observo que uma
grande quantidade de palavras não são mais de uso corriqueiro.
Há alguns dias, ao tratar de sistemas socioeconômicos,
perguntei-lhes sobre qual era sua utopia. Os estudantes me responderam não a
ter. Disse-lhes que uma vida vivida sem acalentar uma utopia era uma vida que
não vale a pena ser vivida. Um estudante tomou coragem e perguntou "o que
é uma utopia"? Expliquei-lhes que utopia, do grego "u+topos"
significa um lugar que não existe. Disse que o termo é utilizado para designar
um sonho, uma ilusão, um desejo que dificilmente se realizará.
Perguntei a cada um sua utopia e dentre as citadas
estavam: ser ator/atriz de cinema; ser jogador da seleção brasileira; ser
milionário; ser modelo famosa, etc. Após todos falarem, pretendia revelar a
minha utopia: um mundo sem guerras; sem qualquer tipo de violência; sem
discriminação de qualquer tipo; sem moradores de rua; sem pobreza; sem trabalho
infantil, enfim, como nas palavras do magnífico Papa Francisco, "um mundo
onde todos tenham terra, pão e trabalho". Perguntei ao final, qual a
utopia mais bonita? Qual a mais necessária? Qual a mais difícil de se realizar?
Os estudantes chegaram à conclusão que todos pensaram em
si próprios e não no bem de toda a sociedade. Um estudante argumentou que se
cada um não pensasse em si próprio, quem pensaria? Respondi-lhe que não
precisamos ser felizes sozinhos e que todos seriam mais felizes em comunhão.
Após esta aula, entrei em outra classe, e tudo seguia o mesmo script, porém, a
penúltima estudante a falar, disse que sua utopia era ter seu falecido pai de
volta e a última, afirmou que sua utopia era que sua irmãzinha ficasse curada
de uma síndrome rara que lhe impedia de andar. Inevitavelmente, fiquei com um
nó na garganta e aprendi que uma utopia de caráter pessoal pode ser tão linda e
preciosa quanto uma utopia coletiva.
O saudoso jornalista e escritor Eduardo Galeano
(1940-2015) professou: "A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois
passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez
passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia?
Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar".
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