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sábado, 22 de março de 2025

Qual é a sua utopia?

 

            São muitas as ocasiões em que temos que explicar o significado de termos e palavras que não são de uso cotidiano dos estudantes. Não raras vezes, eles nos pedem que fale a "língua deles". Explico-lhes que na qualidade de estudantes, eles precisam aumentar seu vocabulário e o professor não estaria auxiliando falando a "língua deles". Sobre isso tenho a impressão que nosso vocabulário empobreceu, pois leio obras clássicas de literatura nacional e observo que uma grande quantidade de palavras não são mais de uso corriqueiro.

            Há alguns dias, ao tratar de sistemas socioeconômicos, perguntei-lhes sobre qual era sua utopia. Os estudantes me responderam não a ter. Disse-lhes que uma vida vivida sem acalentar uma utopia era uma vida que não vale a pena ser vivida. Um estudante tomou coragem e perguntou "o que é uma utopia"? Expliquei-lhes que utopia, do grego "u+topos" significa um lugar que não existe. Disse que o termo é utilizado para designar um sonho, uma ilusão, um desejo que dificilmente se realizará.

            Perguntei a cada um sua utopia e dentre as citadas estavam: ser ator/atriz de cinema; ser jogador da seleção brasileira; ser milionário; ser modelo famosa, etc. Após todos falarem, pretendia revelar a minha utopia: um mundo sem guerras; sem qualquer tipo de violência; sem discriminação de qualquer tipo; sem moradores de rua; sem pobreza; sem trabalho infantil, enfim, como nas palavras do magnífico Papa Francisco, "um mundo onde todos tenham terra, pão e trabalho". Perguntei ao final, qual a utopia mais bonita? Qual a mais necessária? Qual a mais difícil de se realizar?

            Os estudantes chegaram à conclusão que todos pensaram em si próprios e não no bem de toda a sociedade. Um estudante argumentou que se cada um não pensasse em si próprio, quem pensaria? Respondi-lhe que não precisamos ser felizes sozinhos e que todos seriam mais felizes em comunhão. Após esta aula, entrei em outra classe, e tudo seguia o mesmo script, porém, a penúltima estudante a falar, disse que sua utopia era ter seu falecido pai de volta e a última, afirmou que sua utopia era que sua irmãzinha ficasse curada de uma síndrome rara que lhe impedia de andar. Inevitavelmente, fiquei com um nó na garganta e aprendi que uma utopia de caráter pessoal pode ser tão linda e preciosa quanto uma utopia coletiva.

            O saudoso jornalista e escritor Eduardo Galeano (1940-2015) professou: "A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar".

 

 

 

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