Em meus primeiros anos no
ofício do magistério, não gostava de feriados, pois eles atrapalhavam o
andamento do conteúdo. Naquele tempo, na sala de professores, também não gostava das conversas de
professores veteranos cujo tema era invariavelmente o tempo que lhes faltava
para a aposentadoria. Costumava me questionar sobre como podiam agir assim,
afinal era tão prazeroso trabalhar o conhecimento científico. Hoje eu sou o
professor que conta o tempo (longo) restante para a aposentadoria e, faço aqui
um mea culpa. Peço desculpas aos
educadores da geração anterior, pois agora lhes entendo.
Li certa vez, que os estudantes perdem o brilho dos olhos
ao longo do período escolar, acrescento: também os professores, ao longo da
carreira, dadas as precárias condições de trabalho ofertadas. Eu fui um jovem e
idealista professor e, realmente acreditava que poderia auxiliar na formação de
jovens tornando-os aptos a contribuir na construção de uma sociedade melhor.
Ledo engano, nós professores, não conseguimos sequer fazê-los estudar, fazer a
tarefa de casa, prestar atenção nas explicações, refletir, interpretar, seguir
regras de convivência no espaço escolar. Apesar disso, somos chamados de
doutrinadores. Oxalá tivéssemos tal influência sobre os educandos, pois
teríamos melhores resultados.
Li, certa vez, que
uma professora dedicou sua vida ao magistério. Amava lecionar. Usava o seu
tempo livre nos fins de semana para preparar aulas e, não via a hora de estar novamente
em classe. Como além do trabalho, não tinha vida social, não casou, não formou
família. O tempo passou. Protelou por algum tempo a aposentadoria, mas, teve
que se dobrar às cobranças da idade. Aposentada, voltou um mês depois na
escola, os estudantes não a cumprimentaram e, na sala de professores, percebeu
olhares enviesados de "o que está fazendo aqui"? Se sentiu como uma peça
de máquina desgastada, substituída e descartada.
A gente lê sobre isso. A gente vê acontecer diante dos
nossos olhos com outros professores. No entanto, a gente sempre, lá no
"fundinho da alma" espera que conosco seja diferente, mas não é. Não será. Somos
todos peças descartáveis dessa máquina de moer grandes espíritos e rebaixá-los
a maior das misérias humanas. Aquela que mata de fome, não o corpo, mas a alma.
O leitor poderá dizer, se é assim, por que não larga mão? É que nós
professores, somos todos sobreviventes, e
nos apegando à tábua de salvação restante da Nau Educação, resistimos,
mesmo sabendo que jamais chegaremos a porto seguro e, que nem seremos
resgatados nesse oceano de ingratidão.
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