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sábado, 1 de março de 2025

Desabafo de um professor

 

                Em meus primeiros anos no ofício do magistério, não gostava de feriados, pois eles atrapalhavam o andamento do conteúdo. Naquele tempo, na sala de professores,  também não gostava das conversas de professores veteranos cujo tema era invariavelmente o tempo que lhes faltava para a aposentadoria. Costumava me questionar sobre como podiam agir assim, afinal era tão prazeroso trabalhar o conhecimento científico. Hoje eu sou o professor que conta o tempo (longo) restante para a aposentadoria e, faço aqui um mea culpa. Peço desculpas aos educadores da geração anterior, pois agora lhes entendo.

            Li certa vez, que os estudantes perdem o brilho dos olhos ao longo do período escolar, acrescento: também os professores, ao longo da carreira, dadas as precárias condições de trabalho ofertadas. Eu fui um jovem e idealista professor e, realmente acreditava que poderia auxiliar na formação de jovens tornando-os aptos a contribuir na construção de uma sociedade melhor. Ledo engano, nós professores, não conseguimos sequer fazê-los estudar, fazer a tarefa de casa, prestar atenção nas explicações, refletir, interpretar, seguir regras de convivência no espaço escolar. Apesar disso, somos chamados de doutrinadores. Oxalá tivéssemos tal influência sobre os educandos, pois teríamos melhores resultados.

            Li, certa vez, que uma professora dedicou sua vida ao magistério. Amava lecionar. Usava o seu tempo livre nos fins de semana para preparar aulas e, não via a hora de estar novamente em classe. Como além do trabalho, não tinha vida social, não casou, não formou família. O tempo passou. Protelou por algum tempo a aposentadoria, mas, teve que se dobrar às cobranças da idade. Aposentada, voltou um mês depois na escola, os estudantes não a cumprimentaram e, na sala de professores, percebeu olhares enviesados de "o que está fazendo aqui"? Se sentiu como uma peça de máquina desgastada, substituída e descartada.

            A gente lê sobre isso. A gente vê acontecer diante dos nossos olhos com outros professores. No entanto, a gente sempre, lá no "fundinho da alma" espera que conosco  seja diferente, mas não é. Não será. Somos todos peças descartáveis dessa máquina de moer grandes espíritos e rebaixá-los a maior das misérias humanas. Aquela que mata de fome, não o corpo, mas a alma. O leitor poderá dizer, se é assim, por que não larga mão? É que nós professores, somos todos sobreviventes, e  nos apegando à tábua de salvação restante da Nau Educação, resistimos, mesmo sabendo que jamais chegaremos a porto seguro e, que nem seremos resgatados nesse oceano de ingratidão.

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