Na obra, Juliana destaca o
importante papel da imprensa no esclarecimento do caso. Ao longo de seu
processo investigativo, a jornalista constatou a dificuldade que é entravar uma
luta contra o "sistema" para apurar fatos e documentos. Em seu ver, o
sistema existe, mas não tem rosto, não atende por um nome específico, mas é
onipresente, está em todas as repartições. Ele atua dificultando, seja pela
morosidade de sua ação ou pela negativa de acesso a documentação ainda
existente, pois, os próprios militares deram cabo de muita documentação ao
final da ditadura militar.
Juliana constatou dois aspectos
característicos do sistema: 1. A ditadura militar e sua fábrica de mentiras
para explicar e ocultar sua culpabilidade em crimes cometidos contra os
direitos humanos e, portanto passíveis de condenação internacional, com o
intuito de resguardar a pseudo-imagem do país e do regime. 2. A constatação de
que o Estado Brasileiro mesmo após o fim da ditadura militar e da promulgação
da Constituição Federal de 1988 continuou contribuindo para a impunidade dos
criminosos militares ao dificultar, realizar chicanes interpretativas, tornando
extremamente moroso o processo de esclarecimento dos casos envolvendo
desaparecidos políticos do período ditatorial.
Juliana Dal Piva afirma ter
escolhido este caso devido a grande quantidade de documentação para ser apurada,
confirmada ou refutada e não devido ao seu status de homem branco, classe
média-alta, ex-deputado federal (cassado pelo regime militar em 1964) e
proprietário de uma grande empresa de engenharia. Rubens Paiva tinha relações
com pessoas e famílias importantes da sociedade brasileira. Ele foi preso pelos
militares em sua casa, diante da esposa e filhos e chegou ao DOI-CODI em 20 de
janeiro de 1971 e no dia seguinte estava morto (sob tortura). O motivo de sua
prisão era ser o elo entre exilados políticos no Chile e seus familiares, aos
quais entregava cartas destes. Os militares responsáveis pela sua morte
(nominados no livro) provavelmente tentaram tirar dele o que não existia, pois não
fazia parte da luta armada. A atenção nacional e internacional dispensada ao
caso por meio do filme trouxe grande constrangimento ao Estado Brasileiro e ao
STF que parece dar indicações de
destravar o referido processo judicial.
Sugestão de boa leitura:
Título:
Crime sem castigo:
como os militares mataram Rubens Paiva.
Autor:
Juliana Dal Piva.
Editora:
Matrix, 2025, 208 p.