Espetáculos de ilusionismo
consagram artistas talentosos em distrair o público. Estes são especialistas em
fazer as pessoas prestarem atenção a algo enquanto operacionalizam a “magia”
fora do campo visual destas. O estadunidense David Copperfield ficou internacionalmente
famoso por seu talento nesta arte de ludibriar o público. Em seus espetáculos,
o público paga para ser enganado e fica feliz em sê-lo. O espanto se segue aos
questionamentos de como o artista realizou a proeza sem ter sua estratégia
desmascarada. O artista não conta seus segredos. O único a fazê-lo, conhecido
como “Mister M” ganhou a antipatia de colegas de profissão, pois a atividade é
o ganha-pão de inúmeros artistas.
Iludir o povo também é uma atividade vantajosa para os
políticos vigaristas que assim agem com promessas e discursos que fogem à
realidade de suas ações políticas. A política é a arte do ilusionismo. Ao se
fazer a análise dos discursos em época de campanha, é fácil observar que
independentemente da ideologia do partido ao qual pertence o candidato, as
promessas são de mais investimentos públicos em educação, saúde, ciência,
segurança e infra-estrutura. No momento da campanha, os candidatos costumam
falar das mazelas que afligem a sociedade e da necessidade de construir um país
com oportunidades para todos e com menos injustiça social.
A direita costuma
praticar esse ilusionismo. Faz campanha com propostas à esquerda. Fala em
aumento de investimentos públicos em educação, saúde, ciência e infra-estrutura
e isso é algo que contraria a doutrina do Estado Mínimo, a pedra basilar do
neoliberalismo que defendem de forma fundamentalista. Os eleitores da direita
(exceto os que formam a elite nacional do dinheiro, o 1% mais rico) são os
espectadores que pagam para serem ludibriados. Querem que o Estado seja o
indutor do desenvolvimento sócio-econômico e, portanto, que invista em
educação, saúde, ciência e infra-estrutura. Surrealmente, colocam no poder quem
entende que tais atividades devem ser exercidas pela iniciativa privada, e,
dessa forma, no poder, tudo fazem para sabotar a educação, a saúde, a ciência,
as empresas estatais como a Petrobras, etc. Estes buscam convencer o público
(quando não dele pouco caso fazem, ao não prestar contas de suas ações) de que
o Estado é ineficiente, e que o maior benefício para a sociedade é privatizar
tudo, pois, somente a iniciativa privada é capaz de administrar de forma
competente e sem corrupção, embora a realidade desminta isso.
A política é a arte do ilusionismo. Os políticos contam
com a ajuda da Grande Mídia em seus “abracadabras” no poder. Durante décadas
observei ações deletérias ao interesse público serem omitidas, ou receberem
pouca atenção pelas grandes redes de TV enquanto estas davam destaque a jogos
de futebol, ao carnaval, etc. visando distrair o público daquilo que causaria
sua revolta. A “mágica” da política se faz nos bastidores, longe do olhar e da
atenção do povo. Para que a “mágica” se realize, é necessário distrair o olhar
do povo.
A Alemanha nazista fez isso ao ensinar o ódio aos judeus
que foram culpabilizados pelos problemas alemães. Os fascistas que deram o
golpe de 2016 no Brasil, também assim agiram ao ensinar o ódio ao PT, Lula e
Dilma culpabilizando-os pelos problemas nacionais. Na Alemanha, se utilizava
rádios e jornais para a doutrinação nazista da população. No Brasil, se utiliza
principalmente a TV, embora jornais e rádios também sejam importantes na
alienação e desinformação da população. Midiota é o termo utilizado para
designar a pessoa alienada e doutrinada pela Grande Mídia que não apenas
representa os interesses do grande capital nacional e estrangeiro como dele é
parte integrante. Dessa forma vemos no Brasil, pessoas defendendo políticos,
partidos e ações políticas contrárias aos seus próprios interesses. São os analfabetos
políticos no dizer de Brecht.
Para distrair o olhar do público, a Grande Mídia atraiu a
atenção deste para a “condenação” certa de Lula (mesmo sem a existência de
nenhuma prova concreta), pois, surpresa seria se assim não ocorresse, afinal, a
operação Lava-Jato foi do exterior encomendada e projetada para tal fim. Pouco
destaque foi dado à aprovação da reforma trabalhista que desfigura a CLT e
decreta severa fragilização e empobrecimento da classe trabalhadora. Li as
alterações na lei e digo sem medo de errar: não há nada ali que realmente
beneficie a classe trabalhadora, somente aos empresários. Até porque para
ampliar direitos trabalhistas não havia necessidade da reforma, a lei já
permitia isso, apenas estabelecia que o disposto na CLT fosse a base.
Grande parte da classe trabalhadora fustigada permanece
com o olhar desviado da área em que a ação ocorre... É preciso educar o olhar e
direcioná-lo para onde a elite do dinheiro que patrocina este triste e
lamentável espetáculo não deseja!
Série Vale a Pena Ler de
Novo! Artigo originalmente publicado em 20 de Julho de 2017.
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