A União Soviética teve a maior perda de vidas humanas de
toda a Segunda Guerra Mundial, estima-se que para cada soldado alemão morto em
combate morreram dois soldados soviéticos. A União Soviética após ter parte de
seu território ocupado por tropas alemãs que chegaram às cercanias de Moscou
retomou o fôlego e expulsou as tropas nazistas de seu território e de todo o
leste europeu, libertando inclusive os prisioneiros dos famigerados campos de
concentração até a conquista do bunker nazista em Berlim. Antes disso, Stalin
implorava para que os Estados Unidos abrisse outro front contra a Alemanha,
pois, esta concentrava a maior parte de seu arsenal contra a URSS e caso fosse
atacada em dois flancos, teria que dividir suas forças, mas, os EUA hesitavam
(o que irritava Stalin). Mais tarde, quando viram que havia a possibilidade de
a URSS sozinha dar conta da Alemanha apressaram-se em desembarcar na Normandia
com o receio de que o destino da Europa ficasse sob a influência soviética.
A escritora e jornalista bielorrussa Svetlana Aleksiévitch se insere nesse
grupo de pesquisadores que tem revisitado a história na busca de relatos que
fogem ao habitual. Ao invés de buscar as fontes oficiais de informação e os
personagens de alta graduação, ela vai ao encontro do andar de baixo para
buscar no meio do povo a história não contada da superpotência soviética.
Svetlana ganhou o Prêmio Nobel de Literatura de 2015 e entre suas principais
obras estão “Vozes de Chernobyl”, “A guerra não tem rosto de mulher” e “O fim
do homem soviético”. Este escriba, após a indicação de uma amiga virtual,
tratou de comprar e ler a obra “O fim do homem soviético”. Nesta obra Svetlana,
com seu gravador e bloco de anotações visita as cozinhas de várias residências,
pois, é nestas segundo o antigo costume soviético que se recebia as pessoas e
onde ocorriam as acaloradas discussões acerca da vida naqueles tempos.
Svetlana buscou memórias de pessoas da sociedade sobre
como elas viram a história passar diante delas. Aleksiévitch priorizou as
pessoas que viveram os tempos de Stalin, Krushev, Brejnev, Gorbatchev e
Ieltsin. Procurou deixar as pessoas à vontade, pois, queria apenas as
impressões das pessoas sobre os tempos passados e atuais. O livro é excelente e
nele há todo tipo de relato, desde mulheres lindas que se casam com homens
machistas, beberrões e violentos aos fatos envolvendo o período de grandes
transformações da superpotência soviética e seus personagens principais. Há
relatos de dificuldades na sobrevivência diária, a falta de produtos, bem como,
declarações acerca da camaradagem entre as pessoas que na visão delas com o
advento do capitalismo se extinguiu. Há depoimentos de pessoas desiludidas com
o capitalismo, pois, tinham uma esperança acerca dele que não se concretizou e
que afirmaram que os proprietários de grandes fortunas são criminosos que se
apossaram das riquezas nacionais. Há também depoimentos de pessoas que se
sentiram traídas, pois, apoiaram Gorbatchev e Ieltsin pensando que o socialismo
seria reformado e não extinto. Ler a obra de Svetlana é mergulhar na história
não contada ou que não se quer contar!
Sugestão
de boa leitura:
Título: O
fim do homem soviético
Autor:
Svetlana Aleksiévitch.
Editora:
Companhia das Letras, 2016, 600 p.
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