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sábado, 29 de junho de 2024

Vitória de Pirro - Parte 4

 

            Ratinho Júnior (PSD) foi eleito e reeleito pela sociedade paranaense, seria de se supor que sua ideologia (crenças, valores, ideias, etc.) e a de seu partido, fosse de total conhecimento desta. Não é esta a realidade. Neste mesmo espaço, publicamos o artigo "O brasileiro médio é social-democrata". A social-democracia (Estado de Bem-Estar Social) fornece a educação pública, gratuita e universal (da creche à universidade), a saúde pública gratuita e universal (SUS) e a Previdência Pública. Isso é algo combatido pelos neoliberais que consideram ser socialismo ofertar gratuitamente tais serviços públicos e, desta forma colocam-se contra a Constituição Federal que os estabelece como parte dos direitos básicos do cidadão.

            Esse Programa Parceiro da Escola, não é uma novidade, já foi adotado com outro nome, em outras terras (Estados Unidos e Europa), aliás isso é algo comum no capitalismo, quando um produto ou empresa fica com  nome manchado, basta rebatizá-lo com outra denominação. Essa estratégia é comum na indústria química (agrotóxicos, remédios, etc. ). Trata-se de um novo campo de colheita de lucros numa época em que o capital nacional e estrangeiro tem dificuldades de se reproduzir nos setores tradicionalmente ocupados. A educação é a bola da vez nestas plagas. É terra virgem a ser desbravada pelo Programa Parceiros do Lucro, digo, da Escola.

            O paranaense médio não quer/não pode pagar pela mensalidade escolar dos seus filhos. O governo, por seu turno, afirma que mesmo com a privatização das escolas públicas, os pais não pagarão, no entanto, fica uma pergunta: Se assim é, por que a base aliada do governador Ratinho Júnior rejeitou a emenda aditiva do deputado estadual Arilson Chiorato ao Projeto de Lei 345/2024 cuja intencionalidade era impedir a cobrança de mensalidades ou de qualquer contrapartida financeira dos pais/responsáveis em toda a rede pública estadual de educação do Paraná? Nos Estados Unidos, as escolas charters (escolas públicas privatizadas) começaram com o governo pagando integralmente as mensalidades, porém, contrapartidas financeiras dos pais/responsáveis passaram a ser exigidas com o passar do tempo, principalmente nas melhores escolas que foram entregues à iniciativa empresarial. Será por esse motivo?

             

 

sábado, 22 de junho de 2024

Vitória de Pirro - parte 3

 

            Qualquer pessoa que tenha um pouco de estudo e seja intelectualmente honesta, sabe que o neoliberalismo é uma corrente ideológica que não coaduna com a democracia. Muitos teóricos dessa corrente já deixaram registros escritos e também em audiovisuais, afirmando que em seu ver, a Revolução Francesa, dentre outros movimentos de massa, subverteram o conceito de democracia. Para os neoliberais, a liberdade é unicamente a do capitalista, jamais a da classe trabalhadora, da sociedade, dos direitos básicos do cidadão, enfim.

            O governador Ratinho Júnior (PSD), filho de pai milionário, tem o neoliberalismo impresso até em seu DNA e também o autoritarismo que lhe é característico, pois seu governo se pautou desde o início pela privatização, pela entrega do bem público ao setor privado, às isenções fiscais bilionárias em favor do grande capital e em desfavor do serviço público. Em seu primeiro mandato, trouxe para a pasta da Educação do Paraná, o empresário Renato Feder, cujo capital amealhado leva qualquer pessoa a se questionar, o que levaria, um homem tão rico assumir uma pasta por um salário que lhe é irrisório.

            Renato Feder, ex-secretário de Educação do Paraná e atualmente secretário na mesma pasta pelo Estado de  São Paulo, é um membro destacado de um grupo de ideólogos nacionais e estrangeiros que trabalham pela privatização da educação pública. Neste grupo, há Think Tanks, que a grosso modo, podemos definir como "usinas de pensamento" cujos intelectuais trabalham para eliminar todo eventual resquício de participação do Estado em atividades que consideram que deveriam estar unicamente nas mãos da iniciativa privada. Tais Think Tanks são financiados pelo capital nacional e estrangeiro.

            Nesse sentido, Renato Feder escreveu o livro "Carregando o Elefante" em co-autoria com Alexandre Ostrowieck. Nele pregam a privatização da educação e de vários serviços públicos gratuitos ofertados pelo Estado em um país que a grande maioria não têm condições financeiras de pagar por eles. No livro, o ex-secretário defende a manutenção da segurança pública, que em seu ver, deveria ser muito fortalecida. Faz sentido, quando o povo entender pela prática, que a privatização significa privar (a médio e longo prazo) os pobres dos atuais serviços públicos gratuitos, as forças de contenção de revoltas populares precisarão estar preparadas para atuar.

domingo, 16 de junho de 2024

Vitória de Pirro - Parte 2

 

                A Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (ALEP) protagonizou nos dias 03 e 04 de junho de 2024 um triste e lamentável episódio ao aprovar o projeto de lei 345/2024 que autoriza a privatização da gestão das escolas públicas paranaenses. A verdade é que a ALEP, há muito tempo se converteu num puxadinho do Palácio Iguaçu. O fisiologismo reina solto naquela que nas democracias legítimas se conhece como a "Casa do Povo". Obviamente, a culpa de sermos tão mal representados (com raras e valiosas exceções) é do próprio povo que elege políticos que não estão a altura do cargo para o qual foram eleitos.

            A chamada  "Casa do Povo", por ordem das autoridades competentes, estava impedindo a parcela do povo interessada na discussão e votação do projeto que ali iria ocorrer. Algo que vai totalmente ao largo do que se entenda por uma democracia. Aliás, o projeto sequer foi discutido inicialmente com a sociedade, algo que deveria ter sido feito antes do envio da mensagem para a ALEP.             Os manifestantes foram obrigados a forçar a entrada, ato que em uma legítima democracia, não ocorreria, pois as votações não ocorrem à revelia do conhecimento/participação da sociedade. Após a ocupação da galeria, os deputados situacionistas se retiraram para seus gabinetes e de lá a sessão continuou online. Sem precisar se esconder, permaneceram apenas, os deputados defensores da educação pública e gratuita.

            Assistir a sessão com a presidência do deputado Ademar Traiano (PSD), um corrupto confesso¹, algo amplamente noticiado pela imprensa estadual e nacional e ver deputados tão limitados em sua intelectualidade, foi motivo de asco. Houve até um deputado que fez referência à sessão do golpe de 2016 (o farsesco impeachment da presidenta Dilma Rousseff), parafraseando a fala de seu mentor moral e intelectual (Bolsonaro) quando homenageou a um torturador desta, porém,  referindo-se à APP-Sindicato, entidade que defende os interesses de professores, estudantes e seus pais que desejam a manutenção da escola pública, gratuita e de qualidade como um direito social e, não como mercadoria e objeto de lucro da classe empresarial amiga do governador Ratinho Junior.

Referência:

1. https://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2023/12/06/confessou-um-crime-de-corrupcao-pois-bem-corrupto-e-diz-deputado-renato-freitas-sobre-presidente-da-assembleia-legislativa-do-parana.ghtml - visualização em 14/06/2024.

 

segunda-feira, 10 de junho de 2024

Vitória de Pirro - parte 1

 

                Vitória de Pirro é uma expressão utilizada para se referir a uma vitória obtida a alto preço, potencialmente acarretadora de prejuízos irreparáveis. Esta expressão recebeu o nome do Rei Pirro do Epiro (hoje, parte da Grécia), cujo exército havia sofrido perdas irreparáveis após derrotar os romanos na Batalha de Heracleia em 280 a.C e na Batalha de Ásculo em 279 a.C (Wikipedia). Atualmente, a expressão é utilizada nas mais diversas áreas como a política, a economia, a justiça, a literatura, a arte, os esportes, etc., sempre a descrever uma vitória que mais parece uma derrota, pois resulta da teimosia, da arrogância, do orgulho ferido prevalecendo ante o bom senso.

            O governador Ratinho Júnior (PSD) esmera-se em mostrar os resultados de sua gestão ultra-liberal no Estado do Paraná com o intuito de fazer-se um candidato viável da parcela bolsonarista da sociedade à presidência. Acena para o sistema financeiro e para o público da extrema-direita com o seu programa privatista. No afã de superar em visibilidade, os governadores Romeu Zema (Minas Gerais - Partido Novo) e Tarcísio de Freitas (São Paulo - Partido Republicanos), o rico patrimônio construído ao longo da história paranaense com recursos oriundos dos impostos pagos por toda a sociedade paranaense tem sido dilapidado. É o caso da Copel e da Sanepar, cujos clientes relatam a piora dos serviços ofertados após a privatização.

            Na década de 1990, alguns países europeus privatizaram serviços essenciais como energia, água e até educação. O resultado não foi o esperado e, há um movimento de retomada estatal da oferta de tais serviços. Entre os problemas constatados estão as metas não alcançadas devido a falta de investimentos por parte das empresas prestadoras de serviços, o aumento dos custos para a população e a piora da qualidade dos serviços ofertados. O Paraná sob Ratinho Júnior, como vimos, vai na contramão da história. Talvez seja, pelo fato de que a assim chamada Nova Direita, não consegue se renovar, pois lhe falta intelectualidade e criatividade, recorre então, à velhas ideias e à receitas fracassadas que convencem apenas os incautos e os fanáticos, sendo estes últimos, aqueles que há muito renunciaram à racionalidade.

           

 

 

domingo, 2 de junho de 2024

Cem anos de solidão

 

Gabriel José García Márquez nasceu na cidade colombiana de Aracataca a seis de março de 1927 e faleceu na Cidade do México a 17 de abril de 2014 ao lado da mulher Mercedes e os filhos Rodrigo e Gonzalo. Em seus últimos anos de vida, García Márquez se surpreendia com as demonstrações de carinho de seus apaixonados leitores por ocasião da passagem de seus aniversários e em certa ocasião, perguntou a sua esposa porque as pessoas gostavam tanto dele, pois, Gabo, como era carinhosamente chamado, estava acometido de câncer linfático e demência senil, motivo que o levou a aposentar sua caneta e renunciar à escrita de novos livros.

            Márquez se popularizou por ser um escritor de contos, novelista, jornalista e ativista político defensor dos ideais da esquerda. Em 1982, Gabo ganhou o Prêmio Nobel de Literatura e discordava de leitores e críticos literários que consideravam como sendo sua obra expoente “Cem anos de solidão” reservando tal posto para a obra “O amor nos tempos de cólera”. García Marquez é considerado o criador do estilo literário “realismo mágico” em que a realidade se mistura à ficção na tessitura de suas tramas, apesar da surrealidade de sua escrita afirmava que não havia nada nela que não fosse a realidade, pois, dizia ser carente de imaginação.

            Em sua obra “Cem anos de solidão” conta a história da família Buendía na fictícia Macondo, que em realidade se tratava de uma fazenda dedicada ao cultivo de banana, na qual inicia discorrendo sobre a saga dos primos José Arcádio Buendía e Úrsula Iguarán que se casam e tal como as pessoas afirmavam, o casamento entre familiares produzia aberrações, e, assim, por iniciativa de Úrsula o casal evitou ter filhos por muito tempo, mas, como o tempo passou e o casal não teve filhos, a virilidade de José Arcádio Buendía foi colocada em dúvida por um morador do povoado e que José Arcádio desafiou para um duelo e o venceu, porém, após a morte deste, seu espírito não lhe dá sossego aparecendo para ele a todo o momento.

            Para ter paz, o casal se muda para o interior e numa área despovoada funda Macondo. É em Macondo que eles têm os filhos José Arcadio e Aureliano Buendía. Tal como dizia a crença popular, os filhos nascem com rabo de porco, porém, após a troca da dentição, os rabos eram cortados e estes tinham vida normal. Aureliano Buendía se apaixona por uma pré-adolescente de nome Remédios e propõe um acordo aos seus pais que a liberem para se casar com ele assim que ela entrar na puberdade. Assim foi feito, porém, ela morre no parto de gêmeos e seus sogros que o estimavam muito, lhe afirmam que é muito jovem para ficar sozinho e que ficariam felizes caso escolhesse uma de suas outras filhas para se casar novamente.

            No entanto, o país vivia uma turbulência política e das conversas com seu sogro conservador sobre política Aureliano se descobriu entusiasticamente liberal e resolveu entrar na guerra em prol desta corrente política vindo a participar de 32 guerras e todas perdeu, mas, é reconhecido como uma importante figura histórica do país, muito embora jamais receba de seu país a pensão que tanto aguardara, e por isso, passa seus últimos anos confeccionando miniatura de peixes de ouro que vendia em troca de moedas de ouro que eram derretidas para fazer novas miniaturas com o único objetivo de ocupar o tempo.

            A obra é surreal, e faz uma amálgama de fatos da realidade e fictícios em que pessoas levitam, ossos humanos se movimentam, borboletas amarelas acompanham um personagem aonde ele vai, ciganos, cartomantes e videntes fazem a leitura das mãos, além de repressão militar, eleições fajutas, exploração sobre os trabalhadores e greves, guerras e solidão, muita solidão, apenas menor do que a deixada por Gabo quando de sua partida!

Sugestão de boa leitura:

Título: Cem anos de solidão.

Autor: Gabriel García Márquez.

Editora: Record,  2009, 448 p.