Há alguns meses estávamos
debatendo num grupo de estudos questões que afligem a Educação como um todo, ou
seja, o Ensino Básico e também o Ensino Superior, na ocasião afirmei que os
professores universitários se superespecializavam num determinado tema para o
qual direcionavam seus estudos e pesquisas e também todo o tempo de que
dispunham, dessa forma, se tornavam sabedores de tudo sobre pouco e ao mesmo
tempo sabedores de pouco sobre tudo. E falei também que nós docentes do Ensino
Básico por não termos as mesmas condições, pois temos nossa carga horária
principalmente em classe e por termos dependendo da disciplina até 15 turmas
com cerca de 40 alunos cada e a especificidade de nosso trabalho faz com que
sejamos sabedores de um pouco sobre tudo e tudo de coisa nenhuma.
Penso que o sistema educacional, tal como enunciado
inúmeras vezes por diversos educadores, parece ser formado por gavetas e, em
cada uma delas uma disciplina. Cada gaveta parece hermeticamente fechada para evitar
o contágio que o contato com as demais poderia ocasionar. Esse contágio tem
nome chama-se interdisciplinaridade e que embora necessária, muitas vezes acaba
por não ocorrer, tornando o processo Ensino-Aprendizagem fragmentado.
É bom que se diga que a culpa não pode ser assumida
unicamente pelo(a) professor(a) e, nem mesmo pela escola, pois, existem vários
fatores que fogem à alçada da mesma e que impedem ou dificultam o trabalho
interdisciplinar, preocupadas com isso, as equipes pedagógicas das escolas,
visando amenizar tal falha, incentivam o desenvolvimento de projetos
interdisciplinares, que são importantes, porém, pontuais.
Penso que parte dos(as) professores(as) do Ensino Básico
e também do Ensino Superior, devido à necessidade que a profissão impõe, se
encastela e realiza uma monoleitura, ou seja, lê principalmente aquilo que faz
parte da sua área de atuação ou de pesquisa e adquire assim um monossaber.
Embora dessa forma se possa conseguir grande reconhecimento pelo notório saber
adquirido e construído, o qual habilita tal profissional a dar cursos e
palestras “país adentro ou afora”, acaba por privá-lo de possuir uma visão mais
abrangente do mundo e da humanidade. Isto acaba por prejudicar a formação
política (aqui não falo no sentido partidário) de seus educandos.
Não faço crítica à especialização do(a) professor(a),
apenas, penso que ele(a) deve às vezes sair um pouco do seu “quadrado”, se
inteirar das questões políticas, econômicas e sociais, ou seja, ser um
especialista, mas também, um profissional politizado e com consciência de
classe, digo isso, porque percebo que em qualquer dos níveis de ensino, básico
ou superior a falta de politização de parcela dos(as) educadores(as). Não raro,
vejo profissionais agindo contra os interesses da classe e/ou atacando
propostas de cunho social que deveriam defender, tais como as cotas nas universidades
para alunos(as) de escola pública, afrodescendentes, etc., e também os
programas de transferência de renda direta como o Bolsa-Família, a política de
valorização do salário mínimo, etc.. Tais programas devem ser defendidos como
políticas de Estado independentemente do grupo político no Poder.
Como todos(as) sabem, a Educação vive uma crise, porém,
essa crise não se iniciou dentro do prédio escolar, mas veio do seu entorno, ou
seja, da sociedade que a cerca adentrando os muros escolares. Os fatores que
afligem a escola e fogem ao controle dos(as) professores(as) é a
desestruturação familiar, a miséria, a violência, a falta de sonhos, as
culturas do prazer imediato, de não valorização do estudo e do conhecimento, e,
principalmente, a da Pós-Modernidade, que se torna visível em parcela dos(as)
alunos(as), pais/mães, professores(as) e pessoas da sociedade.
É muito fácil e cômodo culpar os(as) professores, porque
não ensinam direito ou os/as alunos(as) porque não aprendem, mas, como várias
vezes discutimos entre nós docentes, cada vez mais percebemos a impossibilidade
de se ensinar, de trabalhar o conteúdo de forma eficiente, que, não é a
eficiência empresarial, pois, educandos são seres humanos e neles não é
possível colocar um selo de “qualidade total” e, em se falando de qualidade
total, qualidade para quê? Qualidade para quem? Uma formação de qualidade total
para a Vida ou para o Mercado?
Uma formação integral e humana é necessária, que prepare
para a vida, para o ingresso na universidade e, consequentemente forme para a
cidadania. O estudante formado deve ser esclarecido, crítico e atuante
contribuindo para tornar melhor a sociedade em que vive. Isso somente é
possível por meio da assimilação do conhecimento científico que embasa tal
agir, e, é por isto que trabalhamos também conteúdos que algumas pessoas
consideram desnecessários e/ou refutáveis, pois, a escola é um lugar onde se
tira vendas, não o contrário!