Estou às vésperas de
completar mais um inverno (a estação em que nasci), dessa forma, falar em
completar mais uma primavera seria faltar com a verdade. É natural que nessa
época (aniversário), as pessoas estejam mais reflexivas sobre a vida, seus
encantos e desencantos. Sendo uma pessoa introspectiva por natureza, não fujo à
regra. A vida não examinada não vale a pena ser vivida, já ensinava o filósofo
Sócrates (470 a.C. - 399 a.C). Colocar os dias vividos, portanto, todo o passado
ao escrutínio de uma lupa, pode ser bastante dolorido, mas também libertador. A
verdade é que não seríamos as pessoas que somos, sem as experiências que
tivemos, inclusive as traumáticas. Lembro de um filme de Sylvester Stallone em
que o referido ator interpretava o lutador de boxe Rocky Balboa que ensinava "ninguém
vai bater tão duro em você quanto a vida, e viver é isso, não importa o quanto
você é capaz de bater, mas o quanto você é capaz de resistir e seguir em frente".
Da mesma forma, li certa vez que "a vida é como um navio em que você é o
comandante, sendo que as pessoas não querem saber se no caminho você enfrentou
fortes tempestades, elas querem saber é se você trouxe o navio". Não
espere compaixão, mostrar as avarias do navio causadas pelas tempestades, serão
vistas como prova de sua imperícia ao navegar.
Tenho uma camiseta, cuja frase inspiradora afirma:
"mar calmo não forma bons marinheiros", da mesma forma, a vida, cujas
dificuldades a nós impostas, uma vez superadas, fazem com que nos tornemos mais
fortes. O Japão, por sua cultura, tem muito a ensinar ao Brasil, lá estudantes
são valorizados como sendo aqueles que dedicam suas vidas à busca do
conhecimento (lindo não?) e os professores (por formarem todos os outros
profissionais) são os mais valorizados, inclusive o imperador japonês (que não
precisa se curvar a ninguém) já se curvou a professores. No Brasil, cuja
sociedade não valoriza o conhecimento e, que as escolas muitas vezes são
tratadas apenas como "um lugar para deixar os filhos enquanto os pais
trabalham", há quem compare professores a traficantes de drogas. No Japão,
idosos são valorizados nas empresas, nas famílias e pela própria sociedade,
pois contribuíram muito com o país e têm a
maior riqueza que é a sua experiência de vida. No Brasil, idosos são
considerados um estorvo pela sociedade, pelas famílias, especialmente pelos
mais jovens. As autoridades prolongam o tempo de trabalho para a aposentadoria,
pois as pessoas estão vivendo mais. O aumento da expectativa de vida de parte
da população brasileira (marcada pela forte desigualdade social) é a condenação
à morte (no trabalho ativo) para a outra parte que jamais poderá se aposentar e
desfrutar de seus poucos anos de vida restantes.
Lembro de um artigo do saudoso João Olivir Camargo,
afirmava ele que é enganoso o mote da "Melhor Idade" para a assim
chamada terceira idade (60 anos ou mais). João Olivir falava das dores no corpo
que afligiam os idosos. Nesse mesmo sentido, em conversa com colegas de
profissão, comentávamos como seria bom se tivéssemos o corpo e a saúde da época
em que tínhamos vinte anos, mas conservando o conhecimento e a experiência da
maturidade (pois, até mesmo Marian Gold (da banda Alphaville) mundialmente
conhecido pelo hit "Forever Young" envelheceu, e ficar eternamente
jovem é uma "bruxaria" que a Paula Toller (ex-Kid Abelha) não ensina
para ninguém). Houve quem falasse que gostaria de ter com vinte anos também o
dinheiro que hoje possui. A verdade é que ninguém está contente. Lembro de um
dito popular sobre a vida que reproduzo: "Quando crianças, temos tempo e energia,
mas não temos dinheiro; quando adultos, temos dinheiro e energia, mas não temos
tempo; quando idosos, temos tempo e dinheiro, mas não temos energia", nada
mais verdadeiro. Na vida, fazemos opções, dentre as opções que fiz, a busca
pelo conhecimento, como tudo, oferece bônus e ônus, tal como professorava
Friedrich Niezsche (1844-1900) quando disse "se optar pelo prazer do
conhecimento, prepare-se para sofrer". É por isso que vemos, pessoas alienadas
e felizes e, por outro lado, intelectuais depressivos.
Quando adolescente, li um livro intitulado "A
desintegração da morte" de Orígenes Lessa. O livro tratava de avanços
científicos que possibilitariam a vida eterna. Como se tratava de um trabalho escolar,
na época, no diário de leitura, afirmei que viver para sempre era coisa de
masoquista, afinal, o mundo, a sociedade, enfim, a vida tal como é, não há que
prolongar demasiadamente. Nunca mudei de opinião. Meus alunos perguntam a minha
idade, sempre respondo ter vinte e cinco anos. Como eles duvidam, respondo que
a idade é um estado de espírito e que jovem é quem não se cansa de buscar
conhecimento, de aprender com a vivência e com os livros. Digo ainda que tenho
um trato com o tempo, não penso na morte e nem a apresso. Faço tudo para não
encontrá-la na próxima esquina ou curva da vida. Sei que um dia nos
encontraremos e vejo isso com naturalidade. Na vida, há que se descansar,
inclusive da própria vida! Viver para sempre é coisa de masoquistas!
P.S. O título desse artigo
remete a música "Who wants to live forever" da inesquecível banda
Queen.
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