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quarta-feira, 26 de julho de 2023

Quem quer viver para sempre?

 

               Estou às vésperas de completar mais um inverno (a estação em que nasci), dessa forma, falar em completar mais uma primavera seria faltar com a verdade. É natural que nessa época (aniversário), as pessoas estejam mais reflexivas sobre a vida, seus encantos e desencantos. Sendo uma pessoa introspectiva por natureza, não fujo à regra. A vida não examinada não vale a pena ser vivida, já ensinava o filósofo Sócrates (470 a.C. - 399 a.C). Colocar os dias vividos, portanto, todo o passado ao escrutínio de uma lupa, pode ser bastante dolorido, mas também libertador. A verdade é que não seríamos as pessoas que somos, sem as experiências que tivemos, inclusive as traumáticas. Lembro de um filme de Sylvester Stallone em que o referido ator interpretava o lutador de boxe Rocky Balboa que ensinava "ninguém vai bater tão duro em você quanto a vida, e viver é isso, não importa o quanto você é capaz de bater, mas o quanto você é capaz de resistir e seguir em frente". Da mesma forma, li certa vez que "a vida é como um navio em que você é o comandante, sendo que as pessoas não querem saber se no caminho você enfrentou fortes tempestades, elas querem saber é se você trouxe o navio". Não espere compaixão, mostrar as avarias do navio causadas pelas tempestades, serão vistas como prova de sua imperícia ao navegar.

            Tenho uma camiseta, cuja frase inspiradora afirma: "mar calmo não forma bons marinheiros", da mesma forma, a vida, cujas dificuldades a nós impostas, uma vez superadas, fazem com que nos tornemos mais fortes. O Japão, por sua cultura, tem muito a ensinar ao Brasil, lá estudantes são valorizados como sendo aqueles que dedicam suas vidas à busca do conhecimento (lindo não?) e os professores (por formarem todos os outros profissionais) são os mais valorizados, inclusive o imperador japonês (que não precisa se curvar a ninguém) já se curvou a professores. No Brasil, cuja sociedade não valoriza o conhecimento e, que as escolas muitas vezes são tratadas apenas como "um lugar para deixar os filhos enquanto os pais trabalham", há quem compare professores a traficantes de drogas. No Japão, idosos são valorizados nas empresas, nas famílias e pela própria sociedade, pois contribuíram muito com o país e têm a  maior riqueza que é a sua experiência de vida. No Brasil, idosos são considerados um estorvo pela sociedade, pelas famílias, especialmente pelos mais jovens. As autoridades prolongam o tempo de trabalho para a aposentadoria, pois as pessoas estão vivendo mais. O aumento da expectativa de vida de parte da população brasileira (marcada pela forte desigualdade social) é a condenação à morte (no trabalho ativo) para a outra parte que jamais poderá se aposentar e desfrutar de seus poucos anos de vida restantes.

            Lembro de um artigo do saudoso João Olivir Camargo, afirmava ele que é enganoso o mote da "Melhor Idade" para a assim chamada terceira idade (60 anos ou mais). João Olivir falava das dores no corpo que afligiam os idosos. Nesse mesmo sentido, em conversa com colegas de profissão, comentávamos como seria bom se tivéssemos o corpo e a saúde da época em que tínhamos vinte anos, mas conservando o conhecimento e a experiência da maturidade (pois, até mesmo Marian Gold (da banda Alphaville) mundialmente conhecido pelo hit "Forever Young" envelheceu, e ficar eternamente jovem é uma "bruxaria" que a Paula Toller (ex-Kid Abelha) não ensina para ninguém). Houve quem falasse que gostaria de ter com vinte anos também o dinheiro que hoje possui. A verdade é que ninguém está contente. Lembro de um dito popular sobre a vida que reproduzo: "Quando crianças, temos tempo e energia, mas não temos dinheiro; quando adultos, temos dinheiro e energia, mas não temos tempo; quando idosos, temos tempo e dinheiro, mas não temos energia", nada mais verdadeiro. Na vida, fazemos opções, dentre as opções que fiz, a busca pelo conhecimento, como tudo, oferece bônus e ônus, tal como professorava Friedrich Niezsche (1844-1900) quando disse "se optar pelo prazer do conhecimento, prepare-se para sofrer". É por isso que vemos, pessoas alienadas e felizes e, por outro lado, intelectuais depressivos.

            Quando adolescente, li um livro intitulado "A desintegração da morte" de Orígenes Lessa. O livro tratava de avanços científicos que possibilitariam a vida eterna. Como se tratava de um trabalho escolar, na época, no diário de leitura, afirmei que viver para sempre era coisa de masoquista, afinal, o mundo, a sociedade, enfim, a vida tal como é, não há que prolongar demasiadamente. Nunca mudei de opinião. Meus alunos perguntam a minha idade, sempre respondo ter vinte e cinco anos. Como eles duvidam, respondo que a idade é um estado de espírito e que jovem é quem não se cansa de buscar conhecimento, de aprender com a vivência e com os livros. Digo ainda que tenho um trato com o tempo, não penso na morte e nem a apresso. Faço tudo para não encontrá-la na próxima esquina ou curva da vida. Sei que um dia nos encontraremos e vejo isso com naturalidade. Na vida, há que se descansar, inclusive da própria vida! Viver para sempre é coisa de masoquistas!

P.S. O título desse artigo remete a música "Who wants to live forever" da inesquecível banda Queen.

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