Há algum tempo,
estava dirigindo meu automóvel quando, uma moça saiu de trás de alguns carros
estacionados no meio da quadra e atravessou a rua logo a minha frente, como
estava devagar, parei o carro a dois metros de atropelá-la. O susto foi somente
meu, pois ela não me viu e seguiu seu caminho enquanto manuseava o celular. Naquele
mesmo dia, assisto na TV uma reportagem sobre mulheres que foram assaltadas
porque não viram o criminoso se aproximar por estarem atentas ao celular. Casos
de atropelamentos sofridos por pedestres desatentos ao trânsito e também de
acidentes de trânsito ocasionados por motoristas que falavam ao celular também
foram reportados.
No dia seguinte conto aos meus
alunos sobre o ocorrido e alerto-os do risco de manusear/ver o celular enquanto
caminham nas ruas. Alguns estudantes contam que haviam passado por situações
semelhantes. Um deles conta que sua mãe caiu em uma boca de lobo (bueiro)
enquanto caminhava vendo um vídeo no celular. Nas salas de aula, o celular se
tornou um problema. Os professores têm que pedir várias vezes durante a aula
para que guardem os aparelhos, mas, ao menor descuido, eles acessam as redes
sociais, perdendo as explicações da aula e, assim comprometendo sua
aprendizagem. Em suas casas, o uso do celular supera o tempo de estudo para as
provas (quando não substitui totalmente). O celular também se tornou um dos métodos mais
utilizados para fazer cola, sendo que os estudantes da turma possuem grupos
(sem os mestres) nos quais, as respostas das questões das provas são
compartilhadas. Há também estudantes que tiram fotografias (não autorizadas) de
professoras em ângulos que consideram interessantes. Fotografias dos mestres
são também utilizadas para fazer memes que repassam nos seus grupos de WhatsApp.
Pouco adianta alertá-los que o uso indevido de imagem pode ser alvo de um
processo judicial. Num ambiente com muito adolescentes, algumas vezes ocorrem
desentendimentos entre estes que acabam em agressões físicas, não raramente há
quem filme e repasse a gravação nas redes sociais (grupos) expondo os
estudantes e a própria escola.
O smartphone (celular moderno) é um
símbolo da Terceira Revolução Técnico - Cientifica, fruto da nanotecnologia,
congrega vários aparelhos num só: máquina fotográfica, gravador de áudio,
filmadora, player de vídeo e áudio, rádio, lanterna, relógio, despertador, GPS,
computador de mão, modem de Internet, etc., e que pode ser usado, segundo me
contaram, até para fazer ligações telefônicas (risos). É uma invenção formidável,
que pode ser utilizada para o estudo por meio de pesquisas na Internet e,
também para o acesso e resolução de exercícios complementares postados pelos
professores em plataformas específicas. No entanto, os adolescentes o utilizam
para a distração seja com games, bate-papos ou para assistir vídeos produzidos
por youtubers que seguem, cuja qualidade nem sempre é boa devido à imaturidade
dos mesmos em buscar vídeos de boa qualidade informacional. Essa é uma
preocupação, pois há estudantes que discordam de fatos científicos pois se em
embasam em conteúdos carregados de senso comum e desinformação publicados por
youtubers.
Em uma matéria da BBC, uma pesquisa
constatou que o Brasil e a Indonésia foram os países estudados que as pessoas
passam mais tempo diante do celular (quase cinco horas e meia). Comento esse
dado com os estudantes e grande parte deles declaram que ficam nas redes
sociais um tempo semelhante. Há quem afirme ficar até dez horas utilizando o
celular. Não faltam reportagens sobre os prejuízos causados à mente e à visão
das crianças e adolescentes pelo uso por
tempo excessivo de celular, no entanto, aplicativos para celular se converteram
em jazidas de ouro, pois movimentam centenas de bilhões de dólares anualmente.
Há aplicativos para quase tudo, do lazer aos negócios. A verdade é que o
celular e as redes sociais estão tirando tempo de vida das pessoas, tempo que
poderia ser utilizado para estudar, para
ler, para contemplar a natureza, para conviver em família, para sair com os
amigos, para praticar esportes, para conhecer alguém e namorar...Sim, as redes
sociais dão a ilusão de que as pessoas têm muitos amigos, porém nunca estiveram
tão solitárias. Os usuários se conectam aos que estão distantes e não convivem
mais com quem está próximo.
A BBC, em outra reportagem mostra
que os telefones burros, aqueles que costumávamos chamar de "tijolos"
e que apenas faziam ligações telefônicas, enviavam SMS, tiravam fotografias de
baixa qualidade e tinham o popular game da cobrinha não estão mais sendo vendidos
apenas para os idosos, mas, para jovens que descobriram que os smartphones lhes
estavam tomando muito tempo de suas vidas. Eles priorizam os estudos, o
trabalho, a realização das tarefas que lhe cabem e o smartphone atrapalhava
muito. Este escriba tem a consciência disso, pois, diminuiu seu ritmo de
leituras ao mesmo tempo em que passou a utilizar mais o celular, principalmente
assistindo vídeos no You Tube e recebendo informações que, muitas vezes, não
faria falta não as ter. A missão agora é reduzir o uso e, se não funcionar,
adquirir um celular burro, talvez seja a solução!
Referências:
BBC - Brasileiro usa celular por um terço de seu tempo acordado,
diz estudo - Acesso em 29 de junho de 2023.
BBC - Telefones burros: como os celulares sem conexão estão
ressurgindo no mundo hiperconectado - Acesso em 29 de junho de 2023.
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