Victor
Hugo (1802-1885) foi um romancista, poeta, dramaturgo,
ensaísta, artista, estadista e ativista francês pelos direitos humanos. Em sua
grandiosa obra, destacam-se os livros: Os miseráveis (1862) e O corcunda de
Notre Dame (1831) publicado originalmente com o título Notre Dame – Paris, 1482. O autor é conhecido por seus calhamaços (obras com mais
de 500 páginas). Este é o caso de Os Miseráveis, um calhamaço com pouco mais de
1500 páginas. A leitura de uma obra de tal envergadura exige planejamento. É
necessário mais tempo para a leitura e também de tranquilidade para que se
possa tirar da obra o máximo. Sabendo disso,
em 2021 planejei que nas férias de Janeiro de 2022 encamparia tal
empreendimento. Humilde, programei os meses de janeiro e fevereiro para a
leitura, porém, a obra me prendeu tanto que facilmente superava a meta
estabelecida de trinta páginas diárias. Na segunda quinzena, impus-me o ritmo
de sessenta páginas por dia. Concluí a leitura em pouco menos de trinta dias.
Enquanto lia, pensava "clássico é clássico, um livro não se torna um
clássico à toa". A obra de Victor Hugo publicada originalmente de forma
simultânea em vários países, não passou indiferente, pois, recebeu
imediatamente fervorosos elogios e também fervorosas críticas.
A leitura de calhamaços é algo que
já torna diferenciado o leitor. Quando a leitura é de uma obra do quilate de Os
Miseráveis é um troféu que se carrega na alma. Os Miseráveis é uma das leituras
mais especiais que uma pessoa pode fazer ao longo da vida. O livro, por seu
tamanho, pesa nas mãos, porém alivia os pesares da alma, pois, ao nos
conectarmos com a leitura, nos desligamos dos problemas da vida. Victor Hugo
foi muito feliz em tratar das mazelas da sociedade de sua época sem tornar
pesada a leitura sem com isso deixar de desvendar os olhos da elite letrada e
das autoridades quanto à questão da exclusão social e da necessidade da oferta
da educação pública para o resgate social das pessoas pobres. Impossível não
amar as personagens de Os Miseráveis, seja por suas qualidades ou por seus
defeitos. Humanas, elas têm o que há de melhor no ser humano e o que há de pior
também. É preciso dizer que são muitas personagens. Não é exagero aconselhar o
leitor a ter um caderninho para anotar os nomes das personagens e os laços que
os unem aos demais. A obra é ficcional, porém, ocorre enquanto o bonde da
história percorre as três primeiras décadas do século XIX.
A trama se inicia com a prisão do
órfão Jean Valjean por ter roubado um pão para saciar a fome de seus irmão
menores. Condenado a cinco anos de trabalho forçado nas galés, nas quais devia
remar, tem sua pena aumentada para dezenove anos por conta de sua inúmeras
tentativas de fugas. Quando enfim volta à sociedade (fuga), por seu histórico
de vida de ex-forçado, não consegue se reintroduzir na sociedade. As pensões
não o recebem nem ante o fato de poder pagar. A solução é dormir na rua, porém,
uma mulher que passava conversa com ele e o aconselha a ir até uma casa onde
certamente o receberiam. Jean faz isso e é recebido com direito à uma janta
especialmente servida com talheres de prata. Agradece e avisa que é um
ex-forçado, o Bispo de Digne diz que ele é bem recebido e que ali não é a casa
dele, mas, de Deus. Uma cama confortável é arrumada para ele dormir. O sono não
vem, ele levanta, rouba os talheres de prata e foge. É capturado pela polícia
que o leva para ser reconhecido pelo Bispo, que afirma aos policiais ter lhe
dado os talheres e ainda o avisa que ele esqueceu de levar os castiçais de
prata. Os policiais se retiram e o Bispo diz a Jean Valjean que ele tem que
usar o dinheiro resultante da venda da prataria para ser uma pessoa honesta e
fazer o bem às pessoas. Jean encontra um menino e rouba dele uma moeda com que
ele ia comprar pão para sua mãe. Valjean lembra da fala do Bispo de Digne e se
arrepende, porém, não encontra o menino (que correu) para devolver a moeda.
Victor Hugo tem um traço marcante
nas suas obras que são as constantes digressões, nas quais discorre sobre
aspectos geográficos do lugar ou de fatos históricos que ocorrem no tempo de
"vida" das personagens. Uma personagem importante é a bonita moça de
nome Fantine, que juntamente com duas outras amigas se enamoram de jovens
estudantes ricos. Fantine e suas amigas são abandonadas pelos rapazes que
apenas queriam diversão, ela no entanto, fica grávida. Pobre, entrega sua filha
para ser cuidada pelo casal Thenardier que conta com duas meninas e um menino.
Fantine diz que irá trabalhar e enviará dinheiro para o sustento dela e o
pagamento dos cuidados dispensados pelo casal. Fantine consegue emprego numa
fábrica de uma empresário rico e altruísta que transformou a realidade de uma
pequena cidade. O dinheiro enviado por Fantine ao casal Thenardier torna-se a
tábua de salvação, pois, os tempos se tornaram difíceis. Cosette, a filha de
Fantine cresce, mas, não recebe nada além de trapos para se vestir e, trabalha
como uma serviçal, sem direito a brincar, algo só permitido às filhas de mesma
idade do casal. Uma das companheiras de trabalho descobre que Fantine é mãe
solteira, conta ao seu chefe na indústria e este a demite. Para não deixar
faltar recursos para sua filha Cosette, Fantine começa a se prostituir e chega
a vender os dentes incisivos para um dentista e com isso tem seu rosto tomado
pela fealdade. Na miséria e doente, Fantine recebe o Senhor Madeleine (o dono
da fábrica) e o xinga quando este afirma querer lhe ajudar, pois tudo o que ela
está passando é por culpa dele, afinal ele a teria demitido porque ela era mãe
solteira. O Senhor Madeleine lhe conta que a reprovável decisão fora do gerente
da fábrica e lhe diz que tomará para si a tarefa de cuidar dela e de Cosette,
mas, para Fantine é tarde demais. Enquanto isso, o dedicado e competente
Inspetor Javert procura incansavelmente encontrar e prender o fugitivo da lei
Jean Valjean. Encerro aqui para não dar spoiler e também porque uma resenha
minuciosa da obra resultaria demasiado grande. Fica a dica e a declaração que
não há nestas linhas mais que um aperitivo, o banquete é a leitura da obra.
Sugestão de boa leitura:
Título: Os Miseráveis.
Autor: Victor Hugo.
Editora: Martin Claret, 2014, 1511 pág.
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