"O Decamerão" é
uma obra escrita e publicada na Europa do Medievo que tem por autor o poeta e
crítico literário Giovanni Boccaccio (1313-1375) nascido em Certaldo, na região
da Toscana, na Província de Florença (atual Itália). Boccaccio, filho de pai
bancário, não quis ganhar a vida trabalhando no comércio como era a vontade de
seu pai preferindo dedicar-se à leitura, ao trabalho de editor e a transcrição
de obras na condição de copista, pois, a máquina de imprensa de Gutenberg
somente viria à luz no século seguinte. O autor de "O Decamerão" é
considerado o pioneiro do humanismo na Europa e juntamente com Dante Alighieri
(1265 -1321) e Francesco Petrarca (1304 - 1374) é considerado parte das Três
Coroas que fundam a Literatura Italiana. Inversamente aos dois autores citados,
a formação de Boccaccio era apenas a indispensável (conhecimentos básicos) para
a vida prática. Leitor ávido, foi além, e, de forma autodidata supriu as
lacunas do conhecimento a que não teve acesso na formação oficial.
O autor viveu o auge da pandemia de Peste Negra na Europa
tendo se isolado entre os anos de 1348 a 1353 para evitar o contágio (ocasião
aproveitada para escrever "O Decamerão"). Na narrativa da obra um
grupo de jovens tendo perdido seus familiares ou, por eles terem sido
abandonados, resolvem procurar um lugar para buscar relaxamento e descontração
ante o cenário de caos (mortes, fome e violência) que tomara conta de Florença.
O grupo formado por sete moças e três rapazes encontra um local a alguns
quilômetros da cidade e nele se estabelece. Como bons moços, comportam-se
adequadamente e em conformidade com os princípios familiares aprendidos.
Pampinea (27 anos) é a mais velha e a líder do grupo (todos são maiores de 18
anos). Para passar o tempo e fazer com que todos (sem exceção) aproveitem bem os
momentos que passarão juntos, resolvem criar tarefas que todos devem cumprir. A
obra, cujo título é "O Decamerão" faz menção às dez jornadas (dias)
em que cada um dos dez jovens conta uma novela sobre um tema pré-determinado. A
cada dia é escolhida uma pessoa para exercer o "reinado" e esta
pessoa coordenará as demais nas atividades diárias e também indicará o tema das
novelas. O livro, em sua versão integral (a que li) traz cem novelas que,
apesar de serem assim intituladas, são na verdade contos, pois, o livro tem
pouco mais de mil páginas e, como o leitor sabe, o formato novela fica entre o conto
e o romance. Então, tendo como referência o tamanho, são contos.
Todo calhamaço (livro com mais de quinhentas páginas) assusta
muitos leitores, é o caso da obra citada. Li também que muitos leitores se
cansam com o fato de ler tantas narrativas sobre o mesmo tema (dez de cada).
Digo que, apesar de o gênero a que pertence o livro (contos) não ser o meu
preferido, a sua leitura é imperdível. Espanta que ainda na Idade Média (com
toda a repressão moral e religiosa que havia) uma obra como essa tenha sido escrita
e publicada. Lembremos que a Idade Média já se fazia moribunda, mas, a
Sociedade Moderna ainda não havia se estabelecido. A obra traz narrativas
picantes que tratam dos vícios e das virtudes do ser humano. Transborda de
erotismo num texto escrito de forma elegante, sem se deixar levar pela
vulgaridade. Faz críticas à classe política e eclesiástica de uma forma ferina
e ao mesmo tempo leve, descontraída, pois traz no tempero grandes doses de
humor. O leitor, caso deseje ler esta obra, deve fazê-lo como ao consumir uma
caixa de licores, degustando parcimoniosamente (sem pressa) e, certamente,
dessa forma descontraída, encontrará relaxamento e motivos para rir em meio ao
caos que também nós vivemos. Escapismo é a palavra. Escapemos da doença, da
morte, da angústia, enfim, do caos. Devo dizer que não se trata de um livro de humor,
mas, de narrativas inteligentes e/ou bem humoradas. Fica a dica!
Sugestão
de boa leitura:
Título: O Decamerão.
Autor: Giovanni Boccaccio.
Editora: Nova Fronteira, 2018, 1008 pág.
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