Han faz uma comparação entre a sociedade anterior e a
atual. Para o filósofo, embasado em Michel Foucault (1926-1984), a sociedade
anterior era dominada pela negatividade e baseava-se no método de "vigiar
e punir". Han afirma que a sociedade contemporânea é marcada pelo excesso
de positividade, ou seja, é a sociedade do desempenho, da alta produtividade.
Se na sociedade anterior ele tinha um patrão ou funcionário (apontador)
especialmente designado que controlava o seu tempo exigindo dele a maior
produtividade possível, na sociedade atual, ele é o apontador de si próprio.
Pensa ter liberdade, afinal, a empresa não determina seu horário de trabalho ou
o libera para realizar seu trabalho em home - office, no entanto, a moeda de troca
exigida é a produtividade, melhor, a alta produtividade. O sujeito entra numa
neura de demonstrar competência e muitas vezes exige de si próprio, mais do que
o próprio patrão ou apontador o faria. Os capitalistas, obviamente, já
constaram que dar a "liberdade" para o funcionário tendo como contrapartida
a produtividade é altamente vantajoso.
Ao se ver reconhecido como funcionário de grande
produtividade, este procura manter o nível de produção ou superá-lo, pois, é
seu dever, depende somente dele e a empresa é tão boa. Mas este excesso de
"positividade" em buscar manter a produtividade ou superá-la, leva-o
ao esgotamento físico e, principalmente mental. O trabalhador se torna escravo
e tem como seu feitor ele próprio. O autor cita a frase "yes, we can"
(sim, nós podemos) do ex-presidente estadunidense Barack Obama como um grande
exemplo dessa ideologia. Sim, posso conseguir o que eu quiser, basta me
dedicar! E isso, pode funcionar algumas vezes. Pode funcionar para algumas
pessoas. Mas, nem sempre e nem para todas as pessoas. O resultado é a
frustração, a depressão, enfim, o adoecimento físico e, principalmente mental.
O autor afirma que a sociedade atual está perdendo a
capacidade da contemplação, pois, não mais se aprofunda naquilo que vive e
sente pelos sentidos. Os indivíduos sabem um pouco de tudo, mas, nada com
profundidade. Conseguem realizar várias tarefas simultaneamente, mas, não
conseguem abstrair, elaborar um raciocínio profundo acerca de um problema, ou
da leitura de uma obra. Evitam o tédio e vivem suas vidas de forma rasa, seja
nas relações sociais ou na busca do conhecimento. Segundo Han, o tédio profundo
é um processo criativo, pois, em meio a ele ocorre a contemplação e declara
"se o sono perfaz o ponto alto do descanso físico, o tédio profundo
constitui o ponto alto do descanso espiritual". Sobre a violência que
marca a nossa sociedade, Han conclui que ela é doença com causa neural. A
cobrança que a sociedade faz (ou que o próprio indivíduo faz sobre si mesmo)
quanto à busca de um grande desempenho produtivo mantendo-se altamente
competitivo leva ao adoecimento. Enfim, para Han, vivemos numa sociedade do
excesso ou da falta, é tudo ou nada e,
como tal administra-se doses cavalares de estímulos, o indivíduo é competente
ou fracassado (não há meio termo). Ser normal é ser uma pessoa altamente
competente, produtiva, porém, esvaziada, adoecida! Se você ainda é capaz de
contemplar, de sorrir, de viver alegremente,
você não está bem, pois, foge ao padrão de normalidade!
Sugestão de boa leitura:
Título: A
sociedade do cansaço.
Autor: Byung-Chul Han.
Editora: Vozes, 2015, 136 pág.
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