Há alguns dias enquanto
caminhava com a esperança de deixar de ser uma pessoa de tão grande presença,
não pude deixar de observar a quantidade de casas com a bandeira nacional,
atualmente apropriada por um movimento político que pouco ou nada tem de
patriótico, afinal, para começo de conversa, seu líder-mor Jair Bolsonaro bateu
continência para a bandeira estadunidense. Que muitos brasileiros comuns tenham
o complexo de vira-latas perante os Estados Unidos e a Europa, eu lamento, mas,
aceito, afinal, faz parte da fraqueza de espírito de muitos. Difícil é ver
investido no cargo de Presidente da República, quem tem tal complexo mais
exaltado. Não há na carreira militar ou política de Bolsonaro nada que endosse
seu alçamento ao maior cargo eletivo da Nação. Não dá nem para alegar que ele
iludiu o povo com seu discurso nos debates, afinal, ele não foi a nenhum debate
e sua oratória é tosca. Foi um péssimo militar, sofreu processo disciplinar
(planejou atentado a bombas). Em várias oportunidades demonstrou ser favorável
à ditadura, à tortura, à misoginia, à homofobia, à sonegação fiscal, ao
machismo, ao armamentismo, etc. Ao receber a faixa do golpista Michel Temer afirmou
que com sua eleição iria libertar o povo do socialismo e do politicamente
correto.
Socialismo que no Brasil nunca houve, pois, jamais a
propriedade privada dos meios de produção (fazendas, bancos, indústrias, etc.)
foi extinta. Quanto ao politicamente correto, esta é a forma civilizada com que
um presidente de uma grande nação deve se pautar, afinal ele é enquanto
presidente, o cartão de apresentação do país. Com seu governo, recheado de
militares para nenhum general da ditadura militar (1964-85) poder se comparar,
a imagem que o mundo tem do Brasil, infelizmente, é de uma autêntica República
das Bananas. Há quem ria do Brasil, há quem se indigne com as ações
governamentais em temas pungentes de discussão mundial como a questão ambiental
e há quem tenha muita pena dos brasileiros. Lembro que quando estudante em
plena ditadura militar, ouvíamos que o mundo inteiro admirava a beleza da
bandeira brasileira, por todos considerada a mais bonita. Nunca consegui
confirmar a fonte dessa afirmação tão popularizada, penso que se tratava de uma
fake news para inspirar nos jovens um patriotismo ufanista embalado por
"Eu te amo meu Brasil" de Don e Ravel, obrigatório nas escolas
públicas juntamente com a execução dos hinos. Nem por isso, há evidências
comprováveis cientificamente de que essa geração se tornou mais patriótica. Há
muitos políticos dessa geração fazendo a velha política e, dela também muitos
empresários roubando a Mãe-Pátria ao sonegar impostos.
A bandeira nacional instituída em 19 de Novembro de 1889,
trouxe poucas alterações àquela utilizada pelo Império. Manteve-se a cor verde
da Casa de Bragança (D.Pedro I) e o amarelo da Casa de Habsburgo (D.
Leopoldina). Falar de matas e ouro é conversa para boi dormir, digo mais, nossa
bandeira deveria ser vermelha, afinal, na língua Tupi-Guarani
"Brasil" significa vermelho. Na antiga base, se inseriu uma esfera
celeste com as estrelas representando as unidades federativas. No centro do
círculo a inscrição "Ordem e Progresso" vem do lema positivista de
Augusto Comte (1798 - 1857) que dita: "O amor por princípio, a ordem por
base e o progresso por fim". Há quem diga que a palavra "amor"
não foi incluída, porque a tornaria longa. Outros dizem que isso ocorreu devido
a necessidade de passar uma imagem viril. Numa terra em que o sistema
escravocrata vigorou por mais de três séculos, o face-lift superficial da
bandeira nacional e a exclusão da palavra amor, evidencia toda a sua história cuja
macro política nacional ao se ver ante a inevitabilidade da mudança, muda
apenas para manter tudo como está. Bolsonaro no poder é uma contrarrevolução
preventiva de uma elite cruel,
mesquinha, sanguinária e impatriótica. A falta de amor neste país não se denota
apenas na bandeira, mas no olhar que se esquiva ante o mendigo que cata no lixo
o que comer, nos ouvidos que se fazem moucos perante as notícias da miséria, da
fome, da injustiça social. Dói ver a bandeira nacional ser usada como símbolo
de um movimento político nefasto à democracia, à liberdade, à Justiça Social,
mas, entendo, embora não concorde que, quem sempre desfrutou de privilégios
injustos os queira manter. O que corta o coração é ver tal bandeira (e o que
ela hoje simboliza) na frente de casas humildes. Neste caso, o sentimento de
repugnância ante mansões é tomado pelo sentimento de tristeza, de pena, de
impotência.
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