A França vivia uma turbulência política e encontrava-se
em plena Guerra Franco-Prussiana (1870-1871) resultante da disputa destas
nações que tinham grandes ambições geopolíticas, ou seja, a obtenção da
hegemonia na Europa Continental. A Prússia (atual Alemanha) demonstrou
superioridade no campo de batalha. O Imperador Napoleão III da França foi
capturado pela Prússia e, dessa forma, a Terceira República foi então
proclamada na França e Louis Adolph Thiers (1797-1877) se tornou o presidente.
O interior da França formava a maioria da população e constituía um eleitorado
conservador. Na capital Paris, a classe trabalhadora tinha no operariado, a sua
ponta de lança. O nome comuna se refere à comarca ou região de Paris e, não ao
comunismo, embora tenha sido a primeira experiência da classe trabalhadora à
frente do Poder. A Prússia, arrasadora avançou sobre a França, a classe
trabalhadora se organizou e montou barricadas para defender Paris. A burguesia
fugiu da capital, logo, também a Assembleia Nacional se transferiu para
Versalhes. A elite e a parcela conservadora da população não gostaram de ver a
classe trabalhadora armada, mesmo que fosse com o intuito de defender Paris e
solicitou ao governo Thiers que a desarmasse. A burguesia viu no operariado
armado uma ameaça ainda maior que a Prússia ocupando a França. Os soldados
enviados para desarmar a Guarda Nacional (operários armados) foram convencidos
a ficar do lado do povo e prenderam seus comandantes. O presidente Thiers fugiu
para Versalhes. Os revolucionários de Paris não tinham a intenção de conquistar
o restante do território francês, embora estimulassem que cada comarca ou
distrito tomasse o poder local com o objetivo futuro de fazer da França uma
Federação de Comunas.
As eleições levadas a cabo pelos revolucionários levaram
ao poder trabalhadores de vários segmentos, os quais não constituíam uma
homogeneidade ideológica. É um engano atribuir a Karl Marx (1818-1883) grande influência
sobre os desdobramentos da Comuna de Paris. Os revolucionários em sua maioria
seguiam os ensinamentos de autores ideologicamente anarquistas. Karl Marx
acompanhou os acontecimentos de Paris e, mais tarde chegou a escrever a obra "A
Guerra Civil na França" em que fez uma análise crítica dos acontecimentos
apontando os acertos e erros desta. Houve avanços notáveis tais como: Instituição
do Estado laico; o trabalho noturno foi abolido; as oficinas foram reabertas e
geridas na forma de cooperativas de trabalhadores; as casas vazias abandonadas
pela burguesia foram concedidas para habitação da população sem moradia; foi
estabelecido o ensino universal gratuito e laico; os descontos salariais foram
abolidos; os sindicatos foram legalizados; nas fábricas foi estabelecido o
sistema de autogestão; o salário dos professores foram duplicados; Foi
estabelecido que os trabalhadores que
exerciam cargos políticos receberiam salários iguais aos dos trabalhadores
comuns. Visando acabar com as forças repressivas sempre utilizadas pela
burguesia contra a população, o Exército e a polícia foram abolidos.
A Comuna não atacou Versalhes quando isso lhe era
amplamente favorável e nem se apossou das reservas do Banco Central da França para se fortalecer, estes foram por
Marx considerados erros capitais. A reação de Versalhes veio com um Tratado de
Paz com a Prússia que, apesar de desvantajoso para a França, se mostrou de
grande valia para a burguesia representada pelo governo Thiers, pois, a Prússia
liberou os soldados franceses presos, juntamente com o retorno daqueles estacionados
na frente de batalha engrossando as
fileiras no planejado ataque à Comuna de Paris. A Comuna resistiu bravamente,
mas, a desproporção de forças era evidente. O governo Thiers avançou
rapidamente sobre Paris promovendo um grande derramamento de sangue e causando cerca de trinta mil mortes de comunards (como
eram chamados os revolucionários). Após o fim da batalha, o banho de sangue não
acabou de imediato, prosseguiram as execuções "a sangue frio",
prisões e exílios forçados de trabalhadores que ousaram sonhar. Marx ao se
referir aos comunards afirmou que eles agiram como "assaltantes do
céu", ou seja, tentaram aquilo que era claramente impossível. Mais tarde,
León Trotski (1879-1940) o corrigiu, afirmando: "As revoluções são
impossíveis até que se tornam inevitáveis". A Comuna de Paris foi breve,
mas, seus ensinamentos foram utilizados em 1917 na Rússia e, se perpetuam na
história. Com seu exemplo, os comunards ensinaram que as utopias não devem
jamais ser abandonadas.
Sugestão
de boa leitura:
Obra: Comuna
de Paris 150.
Autor: Vijay Prashad et al.
Editora: Expressão Popular,
1ª edição, 2021, 141 p.