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sábado, 30 de outubro de 2021

Comuna de Paris 150

 


            Há 150 anos, mais especificamente entre os dias 18 de março a 28 de maio, teve lugar em Paris, a primeira experiência de um governo formado pela classe trabalhadora. Naquele distante ano de 1871, ainda sob os reflexos da Revolução Francesa (1789-1799) que implodiu a monarquia absolutista ao destronar Luis XVI no ano de 1792 irradiando seus efeitos além da França, pois, outros monarcas absolutistas abriram mão de parte do seu poder para preservar seus tronos e cabeças. A Revolução Francesa foi de tal forma importante que ela marca o fim da Idade Moderna e início da Idade Contemporânea, pois, enterrou o absolutismo e adaptou as nações para o capitalismo moderno. A Comuna de Paris de 1871 apesar de sua breve existência (72 dias) constitui não apenas um marco histórico, mas, um símbolo de resistência e de fortificação da utopia de uma sociedade governada pelo povo e para o povo.

           A França vivia uma turbulência política e encontrava-se em plena Guerra Franco-Prussiana (1870-1871) resultante da disputa destas nações que tinham grandes ambições geopolíticas, ou seja, a obtenção da hegemonia na Europa Continental. A Prússia (atual Alemanha) demonstrou superioridade no campo de batalha. O Imperador Napoleão III da França foi capturado pela Prússia e, dessa forma, a Terceira República foi então proclamada na França e Louis Adolph Thiers (1797-1877) se tornou o presidente. O interior da França formava a maioria da população e constituía um eleitorado conservador. Na capital Paris, a classe trabalhadora tinha no operariado, a sua ponta de lança. O nome comuna se refere à comarca ou região de Paris e, não ao comunismo, embora tenha sido a primeira experiência da classe trabalhadora à frente do Poder. A Prússia, arrasadora avançou sobre a França, a classe trabalhadora se organizou e montou barricadas para defender Paris. A burguesia fugiu da capital, logo, também a Assembleia Nacional se transferiu para Versalhes. A elite e a parcela conservadora da população não gostaram de ver a classe trabalhadora armada, mesmo que fosse com o intuito de defender Paris e solicitou ao governo Thiers que a desarmasse. A burguesia viu no operariado armado uma ameaça ainda maior que a Prússia ocupando a França. Os soldados enviados para desarmar a Guarda Nacional (operários armados) foram convencidos a ficar do lado do povo e prenderam seus comandantes. O presidente Thiers fugiu para Versalhes. Os revolucionários de Paris não tinham a intenção de conquistar o restante do território francês, embora estimulassem que cada comarca ou distrito tomasse o poder local com o objetivo futuro de fazer da França uma Federação de Comunas.

            As eleições levadas a cabo pelos revolucionários levaram ao poder trabalhadores de vários segmentos, os quais não constituíam uma homogeneidade ideológica. É um engano atribuir a Karl Marx (1818-1883) grande influência sobre os desdobramentos da Comuna de Paris. Os revolucionários em sua maioria seguiam os ensinamentos de autores ideologicamente anarquistas. Karl Marx acompanhou os acontecimentos de Paris e, mais tarde chegou a escrever a obra "A Guerra Civil na França" em que fez uma análise crítica dos acontecimentos apontando os acertos e erros desta. Houve avanços notáveis tais como: Instituição do Estado laico; o trabalho noturno foi abolido; as oficinas foram reabertas e geridas na forma de cooperativas de trabalhadores; as casas vazias abandonadas pela burguesia foram concedidas para habitação da população sem moradia; foi estabelecido o ensino universal gratuito e laico; os descontos salariais foram abolidos; os sindicatos foram  legalizados; nas fábricas foi estabelecido o sistema de autogestão; o salário dos professores foram duplicados; Foi estabelecido que  os trabalhadores que exerciam cargos políticos receberiam salários iguais aos dos trabalhadores comuns. Visando acabar com as forças repressivas sempre utilizadas pela burguesia contra a população, o Exército e a polícia foram abolidos.

            A Comuna não atacou Versalhes quando isso lhe era amplamente favorável e nem se apossou das reservas do Banco Central  da França para se fortalecer, estes foram por Marx considerados erros capitais. A reação de Versalhes veio com um Tratado de Paz com a Prússia que, apesar de desvantajoso para a França, se mostrou de grande valia para a burguesia representada pelo governo Thiers, pois, a Prússia liberou os soldados franceses presos, juntamente com o retorno daqueles estacionados na frente de batalha  engrossando as fileiras no planejado ataque à Comuna de Paris. A Comuna resistiu bravamente, mas, a desproporção de forças era evidente. O governo Thiers avançou rapidamente sobre Paris promovendo um grande derramamento de sangue e causando  cerca de trinta mil mortes de comunards (como eram chamados os revolucionários). Após o fim da batalha, o banho de sangue não acabou de imediato, prosseguiram as execuções "a sangue frio", prisões e exílios forçados de trabalhadores que ousaram sonhar. Marx ao se referir aos comunards afirmou que eles agiram como "assaltantes do céu", ou seja, tentaram aquilo que era claramente impossível. Mais tarde, León Trotski (1879-1940) o corrigiu, afirmando: "As revoluções são impossíveis até que se tornam inevitáveis". A Comuna de Paris foi breve, mas, seus ensinamentos foram utilizados em 1917 na Rússia e, se perpetuam na história. Com seu exemplo, os comunards ensinaram que as utopias não devem jamais ser abandonadas.

Sugestão de boa leitura:

Obra: Comuna de Paris 150.

Autor: Vijay Prashad et al.

Editora: Expressão Popular, 1ª edição, 2021, 141 p.

sábado, 23 de outubro de 2021

A bandeira nacional e a indignação de Augusto Comte

            

            Há alguns dias enquanto caminhava com a esperança de deixar de ser uma pessoa de tão grande presença, não pude deixar de observar a quantidade de casas com a bandeira nacional, atualmente apropriada por um movimento político que pouco ou nada tem de patriótico, afinal, para começo de conversa, seu líder-mor Jair Bolsonaro bateu continência para a bandeira estadunidense. Que muitos brasileiros comuns tenham o complexo de vira-latas perante os Estados Unidos e a Europa, eu lamento, mas, aceito, afinal, faz parte da fraqueza de espírito de muitos. Difícil é ver investido no cargo de Presidente da República, quem tem tal complexo mais exaltado. Não há na carreira militar ou política de Bolsonaro nada que endosse seu alçamento ao maior cargo eletivo da Nação. Não dá nem para alegar que ele iludiu o povo com seu discurso nos debates, afinal, ele não foi a nenhum debate e sua oratória é tosca. Foi um péssimo militar, sofreu processo disciplinar (planejou atentado a bombas). Em várias oportunidades demonstrou ser favorável à ditadura, à tortura, à misoginia, à homofobia, à sonegação fiscal, ao machismo, ao armamentismo, etc. Ao receber a faixa do golpista Michel Temer afirmou que com sua eleição iria libertar o povo do socialismo e do politicamente correto.

            Socialismo que no Brasil nunca houve, pois, jamais a propriedade privada dos meios de produção (fazendas, bancos, indústrias, etc.) foi extinta. Quanto ao politicamente correto, esta é a forma civilizada com que um presidente de uma grande nação deve se pautar, afinal ele é enquanto presidente, o cartão de apresentação do país. Com seu governo, recheado de militares para nenhum general da ditadura militar (1964-85) poder se comparar, a imagem que o mundo tem do Brasil, infelizmente, é de uma autêntica República das Bananas. Há quem ria do Brasil, há quem se indigne com as ações governamentais em temas pungentes de discussão mundial como a questão ambiental e há quem tenha muita pena dos brasileiros. Lembro que quando estudante em plena ditadura militar, ouvíamos que o mundo inteiro admirava a beleza da bandeira brasileira, por todos considerada a mais bonita. Nunca consegui confirmar a fonte dessa afirmação tão popularizada, penso que se tratava de uma fake news para inspirar nos jovens um patriotismo ufanista embalado por "Eu te amo meu Brasil" de Don e Ravel, obrigatório nas escolas públicas juntamente com a execução dos hinos. Nem por isso, há evidências comprováveis cientificamente de que essa geração se tornou mais patriótica. Há muitos políticos dessa geração fazendo a velha política e, dela também muitos empresários roubando a Mãe-Pátria ao sonegar impostos.

            A bandeira nacional instituída em 19 de Novembro de 1889, trouxe poucas alterações àquela utilizada pelo Império. Manteve-se a cor verde da Casa de Bragança (D.Pedro I) e o amarelo da Casa de Habsburgo (D. Leopoldina). Falar de matas e ouro é conversa para boi dormir, digo mais, nossa bandeira deveria ser vermelha, afinal, na língua Tupi-Guarani "Brasil" significa vermelho. Na antiga base, se inseriu uma esfera celeste com as estrelas representando as unidades federativas. No centro do círculo a inscrição "Ordem e Progresso" vem do lema positivista de Augusto Comte (1798 - 1857) que dita: "O amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim". Há quem diga que a palavra "amor" não foi incluída, porque a tornaria longa. Outros dizem que isso ocorreu devido a necessidade de passar uma imagem viril. Numa terra em que o sistema escravocrata vigorou por mais de três séculos, o face-lift superficial da bandeira nacional e a exclusão da palavra amor, evidencia toda a sua história cuja macro política nacional ao se ver ante a inevitabilidade da mudança, muda apenas para manter tudo como está. Bolsonaro no poder é uma contrarrevolução preventiva de  uma elite cruel, mesquinha, sanguinária e impatriótica. A falta de amor neste país não se denota apenas na bandeira, mas no olhar que se esquiva ante o mendigo que cata no lixo o que comer, nos ouvidos que se fazem moucos perante as notícias da miséria, da fome, da injustiça social. Dói ver a bandeira nacional ser usada como símbolo de um movimento político nefasto à democracia, à liberdade, à Justiça Social, mas, entendo, embora não concorde que, quem sempre desfrutou de privilégios injustos os queira manter. O que corta o coração é ver tal bandeira (e o que ela hoje simboliza) na frente de casas humildes. Neste caso, o sentimento de repugnância ante mansões é tomado pelo sentimento de tristeza, de pena, de impotência.

sábado, 16 de outubro de 2021

Sem assunto

 

           Há tarefas para as quais nunca nos julgamos preparados adequadamente e, segundo um amigo professor universitário, nunca estaremos, pois temos a tendência a acreditar que com mais tempo poderemos fazer melhor e, isso não acaba nunca. Há um tempo para cada tarefa, embora muitas vezes, esta tenha que vir à luz sem que o tempo ideal para a sua gestação tenha ocorrido. Li que devemos sempre desconfiar das pessoas muito autoconfiantes, pois, nelas muitas vezes falta a competência para fazer algo bem feito. Há uma grande diferença entre ser capaz de realizar um trabalho e de fazer um trabalho de boa qualidade. Vivemos na sociedade da aparência, das fake news e dos analistas políticos de manchetes noticiosas, os quais devem pensar: ler para quê a notícia, se pela manchete já sei o seu conteúdo? O presidente Bolsonaro disse que "os livros hoje em dia, como regra, são um montão de amontoados de muita coisa escrita e que precisam ser suavizados".  Essas notícias e esses livros, sempre tão extensos... por que não adotam o padrão Tweeter de 140 caracteres? Na sala de aula não são poucos os alunos que reclamam de ler uma lauda ou de que as questões exijam a interpretação de um pequeno texto. Na mídia digital, muitas vezes a manchete não condiz com o conteúdo e vejo gente compartilhando coisas que no fundo discordam.

            Tenho em minha estante centenas de livros não lidos, para garantir a posse, adquiro mais livros do que a minha capacidade de leitura. Já deixei de comprar livros que esgotaram e tive que adquirir usados em sebos. Tendo em vista os analistas de manchetes, para não ficar angustiado de não poder ler tanto quanto gostaria, talvez devesse ler apenas os títulos dos livros para adquirir o conhecimento pleno de seus conteúdos. Ledo engano, não se julga uma pessoa pela aparência, menos ainda um livro. Há que se desvelar a essência, há que se conhecer e para isso, é necessário ler as linhas e refletir as entrelinhas. "Pensar é o trabalho mais difícil que existe, talvez por isso tão poucas pessoas se dediquem a ele" disse o empresário Henry Ford (1863-1947), o filósofo grego Sócrates, anterior a Ford disse também: "quem não pensa, é pensado pelos outros". Mas ler, estudar, cansa, talvez seja melhor deixar a canoa seguir seu rumo a remar contra a correnteza. Quanto a possibilidade de haver uma catarata, basta não torcer contra que a economia brasileira vai bombar.

            As notícias dos últimos anos, mostraram a crise das livrarias. A pandemia agravou uma situação que já era difícil e grandes livrarias físicas fecharam pelo país. Apesar de não ser curitibano, senti fortemente o fechamento da Livraria Cultura do Shopping Curitiba. A sensação que sentia naquele local não é possível traduzir em palavras. Caminhar entre as estantes, garimpar obras, das quais muitas vezes nem sabia existir e trazer para casa juntamente com outras para a família. Dar livros para os filhos é importante, mas, o maior estímulo para eles é ver seus pais lendo. Eu sei que o livro, por seu preço é inacessível a grande parcela da população. O governo também não ajuda, o Ministro da Economia Paulo Guedes, resolveu tributá-los, pois, segundo ele quem lê são os ricos e não os pobres. Isso é de uma maldade gigantesca, ao invés de democratizar (subsidiar) o acesso aos livros, tributa-se e com isso deixa-os ainda mais inacessíveis aos pobres.

            No país onde o Ministro da Educação, o Ministro da Economia e vários parlamentares da base de apoio do governo são contra a democratização do acesso dos filhos da classe trabalhadora à universidade e o Ensino Médio é desfigurado em prejuízo do estudante pobre, logo se vê que Darcy Ribeiro (1922-1997) tinha razão quando afirmou: "A crise na educação nunca acaba, porque não é uma crise, mas um projeto". A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo disse Nelson Mandela (1918-2013). A elite brasileira sabe disso...e está desarmando a classe trabalhadora, pois, o único pobre que incomoda o seu olhar é aquele que pensa!

Em tempo: Parabéns aos/às professores/as pela passagem do seu dia!

sábado, 9 de outubro de 2021

Senna x Piquet no Brasil da polarização

 

        Há algum tempo li/assisti debates nas mídias sociais  acerca da eterna discussão sobre quem foi o melhor piloto brasileiro na Fórmula 1. Nas discussões, especialistas e amantes do esporte apresentavam seus argumentos enquanto imagens de disputas nas pistas entre Ayrton Senna (1960-1994) e Nelson Piquet eram exibidas. Os contendores também lembraram as desavenças entre os dois pilotos. Houve a citação de uma entrevista em que Senna foi cobrado por seu desaparecimento da mídia (após Piquet ser campeão) tendo ele respondido que se afastou para dar espaço para Piquet aparecer. Em várias oportunidades Piquet teceu críticas a Senna e inclusive ataques à sua honra. Não pude deixar de questionar-me: como esses fatos dizem respeito a algo do passado distante, por que ainda hoje há debates tão acalorados em defesa de um ou de outro?

            Intrigado, comecei ler os comentários das pessoas que leram/assistiram tais matérias e concentrei-me naqueles mais agressivos que eram em sua maioria dirigidos em desfavor de Senna. Constatei que quase todos eram perfis de apoiadores de Bolsonaro e que as alegações eram baseadas em valores emotivos (não racionais), pois não eram fundamentadas em dados estatísticos quanto ao aproveitamento de cada piloto. Lembrei-me de várias reportagens que li/assisti sobre Piquet que sempre fez o estilo "bad boy" desde os rachas da juventude na ruas de Brasília até sua carreira na Fórmula 1. Lembro que certa vez Piquet ganhou o "Prêmio Limão" por ser escolhido pelos jornalistas como a personalidade mais antipática no trato com a imprensa. Piquet em reportagens recentes disse que os jornalistas eram muitos burros e não entendiam nada do esporte. Piquet várias vezes dirigiu críticas à TV Globo, que abraçou Senna. Ayrton Senna fazia o estilo "bom moço" e era muito simpático com os jornalistas, Piquet, porém afirmava que Senna se utilizava de esperteza (estratégia de marketing) junto à imprensa.

            Ao visitar os perfis dos bolsonaristas fãs de Piquet,  tive a certeza que com ele  se sentiam identificados e supus que gostavam do seu estilo "bad boy". Até aquele momento (apesar de supor) não havia encontrado nenhuma fala de Piquet em apoio a Bolsonaro (agora há).  Essa dúvida acabou quando a TV mostrou Piquet dirigindo o Rolls Royce presidencial que conduzia Bolsonaro no último desfile do Dia da Pátria. Passei a me questionar sobre Senna, caso vivo estivesse, qual seria seu posicionamento (ante essa polarização)? Hoje sabemos que Senna sem publicizar contribuía com obras de caridade, mas, jamais se posicionou em favor de uma corrente política. Suponho que assim continuaria, falando de automobilismo e contribuindo com obras de caridade, porém, jamais emprestaria seu prestígio para alavancar alguma corrente político-partidária e, sabemos, o voto é secreto. Não tive,  com este artigo, a intenção de afirmar quem deles foi o melhor, porém, a estatística mostra que Piquet (apesar de ser um piloto formidável) é quem teria que ir ao encalço de Senna (não o contrário), porém (como ser humano) Senna (em vida) fez várias voltas de vantagem sobre Piquet!

sábado, 2 de outubro de 2021

A educação é a última trincheira contra a barbárie

 

        Vivemos tempos de negacionismo, de fake news e de obscurantismo. O físico, filósofo da ciência, humanista, defensor do realismo científico, do sistemismo e da filosofia exata Mário Bunge (1919-2020) sobre isso afirmou: "É mais fácil negar a ciência do que estudá-la".  A parcela da sociedade pouco afeita ao estudo e à busca do conhecimento científico demonstra ódio a quem baseia suas ações e argumentações no conhecimento científico e, a estas se contrapõem se baseando no senso comum para interpretar os fatos a seu bel-prazer dando a eles os tons que deseja. O intelectual estadunidense Noam Chomski disse (acertadamente) que as pessoas já não acreditam nos fatos, mas nas interpretações/distorções dos fatos que mais lhe agradam.

            Pesquisas científicas mostram que, pela primeira vez, os filhos têm QI's (quociente intelectual) mais baixos que os de seus pais. Como se trata de algo novo, evidentemente os estudos prosseguem na busca do entendimento das causas de tal fato. É verdade que os jovens são bombardeados por informações e têm todo um aparato tecnológico a sua disposição. Sabemos, porém que o conhecimento é a reflexão/interpretação criteriosa da informação acerca dos fatos, sendo que é neste ponto que a coisa  degringola. O ato de ler, refletir e formular as hipóteses/respostas é a receita para a construção do conhecimento na mente do jovem e, muito disso se perdeu. A juventude tem acesso à informação, mas, não consegue identificar a inter-relação entre os fatos, suas causas e consequências, afinal, nunca foi tão fácil encontrar respostas para as atividades da escola (tarefas, trabalhos e provas), não é necessário sequer ler (e muitos não leem mesmo), basta digitar a pergunta no Google. Esse momento que vivemos foi retratado pelo cinema no filme "Idiocracy", no qual a pessoa mais idiota do século XX foi descongelada e revivificada (criogenia) no século XXV, numa época da onipresença da tecnologia, na qual ela passa a assombrar a humanidade com sua "grande intelectualidade". Nessa época de pandemia, constatamos que nenhuma tecnologia substitui o professor em sala de aula, mas, também que, para parte dos pais, a preocupação central não é com a aquisição do conhecimento por parte de seus filhos e, sim com um lugar para deixar os filhos enquanto trabalham, ou seja, não vêm na escola, aquilo que ela de fato é, um local para a construção do conhecimento.

            Em tempos autoritários é comum haver ataques ao conhecimento, nesses períodos, os livros e as reputações de professores e cientistas são queimados. Ataca-se a escola porque ela ensina os estudantes a pensar. Afirmam que ela doutrina os estudantes, quando é o inverso, pois, ao ensinar os estudantes a refletir, estes passam a ver e interpretar o mundo por si próprios. Há um provérbio popular que afirma: "Mente vazia, oficina do diabo". O diabo é ausência de luz, ausência da razão (conhecimento). O diabo é o negacionismo/fake news. Negacionismo é um termo educado para se referir a essa gente burra e preguiçosa que vê como atividades penosas, a leitura e a reflexão daquilo que lê/ouve. Ao longo da história, todo progresso humano seja na cura para as doenças ou na inovação tecnológica sempre se fez por meio da ciência. Em todos os tempos históricos, o negacionismo sempre foi o promotor do atraso social e econômico. E para essa gente (muitos se dizem religiosos de ofício ou de fé) lembro que no livro do Gênesis (cap. 1, vers. 1-5) Deus disse "faça-se a LUZ" e, não faça-se a escuridão!