O leitor acostumado a ler livros clássicos certamente lembrou de "Paris é uma festa" do famoso escritor Ernest Hemingway (1899-1961), informo-o que aqui não há, nenhuma correspondência entre a obra citada (ainda não lida por este escriba) e as linhas aqui escritas. É importante que ao iniciar esta reflexão, eu diga que considero o pré-candidato Ciro Gomes (PDT) à Presidência da República (2022) um grande quadro, pois, é portador de uma sólida formação intelectual e tem uma ampla experiência nos meandros da política e na administração pública. Também é importante deixar claro que, apesar das críticas que tenho para com o pré-candidato, eu o apoiaria no segundo turno contra Bolsonaro ou qualquer outro candidato da direita. Quem acompanha meus artigos, sabe que considero os posicionamentos de caráter público de personalidades (de interesse da sociedade) como objetos de análise, cujas críticas, quando por mim publicadas, ocorrem sempre no "mundo das ideias" e, jamais constituem ataques de caráter pessoal.
A primeira parte
do título é uma ironia à atitude do candidato Ciro Gomes que, derrotado no
primeiro turno da eleição presidencial de 2018, não se engajou na campanha de
Fernando Haddad (PT), o candidato da esquerda na disputa do segundo turno
contra o candidato da extrema-direita Jair Bolsonaro (PSL). O que me incomoda¹
(falo como cidadão que sempre teve Ciro Gomes como plano B) é a decepção que
tive quando ele viajou para a capital francesa, apesar dos riscos e dos fortes
atrasos sociais e econômicos que a vitória de Bolsonaro poderiam trazer ao país
e ao povo brasileiro. Eu senti¹ como se ele, em revanche por não ter sido levado
ao segundo turno, desse as costas para o país e consequentemente para o povo.
Embora não seja filiado a nenhum partido, nunca escondi de ninguém e, inversamente,
sempre fiz questão de deixar claro o meu posicionamento ideológico de esquerda.
Não é apenas como um militante da esquerda que me senti¹ ferido, mas, como
cidadão. Não consigo digerir tal atitude anti-solidária de Ciro com a esquerda
e, acima de tudo com grande parcela do povo brasileiro.
Em sua defesa, integrantes da "equipe Ciro
Gomes" afirmam que Lula e o PT nunca foram solidários com o candidato
pedetista. Penso que faz parte do jogo político, no primeiro turno, apoiar candidatos
cujo projeto se considera o mais próximo (ou menos distante) do ideal almejado,
mas esta não é a realidade do segundo turno. No segundo turno, deve haver a
união de forças em favor do projeto de linha ideológica minimamente palatável
(ou menos nefasta) sobrevivente. Ciro para receber a solidariedade, o apoio que
tanto deseja de Lula, do Partido dos Trabalhadores (PT) e dos demais segmentos
da esquerda, precisa fazer-se viável e chegar ao segundo turno (algo que até
aqui não fez, pois não ultrapassa nas votações a marca de 12%). Quanto ao segundo
turno de 2018, caso Ciro (o tivesse alcançado e) fosse o candidato opositor a
Bolsonaro, não tenho dúvidas de que teria o apoio maciço da esquerda, a qual se
esforçou em evitar a catastrófica eleição de Bolsonaro. O que fez Ciro Gomes?
Foi a Paris, dando a impressão de dar "uma banana" para os petistas
e, para o povo que não o levou ao segundo turno. É difícil dizer se o engajamento
de Ciro Gomes na campanha da esquerda poderia ter evitado a trágica ascensão de
Bolsonaro ao Planalto, possivelmente não, porém, Ciro teria tido uma atitude
digna e ganho pontos perante os eleitores opositores à extrema-direita
bolsonarista.
Ciro Gomes e seus apoiadores também alegaram que a
atitude de neutralidade ante a disputa Haddad
e Bolsonaro seria a mais coerente, tendo em vista as críticas que tinha
às gestões dos petistas enquanto no poder estiveram, em especial, ao governo de
Dilma. Penso que não há como considerar coerente uma postura de neutralidade
quando a disputa ocorria entre Haddad e Bolsonaro. É importante frisar: a
disputa era Haddad x Bolsonaro, ou seja, contra Bolsonaro e todo o atraso
socioeconômico que ele representava. Como cidadão, digo que Ciro falhou não
apenas com a esquerda, mas, com parcela expressiva do povo brasileiro que temia
pela eleição de Bolsonaro e, hoje paga um elevado custo com a política de
destruição do Estado de Bem-Estar Social levado a cabo pelo Governo Bolsonaro
que precariza as condições de vida dos trabalhadores e no plano internacional, destrói
a imagem do país perante as nações.
1. Leia-se: Sentimento
correspondente ao de grande parcela dos eleitores da esquerda opositores a
Bolsonaro.