Quando Fernando Henrique Cardoso foi escolhido para ser o candidato à sucessão de Itamar Franco (1930-2011) nas eleições de 1994, um parlamentar situacionista contestou um cacique político idealizador/apoiador da chapa FHC (PSDB)/Marco Maciel (PFL), afirmando: "Vocês estão loucos, o homem (FHC) é comunista"! O cacique político acostumado aos meandros do poder mesmo nos tempos da ditadura militar (1964-85) e, cuja influência política alcançava toda a aldeia tupiniquim (que conhecemos como Brasil), confidenciou ao seu interlocutor: "Às vezes, para que nada mude, é necessário mudar"! FHC tomou para si o título de "Pai do Plano Real", cuja verdadeira paternidade é de Itamar Franco que nunca perdoou a traição de FHC, que, sob seu apoio, foi lançado como candidato para um mandato tampão (a Constituição Federal não permitia reeleição), após o qual, Itamar desejava ser o candidato situacionista e retornar ao Planalto, porém, FHC em mais um casuísmo eleitoral (algo comum na história nacional), alterou a Constituição Federal, num "golpe branco" que contou inclusive com denúncia da compra de votos de parlamentares (caso Ronivon Santiago), possibilitando a sua reeleição em 1998. FHC afirmou que não sabia da compra de votos de parlamentares, porém, me pergunto: Como parlamentar constituinte e que contribuiu na elaboração da Carta Constitucional (1988) ele não sabia que mudar a Constituição Federal de forma a beneficiar aqueles que à época eram detentores de cargos políticos do Poder Executivo (ele, inclusive) era algo ética e moralmente condenável? Permitir a reeleição (via emenda constitucional) para os próximos mandatários, não haveria o que falar (exceto a compra de votos). Essa se tornou uma das muitas manchas na biografia de FHC, pois, se não partiu dele a iniciativa para a alteração constitucional, contou com sua anuência, pois, não se colocou contrário.
O "príncipe dos sociólogos" (como FHC é
conhecido com certa galhofa), foi escolhido para ser Ministro da Fazenda
durante o governo de Itamar Franco para fazer a condução política do Plano
Real. Itamar Franco desde sua posse, em
sucessão a Fernando Collor de Melo (PRN) que teve o mandato abreviado por um
impeachment, concentrou esforços na área econômica e, trouxe para o governo
uma equipe de economistas experientes,
cujos conhecimentos vinham de planos econômicos anteriores que ajudaram a
construir, pois, sabiam o que funcionou e onde fracassaram. FHC ocupava o cargo
de Ministro das Relações Exteriores e, nesse período, a equipe econômica já
trabalhava na montagem do Plano Real. Há entrevistas gravadas do político e
economista de formação Ciro Gomes (PDT) em que ele conta toda essa história.
FHC foi o lançador da nova moeda, o Real e, capitalizou para si o sucesso de
todo o Plano Real, algo descabido. Como sabemos, uma mentira contada mil vezes
se torna verdade, não faltam artigos jornalísticos escritos por jornalistas e
políticos atribuindo a FHC, a paternidade do Plano Real, motivados pelo
contexto de época. Era preciso capitalizar a campanha eleitoral de FHC e,
funcionou, a eleição sob o mote "do Salvador da Pátria que nos livrou da
hiperinflação", uma das muitas heranças malditas da ditadura militar, se
deu com vitória no primeiro turno por meio da rotineira estratégia conservadora
da "exploração do medo", pois, à Lula foi atribuído o grande risco da
descontinuidade do Plano Real e, dessa forma, do fim da estabilidade econômica.
Enfim, concluo dizendo que o cacique político estava
certo, no governo FHC (1995-2002) nada mudou, o ordenamento social vigente
permaneceu. As iniciativas de cunho social foram tímidas demais. O governo do
tucano ficou marcado pela implantação selvagem do fundamentalismo neoliberal no
país e, pelo processo de privatização eivado de vícios que ficou conhecido como
privataria (privatização+pirataria). O Estado de Bem-Estar Social previsto na
Constituição Federal começou a ser desmontado e continua pelas mãos de
Bolsonaro na perseguição do ideal de Estado Mínimo para o povo. O eleitor de
FHC/Bolsonaro perseguiu com a eleição destes, a imutabilidade do ordenamento
social e, nisso foi exitoso. No entanto, entre os eleitores arrependidos de
Bolsonaro, há um certo saudosismo de FHC, e isso tem sua razão de ser, afinal,
mesmo para quem votou em FHC, se ver na condição de eleitor de Bolsonaro e tudo
o que ele representa, sob o ponto de vista ético e moral, é algo a se esconder
da biografia pessoal, pois, é fator de constrangimento.
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