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sábado, 8 de maio de 2021

O país da hipocrisia

 

               A pandemia de Covid 19 escancarou a desigualdade social existente em nosso país. A crise sanitária alargou e aprofundou o fosso que sempre separou os privilegiados e os excluídos. A penúria volta aos lares de  milhões de pessoas abandonadas pelo Estado Brasileiro que acena com um arremedo de auxílio emergencial. O Governo Federal empunha a bandeira do neoliberalismo com um fanatismo de corar de vergonha o presidente da nação símbolo do liberalismo mundial, os Estados Unidos, cujo presidente (Biden) acena com mais Estado. O Governo Bolsonaro demonstra ser incapaz de apresentar soluções para a crise sanitária, ambiental, econômica e política, pois, é a causa de muitos dos problemas que afligem a sociedade. O país virou motivo de pena, quando não de repulsa perante as nações civilizadas. Bolsonaro foi humilde quando disse que chegava ao poder para destruir tudo que o Partido dos Trabalhadores (PT) fez, pois, está ido além, há retrocessos em todas as áreas.  Segundo o IBGE, somos a décima segunda economia e o nono país mais desigual dentre as pouco mais de duzentas nações do planeta. Há pouco tempo, sob o governo progressista de Lula (2003-2010) o Brasil se viu alçado à sexta posição dentre as maiores economias mundiais e viu a desigualdade social ter uma tímida, mas, importante redução. E isso incomodou muito os setores conservadores da sociedade.

            Os conservadores são aquelas pessoas que adoram fazer caridade nas épocas festivas, tais como o Natal, mas que não medem esforços no resto do ano e, principalmente em épocas eleitorais para evitar que a justiça social se implante de fato. Há ainda aqueles que se dizem cristãos e contraditoriamente apóiam/patrocinam os promotores do atraso social. Lembro de Paulo Freire (1921-1997) quando disse: "Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso. Amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade". Paulo Freire é o terceiro teórico mais citado no mundo e cujas contribuições para a educação são estudadas em inúmeras universidades, dentre estas a prestigiadíssima Harvard. A extrema direita odeia Paulo Freire e, ao fazer isso, mostra seu caráter reacionário, cruel, mesquinho e egoísta ao não aceitar a evolução da sociedade. Ao não concordar que a Educação seja um lugar onde as pessoas aprendam a pensar e se tornem aptas a contribuir na melhoria da sociedade, as elites brasileiras demonstram preferir que as escolas formem um "trabalhador do tipo bovino, com muita capacidade muscular para o trabalho e com pouco cérebro para refletir", tal como o engenheiro mecânico Frederick Taylor (1856-1915) considerava ser o trabalhador ideal.

            Vi uma fotografia de um muro pichado com a frase: "a miséria não acaba porque dá lucro". A frase, de uma realidade nua e crua (que demandaria um artigo apenas para sua reflexão) escancara o projeto pensado pelas elites para o nosso país. Afinal, nenhum país historicamente posicionado entre as maiores economias mundiais se tornaria tão desigual sem que isso fizesse parte de um projeto. O projeto de acumulação selvagem. A lei do mais forte. Mesmo o capitalismo, para funcionar de "forma azeitada" precisa de uma melhor distribuição de renda, embora por sua natureza, opere para a concentração em poucas mãos evidenciando, no mínimo, a necessidade da intervenção estatal nos moldes propostos pelo economista e capitalista John Maynard Keynes (1883-1946). Esse país tem suas raízes na escravidão, a escravidão legalmente não mais existe, mas, a mentalidade escravocrata nunca saiu da mente de nossas elites, quando eu digo elites, me refiro à elite econômica e a elite cultural. A elite econômica (do patrimônio) que, tal como o senhor de escravos e a elite cultural que lhe é subserviente (com origem na classe média) na qualidade de feitor de escravos, tudo fazem desde 1888, para que apesar das mudanças, nada mude de fato. Após a carreata dos patrões ocorrida em cerca de quinhentas cidades do Brasil em pleno 1º de maio, dia do trabalhador, uma dúvida me assalta a mente: Será que após a abolição da escravatura, os ex-senhores de escravos faziam carreatas com suas carruagens ou o que o valha na passagem da data de 13 de maio visando o bem do Brasil e dos seus líderes, enquanto estes trabalhavam para que os recém-libertos continuassem agrilhoados à senzala da pobreza e que jamais tivessem acesso à Casa Grande de uma vida com dignidade humana?

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