A pandemia de Covid 19 escancarou
a desigualdade social existente em nosso país. A crise sanitária alargou e
aprofundou o fosso que sempre separou os privilegiados e os excluídos. A
penúria volta aos lares de milhões de
pessoas abandonadas pelo Estado Brasileiro que acena com um arremedo de auxílio
emergencial. O Governo Federal empunha a bandeira do neoliberalismo com um
fanatismo de corar de vergonha o presidente da nação símbolo do liberalismo mundial,
os Estados Unidos, cujo presidente (Biden) acena com mais Estado. O Governo
Bolsonaro demonstra ser incapaz de apresentar soluções para a crise sanitária,
ambiental, econômica e política, pois, é a causa de muitos dos problemas que
afligem a sociedade. O país virou motivo de pena, quando não de repulsa perante
as nações civilizadas. Bolsonaro foi humilde quando disse que chegava ao poder
para destruir tudo que o Partido dos Trabalhadores (PT) fez, pois, está ido
além, há retrocessos em todas as áreas. Segundo o IBGE, somos a décima segunda economia
e o nono país mais desigual dentre as pouco mais de duzentas nações do planeta.
Há pouco tempo, sob o governo progressista de Lula (2003-2010) o Brasil se viu
alçado à sexta posição dentre as maiores economias mundiais e viu a
desigualdade social ter uma tímida, mas, importante redução. E isso incomodou
muito os setores conservadores da sociedade.
Os conservadores são aquelas pessoas que adoram fazer
caridade nas épocas festivas, tais como o Natal, mas que não medem esforços no
resto do ano e, principalmente em épocas eleitorais para evitar que a justiça social
se implante de fato. Há ainda aqueles que se dizem cristãos e
contraditoriamente apóiam/patrocinam os promotores do atraso social. Lembro de
Paulo Freire (1921-1997) quando disse: "Eu sou um intelectual que não tem
medo de ser amoroso. Amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e
amo o mundo que eu brigo para que a justiça social se implante antes da
caridade". Paulo Freire é o terceiro teórico mais citado no mundo e cujas contribuições
para a educação são estudadas em inúmeras universidades, dentre estas a
prestigiadíssima Harvard. A extrema direita odeia Paulo Freire e, ao fazer
isso, mostra seu caráter reacionário, cruel, mesquinho e egoísta ao não aceitar
a evolução da sociedade. Ao não concordar que a Educação seja um lugar onde as
pessoas aprendam a pensar e se tornem aptas a contribuir na melhoria da
sociedade, as elites brasileiras demonstram preferir que as escolas formem um "trabalhador
do tipo bovino, com muita capacidade muscular para o trabalho e com pouco
cérebro para refletir", tal como o engenheiro mecânico Frederick Taylor
(1856-1915) considerava ser o trabalhador ideal.
Vi uma fotografia de um muro pichado com a frase: "a
miséria não acaba porque dá lucro". A frase, de uma realidade nua e crua
(que demandaria um artigo apenas para sua reflexão) escancara o projeto pensado
pelas elites para o nosso país. Afinal, nenhum país historicamente posicionado
entre as maiores economias mundiais se tornaria tão desigual sem que isso
fizesse parte de um projeto. O projeto de acumulação selvagem. A lei do mais
forte. Mesmo o capitalismo, para funcionar de "forma azeitada"
precisa de uma melhor distribuição de renda, embora por sua natureza, opere para
a concentração em poucas mãos evidenciando, no mínimo, a necessidade da
intervenção estatal nos moldes propostos pelo economista e capitalista John
Maynard Keynes (1883-1946). Esse país tem suas raízes na escravidão, a
escravidão legalmente não mais existe, mas, a mentalidade escravocrata nunca
saiu da mente de nossas elites, quando eu digo elites, me refiro à elite
econômica e a elite cultural. A elite econômica (do patrimônio) que, tal como o
senhor de escravos e a elite cultural que lhe é subserviente (com origem na classe
média) na qualidade de feitor de escravos, tudo fazem desde 1888, para que apesar
das mudanças, nada mude de fato. Após a carreata dos patrões ocorrida em cerca
de quinhentas cidades do Brasil em pleno 1º de maio, dia do trabalhador, uma
dúvida me assalta a mente: Será que após a abolição da escravatura, os
ex-senhores de escravos faziam carreatas com suas carruagens ou o que o valha
na passagem da data de 13 de maio visando o bem do Brasil e dos seus líderes,
enquanto estes trabalhavam para que os recém-libertos continuassem agrilhoados
à senzala da pobreza e que jamais tivessem acesso à Casa Grande de uma vida com
dignidade humana?
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