O leitor certamente já ouviu falar de Simón Bolívar(1783-1830),
por conta do falecido presidente venezuelano Hugo Chávez (1954-2013) que fazia
seus discursos com uma tela do libertador ao fundo da imagem. Por iniciativa
presidencial e com aprovação parlamentar, o nome do país foi alterado para
República Bolivariana da Venezuela. Não demorou e começaram a dizer que Bolívar
era marxista, o detalhe é que quando Bolívar morreu, Karl Marx (1818-1883)
tinha apenas 12 anos e, mais curioso ainda, o próprio Karl Marx mais tarde
estudou a trajetória de Bolívar e a ele teceu duras críticas. Nos países
libertados por Simón Bolívar (Venezuela, Colômbia, Panamá, Equador, Peru e
Bolívia) ele é um herói universal, não se considera ser ele de esquerda ou
direita. Inclusive o nome oficial da Bolívia é em sua homenagem. Bolívar, nascido
em Caracas, era descendente de espanhóis, porém, "criollo" (nascido
em colônia), o que era motivo de depreciação ante os espanhóis. Bolívar ainda
muito jovem, perdeu seus pais e herdou uma gigantesca fortuna em fazendas,
escravos, minas, imóveis residenciais, etc. porém, somente após atingir a
maioridade e se casar teve acesso a seus bens. O jovem e rebelde Bolívar foi
enviado a Madrid, onde estudava e buscava recuperar um título nobiliárquico. Lá
conheceu Maria Tereza Rodriguez del Toro y Alayza (1781-1803) com quem se casou
em 1802. De volta à sua terra natal, sua felicidade foi curta, pois, sua esposa
faleceu de febre amarela.
Bolívar prometeu e cumpriu nunca mais se casar, porém,
galanteador, estava sempre acompanhado de namoradas e "amigas" nos
locais aonde a guerra o levava. Tal fato não contribuía para a boa imagem do
Libertador que, também era tido como autoritário. Ainda na Europa, havia jurado
que usaria todas as suas energias para libertar a América da Espanha. E usou não
só toda a sua energia, mas, todo o seu capital como contribuição para as
dispendiosas batalhas. Genial estrategista e cavaleiro incansável, conseguiu
vitórias assombrosas (dada a desproporção de forças em seu desfavor) e suas
conquistas épicas somente podem ser comparadas a do líder mongol Genghis Khan
(1162-1227) em área territorial. Bolívar foi um homem a frente de seu tempo. Seu
sonho da integração da América espanhola em uma federação à semelhança dos
Estados Unidos da América não vingou. Senhor de escravos, não teve dúvidas em
proclamar a abolição da escravatura. Autodidata, conseguia cativar a população e
conquistar braços para as batalhas. Preferia guerrear a governar. Provou o
gosto amargo das traições e das derrotas e ao final de sua curta vida, proibido
de voltar à sua Venezuela e doente, morreu pobre e foi enterrado em Santa Marta
(Colômbia) com roupas que lhe foram doadas, na presença dos poucos amigos que
restaram. Após sua morte, mesmo quem lhe traiu, mandou que se erigissem bustos
e estátuas em sua homenagem. O presidente venezuelano que proibiu seu retorno,
anos mais tarde, fez um acordo com a Colômbia, ficando em Santa Marta o coração
embalsamado de Bolívar e, sendo seu corpo transladado à Caracas, onde repousa
em um panteão. Simón Bolívar é uma personagem mundialmente reconhecida à
esquerda e à direita do espectro político-ideológico, então, chamar alguém de
"bolivariano" não constitui xingamento, mas, elogio. Fica a dica!
P.S. Na Netflix há uma série
imperdível intitulada Bolívar que conta a sua vida, amores e batalhas.
Sugestão de boa leitura:
Título: Bolívar, o libertador da América.
Autora: Marie Arana.
Editora: Três Estrelas, 2015, 607 p.
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