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sábado, 13 de março de 2021

Sobre capitalistas e macacos acumuladores de bananas

 

               O escritor, filósofo, professor de sociologia e cientista político Emir Sader publicou em uma rede social a seguinte afirmação: "Se um macaco acumulasse mais bananas do que pudesse comer, enquanto os outros macacos morressem de fome, os cientistas estudariam aquele macaco para descobrir o que diabos estaria acontecendo com ele. Quando os humanos fazem isso, nós os colocamos na capa da Forbes".  Após essa genial afirmação de Sader, nada mais seria preciso dizer neste espaço, porém, é preciso, tendo em vista que vivemos uma crise que, é ao mesmo tempo,econômica, ambiental e social e que interpretação de texto e criticidade é algo individual.

            O fato de o capitalismo estar sempre às voltas com crises econômicas é algo corriqueiro e não causa surpresa a ninguém. Há muito tempo, seus ciclos de crescimento, recessão, depressão e estagnação (ciclos de Kondratieff) foram cientificamente desvendados como algo intrínseco desse sistema. As crises econômicas apenas mostram que o sistema está funcionando em sua normalidade. Sabemos que não há bananas infinitas ou, no exemplo que usei em outra oportunidade, não há pizzas infinitas, dessa forma, também as riquezas (recursos econômicos) são finitas. Para que um macaco ou um ser humano obtenham respectivamente mais bananas ou pedaços de pizza, outros terão que perder uma parte do que lhes cabe. Assim é o sistema capitalista. A lógica usual é reduzir as migalhas que cabem aos excluídos das benesses do sistema para transferi-las a quem já tem demais. No exemplo de Sader, o macaco glutão embora não possa dar conta das bananas que possui, gosta de ter poder (de vida e morte) sobre os demais e pensa não ter ainda o quanto é capaz de possuir.

            Os capitalistas foram muito felizes em propagandear que são os benfeitores da humanidade. Afirmam e raramente são contestados, de que fazem o bem, pois, geram empregos e, dessa forma, sustentam famílias por meio dos salários pagos aos seus empregados. Nada mais falso, concedem empregos porque precisam da mercadoria "mão de obra" e pagam salários menores do que a riqueza gerada pelo trabalhador para que possam obter lucros. Se a mão de obra fosse tão somente despesa e não fonte de lucro, demitiriam os funcionários na mesma hora, como o fazem quando novas tecnologias (mais baratas que a mão de obra mais barata) chegam ou quando crises conjunturais reduzem as margens de lucros. Ninguém enriquece sozinho. Dinheiro não produz dinheiro. Apenas o trabalho gera riquezas. Os banqueiros/investidores ganham dinheiro com juros sobre o capital emprestado a empresas que geram bens e serviços ou adquirindo participações acionárias destas. Nos dois casos citados anteriormente, o trabalho é o fator gerador dos recursos financeiros que pagarão os lucros dos banqueiros/investidores. Sem trabalho não há produção de riquezas. Quando se fala em setor produtivo, penso nos trabalhadores e não nos capitalistas, que a meu ver são o setor apropriativo.

            Repito, as riquezas, assim como as bananas e as pizzas, não são infinitas. Se 1% da humanidade acumula a renda equivalente a 99% da população mundial, ou ainda, que as oito pessoas mais ricas do mundo acumulam a mesma riqueza que a metade da humanidade, não é difícil concluir que algo está errado e que a concentração financeira, tal como uma metástase se espalha pelo organismo. O tumor (câncer) superalimentado, enfraquece e adoece o organismo (sistema). Apenas os ingênuos não se dão conta que num planeta cujas(os) riquezas naturais/recursos econômicos são finitos se alguém ou algum grupo, acumula demais, para outros falta, afinal, a pobreza é um subproduto da concentração da riqueza. O capitalismo também logrou sucesso em propagandear-se como o sistema verdadeiramente democrático. Afinal, o pseudo-discurso meritocrático divide a sociedade em bem sucedidos e fracassados pelo esforço individual. Diz-se que qualquer um pode ficar milionário se trabalhar bastante. Há bilhões que trabalham bastante, mas, apenas vêm crescer a riqueza de seus patrões ante a miséria que ronda seus lares. Há quem não trabalha (especuladores) e cuja riqueza não para de crescer. E há também aqueles que defendem esse falso discurso meritocrático, mas, ironia do destino, são pobres que pensam ser ricos, ou que na qualidade de servos defendem os seus senhores. Não há democracia onde a desigualdade social, a miséria e a fome imperam. Enfim, ainda pior do que o capitalismo, é deixá-lo a mercê dos capitalistas.

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