Vivemos uma obscura e triste
época. As fake news proliferam e as pessoas já não acreditam nos fatos, pois
têm a sua disposição interpretações "a la carte" em conformidade com
aquilo que acreditam. Grassam o negacionismo, o terraplanismo, a
reinterpretação da história sem embasamento científico para atender visões
"míopes" de mundo. O liberalismo econômico atual ou neoliberalismo se
publiciza democrático quando é na verdade o mais feroz dos fundamentalismos. O
capital para se reproduzir, torna-se cada vez mais opressor e avança sobre os
direitos trabalhistas e previdenciários. A palavra reforma que geralmente
simboliza a modernização, a melhoria de algo, no caso da classe trabalhadora,
se constitui no retrocesso, na retirada de direitos, na redução salarial, na
implantação da terceirização, do trabalho intermitente, enfim, da ampliação do
precariado. As reformas nunca têm fim, mas, inversamente à propaganda oficial,
a economia não deslancha, a população empobrece, o mercado interno se contrai. O
Ministro da Economia afirma que mais reformas são necessárias para que ela deslanche.
Há quem acredite!
A pandemia avança rapidamente, a vacinação não. "Não
há mais grupo de risco e sim um país em risco", diz a genial postagem em
uma rede social. O Governo Federal incompetente, mostra-se inoperante (talvez
de forma calculada) dado o seu negacionismo e pouca preocupação humanitária.
Pessoas são reduzidas a números (que são colocados em dúvida) desconsiderando
que para suas famílias, cada vítima é a própria razão de ser e de viver delas,
pois, são insubstituíveis. Nestes tempos obscuros, o Governo Federal reduz os
recursos da saúde, cancela compra já acertada de kits de intubação e recusa
ofertas antecipadas de lotes de vacinas. O Ministro da Economia defende que
ajudas econômicas devam ser feitas às grandes empresas e não às pequenas e
microempresas, mesmo sendo estas as que mais sofrem com a pandemia e, que em
termos percentuais mais empregam. O Governo Federal sempre disposto a ajudar
banqueiros e perdoar dívidas do agronegócio, apenas sob muita pressão, concede
um diminuto auxílio emergencial temporário para as pessoas sem renda na
pandemia.
As Universidades, desde
o Golpe de Estado de 2016, tiveram seu custeio reduzido a cada ano. O Golpe não
foi contra Dilma ou o PT. Foi contra o povo brasileiro. Como é próprio do
caráter fascista de regimes e de políticos da extrema direita, o ataque à
inteligência se faz contra cientistas e professores. O Brasil há muito é
referência mundial na pesquisa e na publicação de artigos científicos na área
de Ciências Humanas. O que faz o Governo Federal? Cancela recursos para bolsas
de pós-graduação na área com a justificativa de que não há retorno financeiro
para a sociedade. Há quem concorde (como se o retorno financeiro fosse a única
razão de ser da busca do conhecimento) esquecendo/omitindo que a ditadura
brasileira (1964-85) também suprimiu essa área. O Governo do Estado do Paraná
vai na mesma direção, retira aulas de Filosofia, Sociologia e Artes e cria uma
disciplina intitulada Educação Financeira no Ensino Médio. O Secretário de
Educação parece pensar ter com isso inventado a roda. Trata-se de estudar à
parte um conteúdo da Matemática, empobrecendo a criticidade da formação humana
no Ensino Médio. A formação básica deve ser omnilateral, ou seja, integral.
Formar o ser humano para uma vida plena em sociedade e, não apenas para o
mercado. Também dá a impressão com tal medida, que, o Secretário de Educação pensa
que só é pobre quem não sabe administrar bem seu dinheiro, mesmo que este seja
incerto e, muitas vezes não vá além do salário mínimo. Um escárnio.
As autoridades de fato comprometidas em salvar vidas, são
instadas a tomar decisões difíceis arcando com o ônus político decorrente.
Fazer cálculos sobre popularidade e chances de reeleição, para pautar decisões
a serem tomadas frente a crise sanitária, desconsiderando ou minimizando as
perdas humanas, se tornou "bolsonariano" demais. Nas ruas e no
comércio, pessoas não utilizam máscaras e contribuem para o aumento do número
de contaminados, apesar dos clamores das autoridades e em total desconsideração
com o trabalho heróico dos profissionais de saúde. Falta empatia. Falta inteligência.
Sobra egoísmo. Sobra estupidez. Resta pedir aos cientistas que mudem a classificação
de nossa espécie. Homo sapiens (homem sábio) foi pretensão demais!