Érico
Veríssimo (1905-1975) nasceu em Cruz Alta (RS) e faleceu em sua eterna Porto
Alegre. Nascido numa família abastada, mas, que se arruinou financeiramente e, diante
das dificuldades econômicas e da separação dos pais, trabalhou em vários
ofícios, tendo sido inclusive farmacêutico. Mas, era nas redações de jornais e
revistas, o ambiente em que se sentia melhor. Sua paixão era escrever, porém,
não conseguia viver de sua literatura, seus livros encalhavam, embora,
chamassem a atenção desde o princípio.
"Nos livros que escrevia Érico despejava fora aquilo
que angustiava sua alma, mas, também moldava o país que sonhava e acreditava
ser possível. Érico não era dado a rompantes. Em sua obra passava a sua
mensagem de forma quase sutil, mas, não tão sutil, afinal, a Érico não faltava
coragem, mas, sobravam-lhe convicções. Érico Veríssimo defendia a justiça
social, condenava a absurda desigualdade social de seu tempo (e nesse quesito o
país piorou ainda mais). No entanto, ele não acreditava em soluções extremas
(uma revolução armada) e pensava que o Brasil haveria de ser transformado por
uma revolução por dentro, ou seja, por reformas que levadas a cabo por
sucessivos governos democráticos melhorassem a condição de vida do povo
brasileiro. [...] Em seu livro "Incidente em Antares" (1971) ele
escreveu "comunista é o pseudônimo que os conservadores e saudosistas do
fascismo inventaram para designar todo sujeito que luta por justiça
social". Mesmo sendo avesso à soluções extremas foi fichado no DOPS por
ser "comunista", ou seja, por desejar a justiça social".
(Tributo a(o) Érico Veríssimo - Novembro de 2020 - A Vista de Meu Ponto!)
Érico conta que somente conseguiu
viver de sua literatura a partir da publicação de "Olhai os lírios do
campo" (1938). Nesta obra, o escritor por meio da personagem Eugênio
Fontes (um médico), cuja história de vida é contada na primeira parte do livro,
na qual evidencia o complexo de inferioridade deste por sua origem humilde,
filho de pai alfaiate e de mãe lavadeira de roupas. O então menino pobre
consegue uma bolsa de estudos e entra num internato inglês na cidade de Porto
Alegre, dedicado, consegue mais tarde entrar na Faculdade de Medicina e se
formar. No curso, conhece Olívia, porém, ensimesmado, jamais lhe dá a devida
importância. Eugênio é egoísta, e somente pensa em se dar bem na vida. Olívia
gosta de Eugênio apesar de seus múltiplos defeitos de personalidade. Eugênio
casa-se com uma moça rica, a qual não ama, com o único interesse de entrar para
a alta sociedade e deixar para trás a pobreza. No casamento, não é feliz, sua
esposa é atraente, porém, lhe é quase uma desconhecida. Com o tempo começa a se
arrepender de ter se afastado de sua família. Apesar de estar rico e vivendo
numa mansão, se sente deslocado nos luxuosos jantares promovidos pelo sogro a
seus convivas. Não consegue se desligar de sua origem pobre. Lembra dos
momentos vividos com a amiga Olívia que está no hospital morrendo e quer lhe
ver, quando chega ao hospital, Olívia está morta.
Ela deixou-lhe cartas que o motivam
a dar uma guinada em sua vida. Pede a separação judicial, um escândalo na
época, abre mão de qualquer direito econômico resultante do casamento e, volta
a exercer a medicina e conviver com a precariedade das condições de trabalho à
época (ainda hoje, longe de ser as ideais). Eugênio anseia por uma
"medicina socializada" na qual os médicos seriam funcionários
públicos e contariam com boas condições de trabalho para exercer uma medicina
gratuita e essencialmente humana. Érico viu em seu tempo a falta que faz um
sistema público e gratuito de saúde. Na época não havia o SUS, muita gente
morria por falta de recursos financeiros, o que lhe impossibilitava o acesso à
medicina, noutras vezes, alguns médicos atendiam gratuitamente pessoas pobres.
Hoje temos o SUS, ele precisa ser melhorado, mas precisamos defendê-lo. A obra
é embasada no Sermão da Montanha e não era o livro preferido de Érico
Veríssimo, mas, é ainda hoje, o seu livro mais vendido e amado pelos leitores.
Érico que era bastante crítico ao livro que escrevera disse nunca ter entendido
o motivo de seu sucesso. O escritor morreu durante a ditadura militar
(1965-1985) sem ver o retorno do país à democracia que tanto prezava. Trata-se
de um livro inspirador. Fica a dica!
Sugestão de boa leitura:
Título:
Olhai os lírios do campo.
Autor:
Érico Veríssimo.
Editora:
Companhia das Letras, 2005, 288 p.
Preço: R$34,93.
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