Honoré de Balzac (1799-1850)
foi um prolífico escritor francês que apesar de ter morrido com apenas 50 anos,
publicou mais de 80 livros. Sua obra o alçou ao patamar dos grandes nomes da
literatura francesa e mundial, sendo também considerado o fundador do gênero
realismo na literatura moderna. O escritor era filho de um funcionário público,
que tendo vindo da pobreza, muito se esforçou para galgar posições na
sociedade. Na época, era comum os casamentos arranjados e seu pai se casou aos
cinquenta anos com uma mulher muito jovem. Honoré estudou em boas escolas, mas,
não foi aluno brilhante, entretanto, era ávido leitor. Ainda muito jovem,
resolveu que iria ganhar a vida como escritor, porém, inicialmente não obteve
sucesso, mas, não desistiu. Montou uma editora para publicar obras de outros
autores, foi à falência e acumulou vultosas dívidas, por conta das quais, o
escritor se escondia de cobradores e oficiais de justiça. Balzac (que somente
se casou aos 50 anos) costumava ter relacionamentos com mulheres maduras, sendo
algumas casadas e, foi com auxílio de uma destas que sua enorme dívida foi
paga, evitando-lhe a prisão. Essa sua benfeitora, a Madame Hanska, depois de
muitos anos de relacionamento extraconjugal, após enviuvar, casou-se com Balzac
(cinco meses antes da morte deste).
Foi somente quando começou a escrever artigos publicados
em revistas e jornais que conseguiu certa estabilidade financeira para escrever
suas obras. Até então, uma de suas irmãs lhe auxiliava financeiramente. No
início de sua carreira escreveu obras populares, nas, quais não obteve grande
sucesso. Na atualidade, sua obra tem grande permeabilidade nas camadas mais
cultas da sociedade. O livro "A mulher de trinta anos" é o primeiro
contato deste escriba com a literatura de Balzac, dessa forma, a resenha que
ora escrevo é apenas as percepções de um leigo sobre o mesmo, pois, certamente
é material para leitura conjunta e debate em salas acadêmicas. Balzac que
sempre teve grande apreço pelas mulheres maduras, via naquelas situadas na faixa de
trinta anos, uma beleza não encontrada nas mais jovens. Segundo o autor, nessa
idade, elas ainda encontram-se no auge da beleza e sua maturidade as torna mais
interessantes do que as jovenzinhas (tão procuradas para casamentos). Envolvem-se,
apenas no que desejam e o fazem com convicção. Este era (no entendimento de
Balzac), o perfil da mulher moderna do século XIX, tanto que balzaquiana se
tornou um adjetivo que qualifica a mulher de trinta anos. O escritor era um
profundo observador da psique humana e estava atento a forma de pensar e agir
de homens e mulheres independentemente de sua posição ou classe social. Balzac
foi considerado o escritor que melhor conhecia o espírito feminino, por ter
convivido, com muitas (amigas e/ou amantes) de diferentes idades e classes
sociais. Observador atento, conseguiu mesmo na condição de homem, pensar a
vida, o casamento e a sociedade (como se fosse) a partir do ponto de vista da
mulher. Nem por isso, pode-se pensar que é uma obra antenada ao feminismo que
naquela época sequer existia. É preciso que se diga que ao analisar uma obra de
época com rígido pensamento baseado em valores da atualidade se incorre em anacronismo, pois,
trata-se de um produto de seu tempo histórico e, na obra em questão, retrata
a sociedade do século XIX que tinha no
machismo (como ainda hoje) uma de suas características.
Em "A mulher de trinta anos", Balzac publica
seis partes (capítulos) que retratam a vida de uma mulher (Julie) desde seus 18
anos quando, fascinada pela beleza do militar (Victor D'Aiglemont) com ele se
casa, contrariando os veementes
conselhos de seu pai. Com pouco tempo de casamento, ela se desilude com a
instituição do casamento, a qual considera uma prostituição legalizada e que
impunha deveres para as mulheres e, liberdade para os homens. A maternidade dá
novo sentido à sua vida, mas, passa a repelir o marido (o único a tentar salvar
o casamento). O Marquês e sua esposa passam a manter um casamento de aparências
visando evitar um escândalo perante a sociedade que, em conformidade com as
convenções sociais, continuam a frequentar. Durante toda a sua vida, Julie,
frequenta a sociedade por obrigação, sendo considerada por todos como doente (atualmente, seria diagnosticada
como depressiva). Julie e seu marido têm relacionamentos extraconjugais. A
Marquesa renega Hélene, filha primogênita que teve com o marido e mima os
filhos de suas relações adúlteras. Victor, em que pese suas constantes
ausências devido às inúmeras viagens a trabalho, é bom pai e único refúgio para
a filha Hélene. Por sua vez, Julie não disfarça a preferência pela filha caçula
Moïna. A trama trata ainda da perda de entes familiares, da bancarrota e
recuperação financeira da família e, da velhice e morte da protagonista. Apenas
um dos capítulos se refere diretamente à mulher na faixa de trinta anos. O
livro é na verdade, a reunião de vários "contos" e, inspirados em diferentes mulheres que o autor
conheceu, não sendo, no entanto, relatos fiéis destas. O leitor terá a
impressão de que o livro é uma colagem de escritos que não dialogam muito bem
entre si, pois, parecem desconexos e com várias lacunas na trama. Também
constatará que a cronologia da idade de Julie ao longo da obra não fecha.
Balzac se recusou a fazer alterações no texto e afirmava que havia uma lógica
implícita que amalgamava a história. A escrita do autor é elegante e prazerosa,
além de ter conteúdo profundo que estimula a reflexão. Trata-se de uma grande
obra cuja leitura é imprescindível, como todo clássico! Fica a dica!
Sugestão de boa leitura:
Título: A
mulher de trinta anos.
Autor:
Honoré de Balzac.
Editora:
Penguin Classics Companhia das Letras, 2015, 238 p.
Preço:
R$20,42.
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