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sábado, 5 de dezembro de 2020

A mulher de trinta anos

 

Honoré de Balzac (1799-1850) foi um prolífico escritor francês que apesar de ter morrido com apenas 50 anos, publicou mais de 80 livros. Sua obra o alçou ao patamar dos grandes nomes da literatura francesa e mundial, sendo também considerado o fundador do gênero realismo na literatura moderna. O escritor era filho de um funcionário público, que tendo vindo da pobreza, muito se esforçou para galgar posições na sociedade. Na época, era comum os casamentos arranjados e seu pai se casou aos cinquenta anos com uma mulher muito jovem. Honoré estudou em boas escolas, mas, não foi aluno brilhante, entretanto, era ávido leitor. Ainda muito jovem, resolveu que iria ganhar a vida como escritor, porém, inicialmente não obteve sucesso, mas, não desistiu. Montou uma editora para publicar obras de outros autores, foi à falência e acumulou vultosas dívidas, por conta das quais, o escritor se escondia de cobradores e oficiais de justiça. Balzac (que somente se casou aos 50 anos) costumava ter relacionamentos com mulheres maduras, sendo algumas casadas e, foi com auxílio de uma destas que sua enorme dívida foi paga, evitando-lhe a prisão. Essa sua benfeitora, a Madame Hanska, depois de muitos anos de relacionamento extraconjugal, após enviuvar, casou-se com Balzac (cinco meses antes da morte deste).

            Foi somente quando começou a escrever artigos publicados em revistas e jornais que conseguiu certa estabilidade financeira para escrever suas obras. Até então, uma de suas irmãs lhe auxiliava financeiramente. No início de sua carreira escreveu obras populares, nas, quais não obteve grande sucesso. Na atualidade, sua obra tem grande permeabilidade nas camadas mais cultas da sociedade. O livro "A mulher de trinta anos" é o primeiro contato deste escriba com a literatura de Balzac, dessa forma, a resenha que ora escrevo é apenas as percepções de um leigo sobre o mesmo, pois, certamente é material para leitura conjunta e debate em salas acadêmicas. Balzac que sempre teve grande apreço pelas mulheres maduras, via naquelas situadas na faixa de trinta anos, uma beleza não encontrada nas mais jovens. Segundo o autor, nessa idade, elas ainda encontram-se no auge da beleza e sua maturidade as torna mais interessantes do que as jovenzinhas (tão procuradas para casamentos). Envolvem-se, apenas no que desejam e o fazem com convicção. Este era (no entendimento de Balzac), o perfil da mulher moderna do século XIX, tanto que balzaquiana se tornou um adjetivo que qualifica a mulher de trinta anos. O escritor era um profundo observador da psique humana e estava atento a forma de pensar e agir de homens e mulheres independentemente de sua posição ou classe social. Balzac foi considerado o escritor que melhor conhecia o espírito feminino, por ter convivido, com muitas (amigas e/ou amantes) de diferentes idades e classes sociais. Observador atento, conseguiu mesmo na condição de homem, pensar a vida, o casamento e a sociedade (como se fosse) a partir do ponto de vista da mulher. Nem por isso, pode-se pensar que é uma obra antenada ao feminismo que naquela época sequer existia. É preciso que se diga que ao analisar uma obra de época com rígido pensamento baseado em valores da  atualidade se incorre em anacronismo, pois, trata-se de um produto de seu tempo histórico e, na obra em questão, retrata a  sociedade do século XIX que tinha no machismo (como ainda hoje) uma de suas características.

            Em "A mulher de trinta anos", Balzac publica seis partes (capítulos) que retratam a vida de uma mulher (Julie) desde seus 18 anos quando, fascinada pela beleza do militar (Victor D'Aiglemont) com ele se casa,  contrariando os veementes conselhos de seu pai. Com pouco tempo de casamento, ela se desilude com a instituição do casamento, a qual considera uma prostituição legalizada e que impunha deveres para as mulheres e, liberdade para os homens. A maternidade dá novo sentido à sua vida, mas, passa a repelir o marido (o único a tentar salvar o casamento). O Marquês e sua esposa passam a manter um casamento de aparências visando evitar um escândalo perante a sociedade que, em conformidade com as convenções sociais, continuam a frequentar. Durante toda a sua vida, Julie, frequenta a sociedade por obrigação, sendo considerada por  todos como doente (atualmente, seria diagnosticada como depressiva). Julie e seu marido têm relacionamentos extraconjugais. A Marquesa renega Hélene, filha primogênita que teve com o marido e mima os filhos de suas relações adúlteras. Victor, em que pese suas constantes ausências devido às inúmeras viagens a trabalho, é bom pai e único refúgio para a filha Hélene. Por sua vez, Julie não disfarça a preferência pela filha caçula Moïna. A trama trata ainda da perda de entes familiares, da bancarrota e recuperação financeira da família e, da velhice e morte da protagonista. Apenas um dos capítulos se refere diretamente à mulher na faixa de trinta anos. O livro é na verdade, a reunião de vários "contos" e,  inspirados em diferentes mulheres que o autor conheceu, não sendo, no entanto, relatos fiéis destas. O leitor terá a impressão de que o livro é uma colagem de escritos que não dialogam muito bem entre si, pois, parecem desconexos e com várias lacunas na trama. Também constatará que a cronologia da idade de Julie ao longo da obra não fecha. Balzac se recusou a fazer alterações no texto e afirmava que havia uma lógica implícita que amalgamava a história. A escrita do autor é elegante e prazerosa, além de ter conteúdo profundo que estimula a reflexão. Trata-se de uma grande obra cuja leitura é imprescindível, como todo clássico! Fica a dica!

Sugestão de boa leitura:

Título: A mulher de trinta anos.

Autor: Honoré de Balzac.

Editora: Penguin Classics Companhia das Letras, 2015, 238 p.

Preço: R$20,42.

 


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