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sábado, 26 de dezembro de 2020

Encarnação

 

José de Alencar (1829-1877) foi um romancista, dramaturgo, jornalista, advogado e político brasileiro. José Martiniano de Alencar Júnior (seu nome de batismo) nasceu em Mecejana no Ceará a 1º de maio de 1829. Filho de José Martiniano de Alencar (Senador do Império) e de Ana Josefina. Em 1838, a família mudou-se para o Rio de Janeiro (então capital do país). Na capital presenciava os encontros políticos de seu pai com importantes autoridades nacionais. Ingressou no curso de Direito da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, porém, concluiu o curso pela Faculdade de Direito de Olinda em 1851. Leitor ávido dos maiores expoentes da literatura nacional e estrangeira resolveu que seria escritor de romances, no entanto, suas primeiras iniciativas na área ficaram inacabadas e, outras somente foram publicadas após sua morte. Ainda em 1851, retorna ao Rio de Janeiro para exercer a advocacia.

            Em 1854, ingressa no Correio Mercantil onde escreve uma coluna sobre os acontecimentos sociais, as estreias de peças teatrais, os novos livros e as questões políticas. Em 1855, torna-se gerente e redator-chefe do Diário do Rio. Nesse período, inicia a publicação de suas primeiras obras, inicialmente no formato de folhetim. Em 1858, abandona o jornalismo para ser chefe da Secretaria do Ministério da Justiça, chegando a Consultor com o título de Conselheiro, ao mesmo tempo em que lecionava Direito Mercantil. Em 1860, com a morte do pai, se candidatou por meio do Partido Conservador a deputado pelo Ceará, sendo reeleito em quatro legislaturas. Em 1870, foi eleito Senador pelo Ceará, mas, foi preterido na escolha por suas desavenças com o Ministro da Marinha. Voltou e permaneceu na Câmara até 1877, porém, rompido com o Partido Conservador. Mesmo no auge da carreira política, José de Alencar não abandonou a literatura. Em 1864, casou-se com Georgina, com quem teve quatro filhos. Suas obras eram atacadas por jornalistas e críticos que faziam campanha sistemática contra o romancista, motivadas, em parte, por sua atuação como político.

            Sua obra é marcada por registrar as tradições, a história, a vida rural e urbana do Brasil. O escritor deixou como legado, livros que são classificados em diferentes gêneros (romances indianistas, históricos, regionalistas e urbanos). São suas, as principais obras indianistas da literatura nacional a saber: "O Guarani", "Iracema" e "Ubirajara". Dentre os livros com protagonista do sexo feminino, alcançou grande sucesso a obra "Senhora". Outras obras do autor são: Cinco Minutos, romance, 1856; Cartas Sobre a Confederação dos Tamoios, crítica, 1856;  O Guarani, romance, 1857; Verso e Reverso, teatro, 1857; A Viuvinha, romance, 1860; Lucíola, romance, 1862; As Minas de Prata, romance, 1862-1864-1865; Diva, romance, 1864; Iracema, romance, 1865; Cartas de Erasmo, crítica, 1865; O Juízo de Deus, crítica, 1867; O Gaúcho, romance, 1870; A Pata da Gazela, romance, 1870; O Tronco do Ipê, romance, 1871; Sonhos d'Ouro, romance, 1872; Til, romance, 1872; Alfarrábios, romance, 1873; A Guerra dos Mascate, romance, 1873-1874; Ao Correr da Pena, crônica, 1874; Senhora, romance, 1875; O Sertanejo, romance, 1875. (Fonte: https://www.ebiografia.com/jose_alencar/ - acesso em 26 de dezembro de 2020)

            Este escriba tomou conhecimento da obra "Encarnação" de José de Alencar por conta da polêmica existente entre as obras "A Sucessora" de Carolina Nabuco e "Rebecca, a mulher inesquecível" de Daphne du Maurier. As três obras guardam semelhanças entre si, sendo que a autora inglesa foi considerada suspeita de plágio do livro de Carolina Nabuco. Li os três livros neste ano e, tive a impressão que ao se fazer uma adaptação (junção) dos livros de Carolina Nabuco e de José de Alencar, o resultado não é outro que o livro de Daphne du Maurier. No entanto, como já disse em artigo anterior sobre o livro "Rebecca, a mulher inesquecível" não entro na polêmica de afirmar que houve ou não o plágio. Na obra "Encarnação" a trama se desenvolve em torno de três personagens principais: Hermano, que por muito tempo foi solteiro, enfim, casa-se com Juliete com quem tem uma relação intensa, sendo que para este, Juliete é uma espécie de alma gêmea, vê nela uma beleza, uma perfeição, não vista por outras pessoas. Amália, então uma menina, na condição de vizinha e voyeur observa diariamente o casal apaixonado com um olhar especial para Hermano, a quem aprecia a beleza. Amália passa uma temporada fora, ao voltar à Corte, o pai volta a fazer recepções na casa da família.  Neste ínterim, Juliete falecera por conta de um aborto espontâneo. Hermano (agora é tido como louco) se fechou em sua casa com as lembranças de Juliete (tudo fora conservado tal como ela deixara). Amália crescera e se tornara uma moça muito linda e retorna ao voyeurismo, não mais por Hermano, mas, pela curiosidade em vê-lo sofrer por alguém que há muito se foi. A jovem desdenha de paixões, do amor e, apesar de seus vários pretendentes, recusa-se a casar e, nisso deixa seus pais preocupados. Estes desejam encaminhar a vida da filha única e, consideram vital conseguir um bom marido para que esta tenha seu futuro e felicidade garantidos. Amália acaba se apaixonando pelo viúvo que, também dela se aproxima ao ouvi-la tocar no piano  uma canção que também Juliete executava. O casal se apaixona, porém, entre eles há Juliete, cuja existência física deixara este plano, mas, não a mente de Hermano (que se recusa a cometer adultério). Paro por aqui, para não dar spoiler! Fica a dica!

Sugestão de boa leitura:

Título: Encarnação.

Autor: José de Alencar.

Editora: Estronho, 2020, 127 p.

Preço: R$ 2,90 (e-book) - R$ 41,32 (físico).


sábado, 19 de dezembro de 2020

Olhai os lírios do campo

 

Érico Veríssimo (1905-1975) nasceu em Cruz Alta (RS) e faleceu em sua eterna Porto Alegre. Nascido numa família abastada, mas, que se arruinou financeiramente e, diante das dificuldades econômicas e da separação dos pais, trabalhou em vários ofícios, tendo sido inclusive farmacêutico. Mas, era nas redações de jornais e revistas, o ambiente em que se sentia melhor. Sua paixão era escrever, porém, não conseguia viver de sua literatura, seus livros encalhavam, embora, chamassem a atenção desde o princípio.

            "Nos livros que escrevia Érico despejava fora aquilo que angustiava sua alma, mas, também moldava o país que sonhava e acreditava ser possível. Érico não era dado a rompantes. Em sua obra passava a sua mensagem de forma quase sutil, mas, não tão sutil, afinal, a Érico não faltava coragem, mas, sobravam-lhe convicções. Érico Veríssimo defendia a justiça social, condenava a absurda desigualdade social de seu tempo (e nesse quesito o país piorou ainda mais). No entanto, ele não acreditava em soluções extremas (uma revolução armada) e pensava que o Brasil haveria de ser transformado por uma revolução por dentro, ou seja, por reformas que levadas a cabo por sucessivos governos democráticos melhorassem a condição de vida do povo brasileiro. [...] Em seu livro "Incidente em Antares" (1971) ele escreveu "comunista é o pseudônimo que os conservadores e saudosistas do fascismo inventaram para designar todo sujeito que luta por justiça social". Mesmo sendo avesso à soluções extremas foi fichado no DOPS por ser "comunista", ou seja, por desejar a justiça social". (Tributo a(o) Érico Veríssimo - Novembro de 2020 - A Vista de Meu Ponto!)

            Érico conta que somente conseguiu viver de sua literatura a partir da publicação de "Olhai os lírios do campo" (1938). Nesta obra, o escritor por meio da personagem Eugênio Fontes (um médico), cuja história de vida é contada na primeira parte do livro, na qual evidencia o complexo de inferioridade deste por sua origem humilde, filho de pai alfaiate e de mãe lavadeira de roupas. O então menino pobre consegue uma bolsa de estudos e entra num internato inglês na cidade de Porto Alegre, dedicado, consegue mais tarde entrar na Faculdade de Medicina e se formar. No curso, conhece Olívia, porém, ensimesmado, jamais lhe dá a devida importância. Eugênio é egoísta, e somente pensa em se dar bem na vida. Olívia gosta de Eugênio apesar de seus múltiplos defeitos de personalidade. Eugênio casa-se com uma moça rica, a qual não ama, com o único interesse de entrar para a alta sociedade e deixar para trás a pobreza. No casamento, não é feliz, sua esposa é atraente, porém, lhe é quase uma desconhecida. Com o tempo começa a se arrepender de ter se afastado de sua família. Apesar de estar rico e vivendo numa mansão, se sente deslocado nos luxuosos jantares promovidos pelo sogro a seus convivas. Não consegue se desligar de sua origem pobre. Lembra dos momentos vividos com a amiga Olívia que está no hospital morrendo e quer lhe ver, quando chega ao hospital, Olívia está morta.

            Ela deixou-lhe cartas que o motivam a dar uma guinada em sua vida. Pede a separação judicial, um escândalo na época, abre mão de qualquer direito econômico resultante do casamento e, volta a exercer a medicina e conviver com a precariedade das condições de trabalho à época (ainda hoje, longe de ser as ideais). Eugênio anseia por uma "medicina socializada" na qual os médicos seriam funcionários públicos e contariam com boas condições de trabalho para exercer uma medicina gratuita e essencialmente humana. Érico viu em seu tempo a falta que faz um sistema público e gratuito de saúde. Na época não havia o SUS, muita gente morria por falta de recursos financeiros, o que lhe impossibilitava o acesso à medicina, noutras vezes, alguns médicos atendiam gratuitamente pessoas pobres. Hoje temos o SUS, ele precisa ser melhorado, mas precisamos defendê-lo. A obra é embasada no Sermão da Montanha e não era o livro preferido de Érico Veríssimo, mas, é ainda hoje, o seu livro mais vendido e amado pelos leitores. Érico que era bastante crítico ao livro que escrevera disse nunca ter entendido o motivo de seu sucesso. O escritor morreu durante a ditadura militar (1965-1985) sem ver o retorno do país à democracia que tanto prezava. Trata-se de um livro inspirador. Fica a dica!

Sugestão de boa leitura:

Título: Olhai os lírios do campo.

Autor: Érico Veríssimo.

Editora: Companhia das Letras, 2005, 288 p.

Preço: R$34,93.


sábado, 12 de dezembro de 2020

Rebecca, a mulher inesquecível

 

Em abril deste ano (2020) publiquei neste espaço, a resenha sobre o livro "A sucessora" de Carolina Nabuco (1890-1981) na qual assumi minha ignorância a respeito da obra da autora, a quem somente sabia, ser a filha do importante político, diplomata, historiador e jurista Joaquim Nabuco (1849-1910). Gostei muito do livro de Carolina e afirmei que iria comprar e ler o livro "Rebecca, a mulher inesquecível" de Daphne Du Maurier (1907-1989) que muitos críticos literários afirmam ser um plágio da obra de Carolina Nabuco. O livro de Carolina foi lançado em 1934 e, o livro de Daphne foi publicado em 1938. As autoras tinham em comum, o mesmo editor na Inglaterra, o qual havia recebido o original de Carolina. Carolina no programa "Fantástico" da TV Globo, disse que ficou muito chateada e, que foi procurada por advogados estadunidenses para assinar um documento atestando que tudo era mera coincidência, em troca de uma compensação financeira. Ela se recusou por colocar a dignidade acima de tudo, porém, jamais processou a escritora inglesa ou, ainda, os produtores do filme "Rebecca" baseado no livro de Daphne Du Maurier. A escritora inglesa, por sua vez, sempre negou o plágio.

            Motivado pela curiosidade em averiguar as semelhanças entre as obras e ter uma opinião própria, adquiri o livro no formato digital, pois, não queria gastar mais por um livro que talvez fosse fruto de plágio, porém, errei,  vale muito a pena ter a obra em formato físico. O livro é excelente e, sim, há muitas semelhanças entre as duas obras. Não há como lê-la e não a comparar e lembrar de fatos e personagens semelhantes do livro de Carolina Nabuco, mas, nem por isso, a trama é igual a ponto de se pensar que ao ler um livro dispensa a leitura do outro. A impressão que dá é que o "esqueleto" ou fio condutor da obra de Carolina é revestida de nova roupagem por Du Maurier. Não vou ficar no campo da especulação acerca dessa polêmica, pois, se é perfeitamente possível que a escritora inglesa tenha lido a obra de Carolina e colocado novos ingredientes e temperos na receita, isso é algo que jamais saberemos, pois, ela já faleceu e, com os elementos que temos, não é possível ter certeza absoluta que houve ou que não houve o plágio.

            Na trama de Rebecca, a protagonista e narradora é a segunda esposa do rico Sr. Max De Winter, um viúvo próximo da meia idade que se casa com uma moça pobre, muito jovem e tímida. À segunda senhora De Winter não é atribuído nome, talvez propositalmente, pois, a falecida parece eclipsar a sucessora em beleza, finesse, etiqueta, talentos artísticos, cultura e espontaneidade. A segunda senhora De Winter, apesar de ser também bonita, sentia-se inferiorizada perante a falecida e da qual lembranças estavam presente nos objetos por ela deixados (cartas, roupas, vasos, quadros, etc.) e nos arranjos da decoração da gigantesca e luxuosa Mansão Manderley, propriedade de seu marido. A área exterior da casa é muito linda e aprazível, mas, a mansão, apesar de sua beleza centenária (propriedade da família há gerações) a oprime e angustia. Na propriedade há muitos funcionários que adoravam a falecida patroa, a qual sempre tinha instruções e ordens para estes. Entre os funcionários há a governanta Senhora Danvers que adorava a falecida senhora como se fosse sua própria filha (ela não se conforma com o novo casamento de seu senhor com apenas  dez meses de viuvez) e antipatiza com a sucessora, na qual não reconhece valor algum, além da juventude. A segunda senhora De Winter  titubeia ante os funcionários, pois, não sabe se portar no novo papel. De origem humilde, ela estava pisando num terreno que lhe era estranho, não via razão para tanto luxo e desperdícios e, julgava que não havia nada a melhorar, de forma inversa fazia a antecessora.

            Durante toda a obra, há um clima de mistério (algo que parece afastar o casal) cuja narrativa é contada pela protagonista (na maturidade) que lembra de momentos felizes e de situações que seria melhor esquecer. Não subestime a obra. Lembre-se que foi adaptada para a telona por ninguém menos que Alfred Hitchcock (1899-1980), o "Rei dos filmes de suspense". A história prende, principalmente quando o mistério começa a se revelar. Fica a dica! De minha parte, vou maratonar o filme de Hitchcock e o remake da Netflix!

 

Sugestão de boa leitura:

Título: Rebecca, a mulher inesquecível.

Autor: Daphne Du Maurier.

Editora: Amarilys Editora, 2012, 448 p.

Preço: R$33,90.


sábado, 5 de dezembro de 2020

A mulher de trinta anos

 

Honoré de Balzac (1799-1850) foi um prolífico escritor francês que apesar de ter morrido com apenas 50 anos, publicou mais de 80 livros. Sua obra o alçou ao patamar dos grandes nomes da literatura francesa e mundial, sendo também considerado o fundador do gênero realismo na literatura moderna. O escritor era filho de um funcionário público, que tendo vindo da pobreza, muito se esforçou para galgar posições na sociedade. Na época, era comum os casamentos arranjados e seu pai se casou aos cinquenta anos com uma mulher muito jovem. Honoré estudou em boas escolas, mas, não foi aluno brilhante, entretanto, era ávido leitor. Ainda muito jovem, resolveu que iria ganhar a vida como escritor, porém, inicialmente não obteve sucesso, mas, não desistiu. Montou uma editora para publicar obras de outros autores, foi à falência e acumulou vultosas dívidas, por conta das quais, o escritor se escondia de cobradores e oficiais de justiça. Balzac (que somente se casou aos 50 anos) costumava ter relacionamentos com mulheres maduras, sendo algumas casadas e, foi com auxílio de uma destas que sua enorme dívida foi paga, evitando-lhe a prisão. Essa sua benfeitora, a Madame Hanska, depois de muitos anos de relacionamento extraconjugal, após enviuvar, casou-se com Balzac (cinco meses antes da morte deste).

            Foi somente quando começou a escrever artigos publicados em revistas e jornais que conseguiu certa estabilidade financeira para escrever suas obras. Até então, uma de suas irmãs lhe auxiliava financeiramente. No início de sua carreira escreveu obras populares, nas, quais não obteve grande sucesso. Na atualidade, sua obra tem grande permeabilidade nas camadas mais cultas da sociedade. O livro "A mulher de trinta anos" é o primeiro contato deste escriba com a literatura de Balzac, dessa forma, a resenha que ora escrevo é apenas as percepções de um leigo sobre o mesmo, pois, certamente é material para leitura conjunta e debate em salas acadêmicas. Balzac que sempre teve grande apreço pelas mulheres maduras, via naquelas situadas na faixa de trinta anos, uma beleza não encontrada nas mais jovens. Segundo o autor, nessa idade, elas ainda encontram-se no auge da beleza e sua maturidade as torna mais interessantes do que as jovenzinhas (tão procuradas para casamentos). Envolvem-se, apenas no que desejam e o fazem com convicção. Este era (no entendimento de Balzac), o perfil da mulher moderna do século XIX, tanto que balzaquiana se tornou um adjetivo que qualifica a mulher de trinta anos. O escritor era um profundo observador da psique humana e estava atento a forma de pensar e agir de homens e mulheres independentemente de sua posição ou classe social. Balzac foi considerado o escritor que melhor conhecia o espírito feminino, por ter convivido, com muitas (amigas e/ou amantes) de diferentes idades e classes sociais. Observador atento, conseguiu mesmo na condição de homem, pensar a vida, o casamento e a sociedade (como se fosse) a partir do ponto de vista da mulher. Nem por isso, pode-se pensar que é uma obra antenada ao feminismo que naquela época sequer existia. É preciso que se diga que ao analisar uma obra de época com rígido pensamento baseado em valores da  atualidade se incorre em anacronismo, pois, trata-se de um produto de seu tempo histórico e, na obra em questão, retrata a  sociedade do século XIX que tinha no machismo (como ainda hoje) uma de suas características.

            Em "A mulher de trinta anos", Balzac publica seis partes (capítulos) que retratam a vida de uma mulher (Julie) desde seus 18 anos quando, fascinada pela beleza do militar (Victor D'Aiglemont) com ele se casa,  contrariando os veementes conselhos de seu pai. Com pouco tempo de casamento, ela se desilude com a instituição do casamento, a qual considera uma prostituição legalizada e que impunha deveres para as mulheres e, liberdade para os homens. A maternidade dá novo sentido à sua vida, mas, passa a repelir o marido (o único a tentar salvar o casamento). O Marquês e sua esposa passam a manter um casamento de aparências visando evitar um escândalo perante a sociedade que, em conformidade com as convenções sociais, continuam a frequentar. Durante toda a sua vida, Julie, frequenta a sociedade por obrigação, sendo considerada por  todos como doente (atualmente, seria diagnosticada como depressiva). Julie e seu marido têm relacionamentos extraconjugais. A Marquesa renega Hélene, filha primogênita que teve com o marido e mima os filhos de suas relações adúlteras. Victor, em que pese suas constantes ausências devido às inúmeras viagens a trabalho, é bom pai e único refúgio para a filha Hélene. Por sua vez, Julie não disfarça a preferência pela filha caçula Moïna. A trama trata ainda da perda de entes familiares, da bancarrota e recuperação financeira da família e, da velhice e morte da protagonista. Apenas um dos capítulos se refere diretamente à mulher na faixa de trinta anos. O livro é na verdade, a reunião de vários "contos" e,  inspirados em diferentes mulheres que o autor conheceu, não sendo, no entanto, relatos fiéis destas. O leitor terá a impressão de que o livro é uma colagem de escritos que não dialogam muito bem entre si, pois, parecem desconexos e com várias lacunas na trama. Também constatará que a cronologia da idade de Julie ao longo da obra não fecha. Balzac se recusou a fazer alterações no texto e afirmava que havia uma lógica implícita que amalgamava a história. A escrita do autor é elegante e prazerosa, além de ter conteúdo profundo que estimula a reflexão. Trata-se de uma grande obra cuja leitura é imprescindível, como todo clássico! Fica a dica!

Sugestão de boa leitura:

Título: A mulher de trinta anos.

Autor: Honoré de Balzac.

Editora: Penguin Classics Companhia das Letras, 2015, 238 p.

Preço: R$20,42.