Albert Camus
(pronuncia-se Cami) nasceu em 1913, na costa da Argélia, no continente
africano. A Argélia estava sob colonização da França, sendo ele próprio
descendente de franceses. Seu pai morreu em 1914, em combate na Primeira Guerra
Mundial. Como a família era muito pobre, todos precisavam trabalhar para
conseguir o sustento. Sua mãe trabalhava lavando roupa para outras pessoas,
trabalho digno, porém, que demonstra o nível de pobreza da família. Um
professor de Camus viu que ele tinha um futuro promissor, para tal precisava
prosseguir os estudos. Os familiares se opunham, afinal, todos precisavam
contribuir com a subsistência da família. Camus tomou a difícil decisão de
continuar os estudos e cursar a escola secundária. Nesta escola, sob a
influência de outro professor, cursou e se graduou em Filosofia. Fez Mestrado
em cuja dissertação discorreu sobre o Neoplatonismo e, em seguida o Doutorado,
abordando em sua tese, a filosofia de Santo Agostinho. Neste momento em que
estava se preparando para lecionar na Universidade, recebeu o diagnóstico de
tuberculose o que o impediu de iniciar sua carreira no magistério. Trabalhou em
vários jornais, escreveu inúmeros artigos além dos livros que o tornaram um dos
grandes nomes da literatura francesa e mundial, reconhecimento este que cresceu
exponencialmente após ganhar o Prêmio Nobel de 1957.
O diagnóstico da grave doença inseriu marcas profundas na
personalidade e na obra de Camus. Filósofo de formação, sua obra é classificada
no gênero de “Filosofia do Absurdo” que alguns confundem com o existencialismo,
mas, que na realidade é distinta. Camus sempre teve durante a sua curta e
intensa vida a perspectiva da morte o rondando. A formação que teve, ao ser
turbinada pela doença, intensificou as suas reflexões sobre a busca do sentido
da vida ou de uma lógica que explicasse o motivo de nossas pobres e vazias
existências, mas, chegou à conclusão que não existem, afinal, o caos governa o
Universo desde sua origem. Apesar disso, Camus teve suas paixões, constituiu
família. Adorava futebol e conta-se que era um bom goleiro. Em 1949, esteve no
Brasil para proferir palestra e solicitou que o levassem para assistir um jogo
de futebol. Encantou-se com a paixão dos brasileiros pelo futebol. Sua obra de
maior destaque é “O estrangeiro”, embora, “A queda” e “A peste” sejam também
muito famosas. Esta última inclusive tem vendido muito devido ao momento de
pandemia que vivemos atualmente. O famoso filósofo Jean Paul Sartre adorou o
livro “O estrangeiro” e disse em entrevista que desejava conhecer Albert Camus.
Eles se conheceram e tornaram-se amigos por longo tempo até que se afastaram
por conta das críticas de Camus à União Soviética, algo que desagradou Sartre. Ele
irritou também as autoridades francesas ao denunciar a forma como estas
tratavam os cidadãos árabes. Camus, certamente sabia que sua vida seria curta,
então, deu a ela, intensidade, porém, não morreu pela doença, mas, num acidente
de automóvel em 1960.
A obra “O estrangeiro” tem como narrador-personagem
Meursault e, a trama se inicia com este contando haver recebido um telegrama
informando-o da morte de sua mãe, a qual se encontrava num asilo na cidade de
Marengo. Meursault ao receber as condolências de pessoas do trabalho, afirma
que não é sua culpa, para o estranhamento dos demais, tamanha sua indiferença.
Meursault pede dispensa para o patrão e pensa que ele não deve ter gostado de
dispensá-lo, mas, que não é sua culpa. Viaja para Marengo e lá chegando é
atendido pelo diretor da instituição que lhe dá os pêsames, mas, ele apenas
reclama do calor. É então conduzido para o salão onde o velório está se
realizando, senta-se em uma cadeira e recusa-se a ver o corpo da mãe, ato que
causa estranheza para os funcionários do asilo. Durante a noite toma café, fuma
e cochila sentado na cadeira. Na manhã do dia seguinte, após a realização dos
rituais religiosos, juntamente com o diretor da instituição e alguns idosos
(amigos de sua mãe) seguem até o cemitério, Meursault reclama do calor enquanto
caminha. Após o enterro, viaja para sua cidade e lembra que agora terá mais
dois dias sem trabalho e pensa: não é culpa minha. Liga para a namorada Marie,
passam o final de semana juntos, vão à praia, jantam, vão ao cinema onde assistem
a um filme de comédia. Questionado por Marie se ele se casaria com ela, dá a
entender que se ela quer, pode ser. Meursault usa muito a expressão “tanto
faz”. Questionado se ele a ama, diz que não. E ela pergunta: e se casaria comigo
mesmo assim? Tanto faz, casar ou não. Questionado se ele diria sim a outra que
quisesse se casar com ele, responde “talvez”. Convidada a passar mais uma noite
com ele, Marie declina, pois precisa trabalhar no dia seguinte, então vai a pé
para sua casa, ele não a acompanha.
Raymond,
o vizinho cafetão de Meursault espanca uma jovem árabe. E Meursault aceita fazer testemunho falso
para aliviar a barra deste perante a justiça, afinal, Raymond precisa, e, para
ele, tanto faz. No trabalho, o patrão lhe oferece promoção caso aceite se mudar
para o escritório de Paris, ele responde para o estranhamento deste, que ganhar
mais ou não, morar ali ou em Paris, tanto faz! O patrão lhe pergunta: mas você
não tem ambições na vida? Ele responde que tanto faz, gosta de viver ali.
Raymond vai passar um final de semana numa casa de praia com uma de suas
garotas e convida Meursault e sua namorada. Na praia deparam com o irmão da
moça espancada e ali ocorre uma briga. Meursault volta armado à praia e
encontra novamente o árabe. Sem dar tempo a este, puxa o revólver e atira, o
árabe cai morto, Meursault, mesmo assim, descarrega outros quatro tiros no
corpo inerte. Meursault vai preso, e pensa que para qualquer pessoa que viveu
um ano do lado de fora, estar preso ou não, tanto faz. Ao juiz, afirma que
tanto faz ter advogado para defendê-lo ou não. O juiz nomeia um defensor
público para representá-lo. O processo é o ponto alto do livro. Testemunhas arroladas
pela acusação falam sobre seu jeito estranho de ser, pois, não sentiu a morte
da mãe e por ser indiferente aos demais. O promotor explora de forma brilhante
o final de semana que Meursault passou curtindo a vida (logo após o enterro da
mãe), e traça um perfil psicológico do réu demonstrando que ele representa um
perigo para a sociedade. O advogado se esforça em sua defesa, mas as
testemunhas da defesa (ante as perguntas do promotor) se contradizem. Meursault
percebe o show que o promotor está dando e, que ele não está sendo julgado pelo
assassinato, mas, por sua forma de ser, pois, não vive de acordo com o padrão de
normalidade da sociedade. Ele pensa que poderia falar algo em sua defesa, mas,
está com preguiça e, afinal, tanto faz! Neste momento, preservo o desfecho da
trama, (caso o leitor resolva ler), e digo que ao fechar o livro, genialmente
escrito, o leitor terá uma sensação de estranhamento como a dizer “que foi isso
que li”?
Sugestão de boa leitura:
Título: O
estrangeiro.
Autor:
Albert Camus.
Editora:
Record, edição128 (1979), 128 p.
Preço:
R$23,90.
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