Alfredo de Freitas Dias Gomes
(1922-1999) foi romancista, contista e teatrólogo, nasceu em Salvador (BA) e
faleceu em São Paulo. Dias Gomes sempre demonstrou talento para escrever peças
de teatro, sendo que com apenas quinze anos escreveu sua primeira peça. Em
1939, ganhou o 1º lugar no Concurso do Serviço Nacional de Teatro com a peça
“Comédia dos moralistas”. Em 1943, ingressou no curso de Direito na Faculdade
de Direito do Estado do Rio de Janeiro, porém abandonou o curso no 3º ano. Em
1950, casou-se com Janete Emmer (mais tarde conhecida como Janete Clair, famosa
escritora de novelas da Rede Globo) com quem teve cinco filhos. Em 1983 ficou
viúvo, e mais tarde casou-se com Maria Bernadete com quem teve mais duas
filhas. Dentre as peças que escreveu, “O pagador de promessas” foi traduzido
para mais de uma dúzia de idiomas, dando ao autor projeção internacional. A
peça foi encenada em todo o mundo. A adaptação da peça para o cinema lhe rendeu
(dentre vários outros prêmios), a Palma de Ouro do Festival de Cannes, em 1962.
Ao fazer uma visita à União Soviética em 1953, Dias Gomes foi demitido da Rádio
Clube e seu nome foi incluído na “lista negra”. Seus textos tinham que ser
negociados com a TV Tupi em nome de colegas. O autor teve várias de suas obras
censuradas pela ditadura militar (1964-1985). Em 1964, foi demitido da Rádio
Nacional por conta do conteúdo de sua obra. A partir de então, participou de
manifestações contra a censura e em defesa da liberdade de expressão. Em 1980,
com a decretação da Lei da Anistia, foi reintegrado ao quadro da Rádio Nacional
e, sua peça Roque Santeiro, após dez anos de proibição pela censura, foi
liberada e adaptada para a televisão pela Rede Globo e, exibida com grande
sucesso junto ao público. Dias Gomes é ainda hoje, um dos autores brasileiros
mais premiados por sua atuação no rádio e por sua obra no teatro, cinema e
televisão. Em 11 de abril de 1991, Dias Gomes foi eleito para a Academia
Brasileira de Letras. ¹
“O bem-amado” é uma obra cômica, porém, com forte crítica
social. A trama caricaturiza os políticos demagogos e possui uma relação
profunda com a América Latina, pois, a história desta é rica em políticos
caudilhos ou coronéis (como são conhecidos no Brasil) cuja característica é a
demagogia, o populismo oportunista e o autoritarismo. A obra foi adaptada para
novelas, minisséries e cinema. Em alguns países da América Latina, foi gravada
como novela, tendo os nomes das personagens adaptados para a realidade local. Na
trama, Odorico faz discursos empolados (nos quais inventa palavras) para
impressionar as pessoas por sua “elevada cultura" e faz da construção de
um cemitério na cidade (cujos mortos são enterrados numa cidade vizinha), a
principal plataforma de campanha à prefeitura da fictícia Sucupira. Eleito, a
gestão de Odorico começa a ser questionada, o povo começa a ver que as coisas
não estão indo bem. Odorico resolve mudar isso construindo um belíssimo e
dispendioso cemitério, porém, o município não tem recursos para tal e, ele
resolve desviar recursos da educação e de outras pastas para realizar a obra.
Ocorre que quando a obra fica pronta, ninguém mais morre na cidade. Ninguém
fica doente, não ocorrem mais assassinatos, etc. Odorico quer inaugurar sua
grande obra, porém, o fim de seu mandato está se aproximando.
O
prefeito passa a “importar” doentes, mas, ao viver em Sucupira eles se recuperam.
Contrata então Zeca Diabo (um assassino impiedoso) como delegado e, passa a
alimentar intrigas na sociedade à espera de alguma morte. O jornalista Neco
Pedreira (crítico da gestão de Odorico) é por este considerado um “comunista”
e, em artigo no jornal critica a escolha de um bandido como delegado. Odorico
estimula o delegado a dar ao jornalista o que ele merece, porém, o esperto
jornalista manobra e ao prometer fazer uma reportagem de página inteira
contando a história de vida de Zeca Diabo, este desiste da empreitada. Odorico
lamenta ao saber do impiedoso assassino Zeca Diabo que ele agora está
convertido e espera o perdão de Padre Cícero. Na trama há ainda as irmãs
Cajazeiras, religiosas e moralistas, mas sob cujos véus se escondem
personalidades nada pudicas. As Cajazeiras idolatram Odorico, como político e homem.
A obra é hilariante, pode ser lida em um dia, e além das risadas traça um
perfil de nossa sociedade ao retratar o político médio brasileiro, os “moralistas
sem moral” e o “jeitinho brasileiro” que tratado como algo positivo nestas
terras é mal-visto perante o mundo. É importante que o leitor saiba que este
livro é a peça original para teatro, as adaptações para novelas e cinema foram
enriquecidas com mais personagens e histórias pelo próprio autor.
1. Fonte: Disponível
em: http://www.academia.org.br/academicos/dias-gomes/biografia
- acesso em 11 de junho de 2020.
Sugestão de boa leitura:
Título: O
bem-amado.
Autor:
Dias Gomes.
Editora:
Bertrand Brasil, 2020, 126 p.
Preço: R$
26,35.
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