Powered By Blogger

domingo, 21 de junho de 2020

Nós



               
       O russo Ievguêni Zamiátin (1884-1937) celebrizou-se pelo livro “Nós”. Engenheiro Naval de formação e atuação tinha o hábito de escrever ficção como passatempo. Apoiou o levante bolchevique de 1905 contra o governo czarista sendo preso em 1911 e anistiado em 1913. Também cerrou fileiras na Revolução de Outubro, porém, apesar de fiel à Revolução, tornou-se crítico da censura imposta pelo governo bolchevista. Ergueu o tom de sua escrita, tornando-a cada vez mais crítica ao governo, tendo por isso, suas obras proibidas. Diante de tal situação, em 1931, escreveu a Stalin solicitando a autorização do líder da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) para sair do país, permissão esta, que lhe foi dada com o auxilio do famoso escritor Máximo Gorki. Instalou-se em Paris, onde continuou a desenvolver sua literatura, porém, morreu em 1937 vitimado por um infarto, quando contava 53 anos e, se encontrava em estado de pobreza. A obra, objeto dessa resenha, somente foi publicada na URSS no ano de 1988, após as reformas liberalizantes de Mikhail Gorbatchev.
            A obra “Nós” é uma distopia escrita entre os anos 1920/21 e, foi fonte inspiradora dos autores de obras clássicas do gênero como “1984” de George Orwell, “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley e “Fahrenheit 451” de Ray Bradbury. Nestas obras citadas é possível observar elementos inspirados no livro de Ievguêni Zamiátin. A trama de “Nós” narra uma sociedade totalitária liderada pelo “Bem-Feitor” que age de forma ditatorial, inclusive matando pessoalmente seus opositores, apesar disso, sempre é reeleito pelo povo (está em seu 48º mandato), que se considera feliz ao viver numa sociedade igualitária, porém, extremamente controlada e vigiada. O governo do Bem-Feitor criou uma tabela de horas concernentes às atividades que devem ser cumpridas à risca pelos cidadãos. Nessa tabela de horas, o Estado Único reserva duas horas pessoais diárias, nas quais as pessoas podem fechar suas cortinas (por lei, as paredes das residências são de vidro transparente) para ter um pouco de privacidade e, assim se dedicar a qualquer atividade que lhe aprazer. Nessa sociedade futurística do século XXIX, o amor e o casamento foram banidos. Qualquer pessoa pode ter relações sexuais com qualquer outra, basta preencher um formulário e encaminhar ao Estado Único, que organizará a comunicação e o encontro entre os pretendentes no horário pessoal mais próximo. Após a realização do encontro íntimo, basta aos dois assinar o canhoto que fica com cada um deles para comprovação perante o Estado Único, pois, um deles teve que se ausentar de sua residência para ir até a do outro.
            Os integrantes dessa sociedade são refratários à arte (originalidade) e à beleza porque ferem o princípio da igualdade. As pessoas vestem roupas iguais e o próprio narrador da história “D-503” anseia pelo dia em que o Estado Único consiga eliminar as diferenças físicas entre as pessoas, para que enfim a sociedade seja homogênea de fato. As pessoas, devido à lavagem cerebral realizada pelo Estado Único, pensam de igual forma e consideram que demonstrar mais cultura ou inteligência é algo repugnante. Não há mais famílias, quando grávidas, as mulheres são acompanhadas pelo Estado Único e, após o parto a criança é encaminhada para as instituições responsáveis pela sua criação. Não saberão quem são seus pais e não terão nomes, pois, a elas será dada uma identificação como a do narrador da obra. D-503 conhece I-330 em sua hora pessoal, após ter se inscrito para com ela ter relações sexuais. I-330 é uma mulher consciente da situação de opressão em que vivem, porém, para não chamar a atenção dos “Guardiões” da Revolução, procura cumprir parcialmente suas atividades impostas pelo governo do Bem-Feitor. D-503 se apaixona (algo proibido) por I-330 e passa a ser por ela influenciado. Começa a pensar no “mundo primitivo”, aquele que fica além dos “muros” que delimitam a sociedade isolada do resto do mundo. Começar a refletir sobre o estado de coisas em que vive o preocupa e consulta um médico. Este lhe diz que está desenvolvendo alma, algo perigoso para sua saúde e para a sociedade.



A obra não é tão conhecida como o trio de distopias clássicas que inspirou, mas, é igualmente excelente e, como sabemos é sempre bom beber na fonte para entender o que veio depois, e, no caso das distopias, para compreender o risco que corremos, ou quando elementos distópicos se realizam, para entender que era previsível, tanto que o autor se antecipou! 

Sugestão de boa leitura:
Título: Nós.
Autor: Ievguêni Zamiátin.
Editora: Editora Aleph, 2017, 344 p.
Preço: R$55,92.

Nenhum comentário:

Postar um comentário