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domingo, 17 de maio de 2020

Memorial do convento




               
      José Saramago já foi apresentado aos leitores deste espaço com a seguinte redação: “O escritor português José de Souza Saramago (1922-2010) é, até o momento, o único literato em língua portuguesa que teve a honra de ser galardoado com o Prêmio Nobel (1998). José Saramago consagrou-se na literatura quando já vivia a fase madura de sua vida. Filho de camponeses do Ribatejo (Portugal) exerceu diversas profissões antes de se dedicar à literatura. Foi serralheiro, desenhista, funcionário público, editor e jornalista. Dentre outras honrarias, foi ganhador do Prêmio Camões (1995). Publicou várias obras-primas da literatura mundial, merecem destaque: Memorial do Convento (1982), O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984), O Evangelho segundo Jesus Cristo (1991), Ensaio sobre a cegueira (1995), O Homem Duplicado (2002), Ensaio sobre a lucidez (2004) e As intermitências da Morte (2005). Saramago, de opiniões e falas tão fortes quanto à literatura que criou, despertou na comunidade internacional sentimentos que vão do amor ao ódio, mas, jamais a indiferença. As polêmicas em que se envolvia era o preço que pagava por ser um pensador original. Não temia nelas se envolver, considerava que a liberdade de expressão era um direito inalienável, tanto que chegou a propor que à Declaração Universal dos Direitos Humanos, deveriam ser acrescidos dois novos artigos que garantissem o direito à dissidência e à heresia”.
            Este escriba resolveu adquirir e ler a obra “Memorial do convento” por saber ser a mais apreciada e lida pelos compatriotas de Saramago. No Brasil, a obra mais reconhecida é “Ensaio sobre a cegueira” já resenhada nesta coluna. A obra é um romance que tem como fio condutor uma das mais conhecidas e trágicas histórias de amor da literatura mundial (Baltasar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas). Baltasar, um ex-militar, analfabeto, que teve a desventura de perder a mão esquerda servindo o exército na guerra, ao retornar a seu país tem na sobrevivência, sua preocupação central, pois, parcialmente inválido, teria dificuldade em conseguir trabalho. Blimunda, quando em jejum, tinha a habilidade de ler a alma das pessoas. O casal se conhece num julgamento da Inquisição e passam a viver juntos, ou seja, em pecado perante Deus. O casal torna-se amigo do Padre Bartolomeu de Gusmão (personagem real, nascida e criada no Brasil) intelectual, de gênio inventivo, inclusive com patentes registradas em Portugal. O casal colabora com o Padre na criação da passarola, uma máquina de voar que em verdade trata-se de apenas de uma lenda.
 A trama fictícia se passa no período do reinado de D. João V. (1706-1750), marcado pela opulência de Portugal abastecido com o ouro brasileiro. Com tanta riqueza o monarca construiu uma série de obras faraônicas, agindo como se o abastecimento de ouro fosse infinito, porém, sabemos o ciclo durou pouco. Tais obras são reconhecidas pelos portugueses como símbolos de desperdício de recursos públicos, além disso, apesar dos cofres reais estarem abarrotados, o povo vivia na penúria. A história registra que em gratidão à gravidez de sua esposa, a rainha Josefa, o rei mandou erguer em Mafra um Convento, que desejava inaugurar em vida, e para tal, não economizou recursos financeiros e humanos, sendo que por ordem real, o projeto foi ampliado várias vezes. Cerca de cem mil pessoas trabalharam na obra megalomaníaca, e nela vários foram os acidentes que resultaram em mutilações e mortes. Saramago dá holofote a essas personagens esquecidas pela história e que levantaram o Convento de Mafra em troca da mera sobrevivência. Na obra, Saramago faz críticas ao desperdício de recursos públicos que tem no Convento de Mafra, seu maior símbolo. Critica também a Igreja que por meio da Inquisição perseguiu, julgou e condenou à morte pessoas por “heresia e bruxaria”, muitas delas intelectuais. Eu, na condição de leitor, considero a obra excelente, mas, brasileiro que sou, considero Ensaio sobre a cegueira, a minha obra preferida do autor.

Sugestão de boa leitura:

Título: Memorial do convento.
Autor: José Saramago.
Editora: Companhia das Letras, 2017, 405 p.
Preço: R$37,90.

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