Costuma-se
dizer que as adversidades forçam as pessoas a se superarem. Nada é mais
verdadeiro quando se fala de Lula. Luís Inácio “Lula” da Silva nasceu a 27 de
outubro de 1945 em Caetés (então distrito de Garanhuns em Pernambuco). A
localidade conhecida nacionalmente como uma das mais pobres do Brasil. Sétimo
filho de um total de oito do casal Aristides Inácio da Silva e Eurídice
Ferreira de Melo. A poucos dias do nascimento de Lula, seu pai deixou dona
Eurídice e migrou para a região sudeste para trabalhar como estivador no Porto
de Santos. Porém, levou uma prima de Eurídice com quem constituiu nova família.
Contando as duas famílias, Lula teve mais de vinte irmãos (alguns já morreram).
Dona Lindu (apelido de dona Eurídice) sozinha segurou o
rojão, cuidou dos filhos e estimulado por seu filho Jaime que tinha ido morar
com o pai no litoral paulista resolveu embarcar num “pau de arara” com os
filhos e deixar a seca e a miséria de Caetés para trás. No início as duas
famílias conviveram juntas, mas, a agressividade com que o pai de Lula tratava
seus filhos levou Dona Lindu a mudar-se para uma casa que de tão precária, o
telhado desabou. Aos sete anos Lula vendia laranjas e retirava lenha, mariscos
e caranguejos do mangue. Alfabetizado por insistência de sua mãe, pois, seu pai
não queria que os filhos estudassem, na opinião dele os filhos deveriam
trabalhar. Quando a família mudou-se para São Paulo perderam o contato com o
pai. Em São Paulo foi engraxate e auxiliar de escritório. Na escola do SENAI
fez o curso de tornearia mecânica e quando trabalhava numa siderúrgica que
produzia parafusos esmagou seu dedo mínimo que precisou ser amputado. O seguro
contra acidentes de trabalho da empresa lhe possibilitou comprar móveis e um
terreno para sua mãe, mas não o livrou de desenvolver complexo psicológico que
após alguns anos superou.
Em 1965 ficou muito tempo desempregado e para sobreviver
teve que fazer “bicos” (trabalhos eventuais). Adorava jogar futebol, mas, era
resistente a participar de sindicatos. Seu irmão Frei Chico queria que entrasse
para a militância sindical e também para o “partidão” como era chamado o PCB
(Partido Comunista Brasileiro). Lula resistia, pois, tinha uma visão negativa
do sindicato e da política. No entanto, apesar de sua inexperiência sindical
todos notavam o carisma e o espírito de liderança de Lula. Como diz o adágio:
“água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, Frei Chico o convenceu a
participar da chapa, eleito, foi picado pelo "bichinho da militância” e
passou a disputar novas eleições, sendo que a cada eleição galgava novas
posições dentro do sindicato até o dia em que chegou à presidência do Sindicato
dos Metalúrgicos do ABC. Como presidente do sindicato foi orientado a esperar o
fim da ditadura militar para promover greves, discordou, afirmando que a greve
não podia esperar até que o país voltasse à democracia. Em certa feita, agentes
da ditadura cortaram o som e Lula no alto de um palanque improvisado falava
frases curtas que eram repetidas pelos grevistas para os que se encontravam
mais distante dele. Por liderar greves no final dos anos 1970 e início dos anos
1980 foi processado e preso com base na Lei de Segurança Nacional. Ao receber o
comunicado de prisão acendeu um cigarro e entrou resignadamente na viatura. Foi
condenado a três anos e meio de prisão por incitação à desordem coletiva (como
o governo da ditadura entendia as greves), recorreu e foi absolvido no ano
seguinte. Nessa época tomou conhecimento da morte de seu pai que, no entanto,
já havia sido enterrado como indigente há vários dias.
Na
condição de sindicalista percebeu que o poder do sindicato não era suficiente
para melhorar as condições de vida da classe trabalhadora, era necessário
disputar o poder político e, a pré-condição era criar um partido político
comprometido com a classe trabalhadora. Líderes do MDB (Movimento Democrático
Brasileiro) dentre eles, Ulysses Guimarães o convidaram para filiar-se, mas,
ele resistiu afirmando que desejava criar um partido da classe trabalhadora.
Ulysses lhe disse que fundar um partido era trabalhoso e fazê-lo ter alcance
nacional era muito difícil, porém, Lula não desistiu da ideia e junto a
sindicalistas, intelectuais, representantes dos movimentos sociais e católicos
militantes da Teologia da Libertação fundou o Partido dos Trabalhadores, hoje o
partido brasileiro com o maior número de filiados e o segundo maior do
mundo. Como dirigente sindical, Lula
ganhou projeção nacional e foi um dos personagens centrais na campanha pelas
Diretas Já, cuja Emenda Constitucional Dante de Oliveira acabou sendo derrotada
pela máquina da ditadura militar. A eleição seria novamente indireta. Em 1986,
Lula foi à época o deputado federal mais votado e trabalhou na construção da
Carta Magna.
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