O modo capitalista de pensar se impõe na sociedade e gera
o individualismo, o narcisismo, e principalmente, o consumismo. No capitalismo,
tudo se transforma em mercadoria pronta para ser consumida, não é diferente com
as pessoas, que vendem sua mão-de-obra nas máquinas de moer seres humanos que
conhecemos por empresas capitalistas, ou mesmo seu corpo, seja para o desfrute
do olhar nas revistas masculinas ou para o prazer do cliente. Dessa forma, os
meios de comunicação privados somente sobrevivem pela busca incessante do lucro
e isso remete ao título da obra em que o autor argumenta que os críticos
costumam atribuir grande poder de manipulação aos meios de comunicação (TV,
rádio, jornais e revistas) e consideram os receptores de tais artigos e
programas como ingênuos e indefesos, visão em seu ver, equivocada.
O autor argumenta que os meios de comunicação,
especialmente a TV precisa de audiência sendo esta a moeda com que o
telespectador paga pelos seus programas e que o índice de audiência
possibilitará à emissora de TV estabelecer o preço pelos anúncios publicitários
que renderão recursos financeiros que custearão as despesas e possibilitarão o
lucro que toda empresa capitalista busca. Ciro afirma que o público somente
pagará com a moeda audiência se a programação estiver de acordo com os anseios
deste, do contrário, mudará de canal até encontrar a programação que lhe
agrade. Sob este prisma, penso que a qualidade de parte da programação da TV
aberta brasileira, a qual é bastante discutível e constitui verdadeiro lixo
televisivo, e mesmo assim, ao obter grande audiência leva a crer que seus
receptores estão sendo supridos do que desejam, talvez devido ao seu baixo
nível cultural. Portanto, sexo, palavrões, violência, piadas preconceituosas,
etc. geram audiência porque inúmeros telespectadores se veem ali, o efeito
danoso fica por conta do fato de que ocorre a naturalização da estupidez, pois,
ao ver cenas de pessoas rudes, egocêntricas e desonestas, os espectadores que
correspondem a esse perfil, tomam como normal essa forma de ser e assim agem.
A relação entre o telespectador e o meio de comunicação é
uma via de mão dupla, no entanto, penso que Ciro exagera ao supor que em geral
as pessoas têm capacidade crítica para entender que nem tudo o que os programas
de TV e rádio divulgam corresponde a uma visão de mundo e não a verdade em si.
As pessoas de menor nível instrucional são as que mais utilizam unicamente a TV
e o rádio para se informar e este segmento social costuma tomar como verdade
notícias que foram tratadas nas redações e que alteram ou omitem a verdadeira
informação. O autor também afirma que os meios de comunicação privados são
uníssonos na defesa da liberdade de expressão e condenam veementemente a
censura, mas, esquecem ou fazem questão de não reconhecer que guardam para si a
prerrogativa de exercer a censura, ao não dar liberdade ideológica para seus
jornalistas nas redações e ao não dar espaço para a defesa do contraditório por
parte dos grupos políticos que defenestram. Uma análise aprofundada do livro
resultaria muito longa, deixo então, a dica.
Sugestão
de boa leitura:
Título: Quem manipula quem?
Autor: Ciro Marcondes Filho.
Editora Vozes, 1987, 162 p.
Preço: R$ 7,90 – R$ 22,80
(Estante Virtual).
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