Publicar um livro demonstrando as fragilidades e
interpretações equivocadas da tese processual em que o então juiz “pop star”
Sergio Moro condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é hoje algo que
não causa surpresa alguma tendo em vista as revelações trazidas à luz pelo
brilhante jornalista Glenn Greenwald do site The Intercept e conhecidas como
“Vaza-Jato” as quais colocam em cheque a credibilidade do juiz. No entanto,
fazer isso quando o juiz citado vivia o auge da fama nacional e internacional,
no momento em que recebia prêmios e honrarias pelo Brasil adentro e afora é
sinal de grande autoconfiança em seu trabalho e de nenhum receio de contestar
os populares que muitas vezes sequer pensam, pois, são pensados por uma grande
mídia venal que dita o que é ou não verdadeiro, mesmo sem ter grande apego à
verdade. Euclides André Mance (1963) natural de Mogi das Cruzes (SP) graduou-se
em filosofia pela Universidade Federal do Paraná (1987), é pós-graduado em
Antropologia Filosófica (UFPR) e Mestre em Educação. Lecionou as disciplinas de
Introdução à Filosofia; Filosofia na América Latina; Filosofia do Método
Científico; Lógica e Filosofia da Libertação para turmas de diversos cursos da
UFPR na década de 1990. Mance atuou como consultor da UNESCO e da FAO relacionado
ao Desenvolvimento Sustentável. É autor de vários livros (traduzidos em vários
idiomas) e tem se destacado na organização de redes colaborativas,
particularmente no campo da economia solidária. Seu livro mais recente,
originalmente em italiano, intitula-se “Circuiti Economici Solidali – Economia
Solidale de Liberazione (Pioda, Roma, 2017, pp.217).
Na
obra Falácias de Moro, o autor registra na epígrafe a seguinte citação: “Todas
as pessoas têm direito a um julgamento justo” e em seguida citando a Declaração
Universal dos Direitos Humanos (ONU): “Ninguém pode ser arbitrariamente preso,
detido ou exilado (art.9)”; “Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a
que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal
independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das
razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida.
(art.10)”; “Toda a pessoa acusada de um ato delituoso presume-se inocente até
que a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo
público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas.
(art.11)”; “Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na
sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua
honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem
direito a proteção da lei. (art.12)”.
Na
primeira parte do livro o autor discorre sobre as falácias de Moro, sendo elas:
Falácia do apelo à crença comum; da circularidade; non sequitur; do apelo à presciência; dos argumentos ad hominem; do apelo à crença; do apelo à
possibilidade; da equivocação; da inversão do ônus da prova. Segundo o autor:
“falácia pode ser definida como erro de raciocínio, como argumento sem
consistência lógica, que não tem, pois, validade para sustentar a conclusão
afirmada. Uma falácia leva a tomar o falso por verdadeiro. Quando cometida de
forma involuntária, chama-se paralogismo e quando realizada de forma
proposital, visando confundir o interlocutor, chama-se sofisma”. Na segunda
parte o autor analisa a articulação geral das falácias analisadas no conjunto
da sentença. As considerações finais surpreendem, pois ocupam apenas uma
página. Certamente o autor demonstrou por meio dela aquilo que é sabido nos
meios jurídicos: as grandes sentenças condenatórias são aquelas enxutas e
breves, pois demonstram a culpa do réu sem precisar fazer divagações e
malabarismo jurídicos para comprová-la. Como sabemos a sentença condenatória do
processo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é gigantesca comprovando a máxima
de que quantidade de folhas na sentença é inversamente proporcional à qualidade.
Quanto à sentença condenatória de Lula, um grande número de juristas nacionais
e estrangeiros a contestam apresentando suas inconsistências e equívocos
afirmando que ela deveria ser anulada. No que concerne à leitura do livro em
questão, é agradável e acessível, tanto do ponto de vista do entendimento
quanto da obtenção, pois, o arquivo PDF pode até ser baixado gratuitamente do
site do autor na Internet.
Sugestão
de boa leitura:
Falácias
de Moro: Análise Lógica da Sentença Condenatória de Luiz Inácio
Lula da Silva Processo n.º 5046512-94.2016.4.04.7000.
Autor: Euclides
André Mance.
Editora:
IFIBE, Passo Fundo (RS), 2017, 276 p.
*Arquivo PDF disponível em:
www.solidarius.com.br/mance.
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