No
artigo Licença para morrer – parte 1 (dezembro de 2016) afirmei: “Dentre as
inúmeras farsas transformadas em verdades absolutas pela Grande Mídia de Massa
[...] está a de que a Previdência Social apresenta um rombo que inviabiliza a
própria gestão do governo federal. A professora Denise Gentil do Instituto de
Economia da UFRJ comprovou com dados oficiais que a Previdência Social é
superavitária e não possui rombo algum. A metodologia desenvolvida para o
suprimento da receita necessária ao pagamento dos benefícios foi criada com a
parcela de desconto que cabe aos trabalhadores, a contrapartida
patronal/governamental e a receita de impostos como COFINS, CSLL, PIS/PASEP,
etc. O governo de forma desonesta considera apenas os valores oriundos da
arrecadação via trabalhador e empresarial, objetivando se apossar (como é de
hábito) de receitas que tem uma finalidade específica e utilizá-la a seu bel
prazer. A sonegação fiscal, se combatida, poderia livrar o país do aperto pelo
qual passa, mas, Temer (agora, Bolsonaro) não tem estatura para governar em
prol do interesse nacional, governa, então em favor de uma elite arcaica,
egoísta e cruel, assim, mancomunados ferem de morte a democracia, para
preservar privilégios imorais e ilegais em detrimento do desenvolvimento
nacional e do bem-estar da população trabalhadora”.
Bolsonaro
se elegeu com a promessa de campanha de acabar com os privilégios. Obviamente
somente os ingênuos acreditaram que um parlamentar defensor das elites
acostumado com os privilégios que sua função lhe garante há quase 30 anos iria
fazer algo em tal sentido. Dessa forma, parlamentares, magistrados e militares
não entraram nessa fase da reforma da previdência com a promessa de que em um
segundo momento haverá uma reforma específica para estes. Isso lembra aquela criança
que deseja algo e sua mãe fala: na volta nós compramos! Como todos sabem isso
não ocorre. Lembrando ainda mais uma vez: a reforma da previdência tem como
objetivo liberar recursos de impostos especialmente criados para a Previdência
Social e destiná-los para outras pastas. Os impostos não serão extintos. Serão
utilizados para aumentar a capacidade de endividamento do país garantindo aos
bancos a nababesca remuneração dos juros aviltantes que o próprio governo
concede ante o risco de a banca mobilizar suas forças e destituir do poder quem
avança sobre o seu banquete, tal como fez com Dilma que ousou reduzir a taxa de
juros, o que ocasionou a ruptura do pacto com as elites feito por Lula.
É
importante observar que o que ocorre no Brasil é uma nova fase do capitalismo
global que para aumentar a acumulação capitalista precisa avançar sobre os
direitos dos trabalhadores, afinal, o capitalismo nunca foi sinônimo de justiça
social. O capitalismo mostra sua verdadeira face desumana ao tolher dos
trabalhadores os parcos direitos conquistados em décadas de muita luta
sindical. Nossos filhos e netos terão uma existência mais pobre e com menos
direitos assegurados que a nossa geração. O Chile é o país com o maior número
de idosos que se suicidam em todo o mundo. A explicação para tal fenômeno é o
sistema previdenciário adotado nos anos 1980 por imposição do ditador general
Augusto Pinochet que transformou o país em laboratório neoliberal dos “Chicago
Boys” sob a liderança de Milton Friedman e sob as bênçãos de Frederick Von
Hayek da Escola Austríaca de Economia. No modelo chileno, patrões e governos
não contribuem, apenas o trabalhador. Lá os bancos prometeram uma rentabilidade
para o sistema que não se realizou e a maioria dos aposentados recebe menos que
um salário mínimo chileno, o que torna impossível a vida em um momento em que
há muitos gastos com saúde. No Chile, há uma iniciativa em rever o sistema de
previdência, pois, este fracassou. No Brasil de Bolsonaro, o fracassado sistema
previdenciário chileno é o modelo a ser seguido, pois, se este fracassar (e
irá) será para os aposentados, não para os banqueiros que contarão com
montanhas de dinheiro para sua jogatina (aplicação) como bem entenderem, além
do recolhimento de generosas taxas de administração pagas pelo trabalhador. Paulo
Guedes estudou na Universidade de Chicago onde obteve o grau de Doutor em
economia exatamente no auge da divulgação do pensamento neoliberal o qual foi
inicialmente implantado nos Estados Unidos e na Inglaterra. Em todos os países
onde foi adotado, o neoliberalismo fez a desigualdade social aumentar. Mas,
como afirmam os neoliberais: se você é trabalhador, portanto, pobre, é por
incompetência sua! Afinal, você não teve o justo mérito de nascer numa família
bem aquinhoada ou não se esforçou o suficiente para ser patrão e rico!
Nenhum comentário:
Postar um comentário