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sexta-feira, 1 de março de 2019

Brasil: o país que fez a opção pelo suicídio!



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                Há alguns dias vi uma charge veiculada em um jornal europeu na qual havia uma urna brasileira tombada e no alto um corpo vestido com a camisa da seleção, suspenso e inerte. O jornal afirmava que o povo brasileiro ao votar em Bolsonaro cometeu suicídio. Automaticamente lembrei-me do político estadunidense que ao se referir ao Brasil disse: “todo país tem o direito de se suicidar. Se o Brasil escolheu se suicidar, ele tem esse direito”!
Ainda não completamos sessenta dias do novo governo. O festival de escândalos demonstra que a porta do inferno foi aberta e alguém se esqueceu de fechar. O novo governo (que nada tem de novo, pois pratica fidedignamente a velha política) muito se assemelha a empresa privada multinacional Vale, pois, de suas instalações flui um mar de lama. Aliás, lembro-me de ter lido o caso de um jovem pai de família, que munido de espingarda de pressão foi preso inafiançável por ter matado alguns passarinhos, e ao dizer isso, não estou questionando ou discordando da lei, ocorre que a Vale após sua privatização já teve vários acidentes, sendo os mais graves o rompimento da barragem em Mariana em 2015 que matou dezenove pessoas e causou prejuízos econômicos e ambientais irreparáveis dentre os quais os causados ao Rio Doce. Parece até um caso de premonição, a ex-estatal Vale do Rio Doce, após a privatização ter retirado do seu nome o Rio Doce, hoje seria piada de mau gosto ainda levar em seu nome o rio que matou. Agora foi a vez de Brumadinho com prejuízos econômicos e ambientais irreparáveis, tendo sido encontrados até o momento em que escrevo estas linhas, 177 corpos, sendo que 157 continuam desaparecidos. A questão é porque os grandes danos ambientais causados por empresas, madeireiros, fazendeiros, industriais, etc. não resultam em punição severa como no caso do caçador de passarinhos?
A resposta: desde que o Brasil é Brasil, o país é governado pela elite e para a elite, sendo a Justiça uma ferramenta a serviço da classe dominante. Pouquíssimos governos tentaram inverter a lógica que marca a história nacional. A marca da exclusão, do preconceito e da apropriação indevida dos bens alheios. Tivemos a colonização que dizimou a população indígena apropriando-se de suas terras. Depois veio a escravidão e africanos foram sequestrados ou comprados como se mercadorias fossem e com o aval da Igreja. Para não se sentirem mal, dos africanos tiraram sua humanidade. Consideravam que não tinham alma, podiam ser escravizados. Veio a libertação dos escravos, mas nunca a necessária indenização. Fizeram a Independência sem o povo e também a República, mas, preservaram as elites no comando. A ditadura civil-militar de 1964-1985 aprofundou a concentração de renda e aumentou exponencialmente a dívida pública e do governo saiu por não ter mais controle sobre a economia esfacelada. Quando perdeu o poder nas urnas, a direita especialista em dar golpes de Estado, uniu forças e superou seus antagonismos de classe congregando em suas fileiras, o empresariado, a Grande Mídia, os parlamentares conservadores e as forças militares que em nosso país se especializaram na contenção do inimigo interno: o povo que ousa sonhar por dias melhores. Em conversa com alguns integrantes da esquerda radical, soube que a possibilidade de união das esquerdas não existe. A divisão da esquerda é a força da extrema-direita. A direita que se intitula centrão se suicidou com o golpe de Estado de 2016, teria grande chance nas eleições de 2018, preferiu embarcar na aventura fascista, e fascista por fascista, Bolsonaro tem carreira longeva. Assim pensou e preferiu o eleitor.
A eleição de Bolsonaro foi um ato de insanidade do povo brasileiro. Penso que 1/3 dos eleitores de Bolsonaro seja formado por fanáticos, os quais jamais deixarão de apoiá-lo, mesmo ante as inúmeras provas de corrupção que envolve o clã Bolsonaro. O vice-presidente parece ser uma pessoa mais sensata que Bolsonaro, e dado o desequilíbrio psicológico e a pouca inteligência do presidente não chega a constituir elogio. Damares Alves, Ricardo Vélez e Ernesto Araújo jamais seriam ministros de Estado num país sério, mas, o Brasil também não é um país sério, ou dá para considerar sério um país que elege Bolsonaro como Presidente da República? Os escândalos envolvendo os laranjas, o caso Bebianno, o boicote aos frigoríficos brasileiros por parte dos países árabes, o fechamento da fábrica da Ford caminhões, a ameaça da Chevrolet de se retirar do Brasil, a reforma previdenciária que condenará milhões de brasileiros a morrer antes de conseguir se aposentar é apenas um prenúncio do que virá. Quanto aos 2/3 restantes que se deixaram levar pelo ódio ao PT e votaram contra os interesses de sua própria classe, e, também aos que se omitiram, eu rememoro Simone de Beauvoir quando disse: “O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os oprimidos”. Cabe-lhes agora fazer um mea culpa e participar da luta para minimizar os inevitáveis estragos ou se calar e esperar que o espetáculo acabe e ver que país seu voto impensado lhe reservará após o fechar das cortinas.

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