O título acima causa a revolta dos
educadores, pois, se trata de uma situação bem comum pela qual passam em
diálogos com pessoas não atuantes na área da educação, e que surpreendentemente
assim agem sem qualquer maldade. Isto se explica pelo fato de que somos um país
cuja população em seu inconsciente coletivo considera trabalho como sendo
apenas o braçal. Este escriba na qualidade de professor certa vez ouviu de um
educando: “professor nem trabalha, fica só falando, queria ver por no cabo de
uma enxada”. Penso que este educando, por sua pouca idade, repetiu falas que
ouviu em sua casa ou meio social. E esse é um pensamento mais comum do que se
imagina, tendo em vista que para parte da sociedade parece muito fácil ser
professor, afinal como me disse um empresário: “é só ficar jogando conversa
fora com os estudantes sem ter grandes preocupações como vender o suficiente
para pagar os empregados e os impostos”. Minha mãe em resposta ao
questionamento de uma lojista citou as profissões dos filhos. A lojista ao tomar
conhecimento de que o filho mais novo (eu) era professor, afirmou: “mas, ele
tem bastante estudo, com o tempo arranja uma coisa melhor”, note-se que minha
mãe tem orgulho de eu ser professor.
Se o magistério é uma profissão tão
fácil, por que tantas matérias jornalísticas e artigos científicos estão sendo
produzidos alertando sobre o risco de um apagão educacional por falta de
professores? Se a educação é o paraíso das profissões por que os jovens da
classe alta e média não a escolhem como seu futuro profissional? Se professor
ganha tão bem como alguns dizem por que os jovens bem nascidos não são
incentivados por seus pais a seguir em tão promissora carreira? Se o trabalho
de professor é tão suave por que tantas pesquisas científicas mostram grandes
índices de adoecimento entre seus profissionais? Se o magistério é uma
atividade laboral tão tranquila, por que os educandos que dividem a rotina
diária com seus mestres, nas diversas classes, em sua quase totalidade, não a
desejam para si? Se o professor é o profissional responsável por formar os
trabalhadores das mais diversas áreas, do operário ao empresário; do médico ao
cientista; do advogado ao Juiz de Direito por que ele é tão pouco valorizado socialmente?
Segundo recente pesquisa metade dos
professores não recomenda a profissão para um jovem. E se engana quem pensa que
os problemas na educação se referem unicamente à questão salarial em que dentre
as profissões que exigem igual formação, o magistério continua a ser a menos
remunerada, não somente no Brasil, mas, na América Latina. As pesquisas mostram
que além dos baixos salários, a falta de autonomia, a sobrecarga de trabalho, a
pressão vinda de cima para baixo na busca de resultados, salas superlotadas,
indisciplina e desinteresse de estudantes que não raras vezes acabam em
violência verbal e física levam ao adoecimento dos profissionais da educação
cujas enfermidades mais constatadas são: problemas gastrointestinais,
enxaquecas, dores de cabeça persistentes, falta de sono, esgotamento físico e
psicológico, varizes, bursites, doenças osteomusculares, perda parcial da
audição e da voz, estresse, depressão e a síndrome de Bournout.
Vivemos um momento em que professores
são tratados quase como criminosos. A eles é atribuída toda a culpa pelo
insucesso dos educandos, e isso é feito de forma perversa, pois, se omite as
péssimas condições de trabalho a eles entregues. Se cobra resultados dos
educadores como se apenas deles dependesse o sucesso dos educandos, e muitas
vezes tomando como base comparativa, os resultados alcançados pelos estudantes
avaliados nos países da OCDE, mas, sem levar em conta a desigualdade social que
nos diferencia de tais países, e que ceifa dos jovens pobres o que lhes é mais
precioso: o sonho de uma vida melhor para si e sua família!
Fontes:
https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/sob-tensao-professor-adoece-mais-0beut7zdzwx2f4v5pq55e2zpq -
acesso em 06 de agosto de 2018.
https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/niveis-de-doenca-e-stress-entre-os-professores-sao-alarmantes-4e3hoiomzo5jhw9by77pli6b2 -
acesso em 06 de agosto de 2018.
http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2018-07/metade-dos-professores-no-pais-nao-recomenda-propria-profissao -
acesso em 06 de agosto de 2018.
http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2018-07/brasil-tem-dificuldade-de-atrair-jovens-para-carreira-professor -
acesso em 06 de agosto de 2018.
https://tribunademinas.com.br/noticias/cidade/04-03-2017/estudo-avalia-causas-de-adoecimento-de-professores.html -
acesso em 06 de agosto de 2018.
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