Nos últimos dias tenho me dedicado a ler livros sobre
distopia. Utopia é um conceito popularizado e que se refere a um sonho de
difícil realização. Distopia, por seu turno, é a antítese de utopia. É a
realização do pior mundo possível com as características do totalitarismo, da
opressão, da inexistência da liberdade de expressão, da perseguição ideológica
aos intelectuais sejam eles jornalistas, professores ou cientistas.
Segundo recente pesquisa, para 70% dos entrevistados a
vida piorou após o Golpe de Estado de 2016. O governo golpista de Temer
(MDB/PSDB/DEM e nanicos conservadores) aplicou o projeto neoliberal Ponte para
o Futuro que levou o Brasil de volta ao passado. O Brasil voltou a fazer parte
do Mapa da Fome da ONU, o desemprego cresceu, os preços dos combustíveis
dispararam e a inflação percebida pela população ao fazer compras no mercado
não bate com os índices de que tanto o governo Temer se vangloria, pois, o
orçamento familiar está cada vez mais apertado. Com o falso pretexto de gerar
empregos, o governo neoliberal acionou sua imensa base de apoio no Congresso
Nacional e fez aprovar a reforma trabalhista, destruindo o legado da CLT de
Getúlio Vargas. A verdadeira intenção é a precarização das condições de
trabalho, sendo que há até quem fale em extinguir a Justiça do Trabalho. O
objetivo é fazer com que o mercado de trabalho brasileiro seja a expressão das
condições de trabalho semi-escravo verificado em alguns países da Ásia para o
deleite dos capitalistas exportadores, que obviamente, não dependem do mercado
interno brasileiro que será reduzido ante a perda de poder aquisitivo da classe
trabalhadora.
O
pior é constatar que a classe média e mesmo parcela da classe trabalhadora
apóia ou se omite ante essas reformas, o que evidencia além da falta de
consciência de classe, uma enorme falta de inteligência, pois, o que gera
emprego é economia aquecida que ao reduzir a taxa de desemprego eleva o poder
aquisitivo da classe trabalhadora que ao consumir mais retorna maiores lucros aos
empresários que visam o mercado interno. Para corroborar o que digo, não é
necessário sequer se referir ao economista John Maynard Keynes (1883-1946),
basta ler o que pensava o mega-empresário Henry Ford (1863-1947) que irritava
os demais capitalistas ao pagar salários acima do mercado (numa atitude que
gostaria ver multiplicada), pois, refletia: “injetar dinheiro na mão dos
trabalhadores é injetar no consumo, e, consumo gera os lucros que todo
capitalista almeja”. Parte dos empresários parece ter uma utopia: sonha que enquanto
esfola seus trabalhadores com salários vis, os demais pagarão os mais altos
salários possíveis para que possam consumir. Ledo engano, afinal, se todos os
capitalistas pagarem salários de fome, quanto e a quem venderão?
A distopia que vivemos na forma do governo Temer
caracteriza-se pela perda de soberania nacional, redução dos investimentos
sociais e no perdão de dívidas e isenções fiscais em benefício de grandes
empresas, petroleiras estrangeiras, bancos e latifundiários, que no conjunto causa
um prejuízo à nação que ultrapassa a casa do trilhão de reais. Trata-se da
antiga e costumeira política de transferir renda da classe média e baixa
diretamente para os bolsos dos privilegiados que formam a elite (parcela de 1%
mais rico do país). Engana-se quem pensa que a corrupção é obra exclusiva ou
majoritária de políticos, os quais pouco fariam em matéria de corrupção sem a
associação com os empresários que buscam nos cofres públicos o aumento de suas
fortunas. O que se observa é que muitas vezes quem mais fala sobre corrupção também
a pratica, e isso vale para os políticos, como vale para o cidadão comum.
Nestes tempos cabulosos em que criaturas das trevas
saíram à luz do dia para matar a utopia de um Brasil menos injusto, as eleições
representam a perspectiva de retomada dos dias melhores que deixamos para trás
com o golpe de 2016. Um colega levantou a seguinte questão: mas, e se no
segundo turno der: Alckmin x Bolsonaro? Disse-lhe que considero altamente improvável,
porém, pelo que eles representam se trataria: “de uma sinuca de bico quando o
adversário já disputa a bola oito! É o pior dos mundos”!
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