sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
Em busca de si mesmo
Neste momento em que escrevo, muitos colegas de profissão (professores) encontram-se em férias, para estes e para os demais leitores, indico o livro “Na natureza selvagem”, que deu origem ao filme de título homônimo, eu, assisti primeiro o filme, gostei tanto que acabei por adquirir também o livro. A obra cinematográfica é muito boa e quem desejar pode adquirir o livro também, pois, vale a pena cada centavo do investimento, isto, se o leitor for admirador de obras que fazem o relato de pessoas que ousam aventurar-se pelo mundo abrindo mão da vida confortável e da segurança que o lar onde moram lhes proporciona.
Trata-se da história real de Christopher Johnson McCandless, que tendo nascido em berço confortável, nunca lhe faltou nada, para garantir isso, seus pais mergulharam no trabalho de forma incansável dando a ele e sua irmã o conforto material que eles mesmos afirmaram não ter na idade destes, muito embora o tempo escasso fizesse com que nem sempre tivessem tempo para os filhos. Chris era um excelente aluno e atleta de elite, crescera em um subúrbio rico de Washington D.C., formou-se com distinção na Universidade e tinha grande gosto pela leitura e entre seus autores favoritos estavam Tolstoi e Thoureau, os quais muito o influenciaram na sua forma de pensar. Tinha espírito aventureiro, uma vontade muito grande de viajar, conhecer outros lugares, os quais lhe possibilitassem entrar em contato consigo próprio. Ainda durante o curso acadêmico fizera algumas pequenas viagens solo, as quais terminavam somente quando do último dia de férias. Como bom filho, procurava não decepcionar os pais e buscava sair-se bem na Universidade, uma obrigação que se impunha diante dos esforços destes. Mas, Chris tinha um grande inconformismo com o mundo, suas leituras reforçaram o seu espírito de simplicidade, julgava errado o modelo consumista que fazia a cabeça da maioria das pessoas, e, suas aventuras tinham também por objetivo fugir da loucura que julgava ser a sociedade e encontrar-se consigo próprio, uma pessoa simples, despojada e principalmente livre.
Após se formar na Universidade em 1990, Chris doa uma considerável quantia em dinheiro que dispunha para uma instituição de caridade, deixa na casa em que morava um bilhete para a família e desaparece, com seu velho carro, o qual, sempre recusou trocar por outro novo apesar da insistência do pai, pois, em suas palavras este lhe servia muito bem, então, não havia necessidade de trocá-lo, perambula por toda a América do Norte. A família a princípio julgou que a sede de McCandless por aventura logo passaria e ele voltaria para casa como das outras vezes, porém, o tempo foi passando e a família começou a ficar muito preocupada e passou a procurá-lo. Como se desfez de grande parte do seu dinheiro teve que procurar empregos os mais diversos, assim, trabalhou em lojas de fast food e também realizou trabalhos pesados em fazendas para conseguir a subsistência. Depois de mais de um ano e meio perambulando pelos Estados Unidos decide viver a mãe das aventuras, aproveitando que seu carro estragou, abandona-o, queima o dinheiro que lhe resta e chega ao Alaska pegando caronas com caminhoneiros e viajantes e de posse de 10 kg de arroz, um livro sobre plantas comestíveis e medicinais, uma espingarda e munição lança-se em território selvagem à espera de sobreviver sem absolutamente nenhum conforto material e longe da sociedade moderna, numa trilha deserta encontra um velho ônibus abandonado e faz dele sua casa, vive ali cerca de três meses, subnutrido e doente, tenta sair para buscar ajuda, mas, o período de degelo não lhe permite atravessar um rio e sem saber que, não muito longe, rio acima, havia uma passagem. Resolve voltar ao ônibus, onde, lúcido espera seus momentos finais. O livro e a obra cinematográfica contam toda a aventura de Chris através de investigações e dos seus próprios registros. McCandless deixou para trás até o próprio nome, pois, sempre se identificava com o pseudônimo Alexander Supertramp, o que dificultou sua localização por parte de sua família que somente ocorre, após mais de dois anos de sua partida, quando enfim seu corpo é encontrado. Uma obra sem dúvida emocionante e que possibilita a reflexão sobre muitos aspectos da sociedade e principalmente de nossas vidas.
Sugestão de boa leitura e de vídeo:
Krakauer, Jon. Na natureza selvagem: a dramática história de um jovem aventureiro. Companhia das letras.
Vídeo: Na natureza selvagem (EUA - 2007) dirigido por Sean Penn.
sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
O melhor negócio do mundo
Um fato recorrente nas conversas entre caminhoneiros e viajantes são os altos preços praticados nos pedágios paranaenses, o que causa grande indignação a muitos deles. Soube através de uma pessoa que trabalhou em praça de pedágio que alguns motoristas, irritados, tratam mal os agentes que fazem a cobrança, quando estes são apenas trabalhadores defendendo sua subsistência, trata-se de uma atitude rude que não traz resultado prático nenhum, pois, o recado não chegará ao devido destino. Mas, verdade seja dita, acabo de voltar de uma viagem à Santa Catarina e nos pedágios de lá paguei R$ 1,70, e apesar de ser contra pedágios, pois, penso que já pagamos o IPVA para bancar a construção e manutenção de rodovias, os preços dos pedágios paranaenses são mesmo escorchantes (na BR 277, R$ 9,70 em algumas praças, e no trecho Curitiba – litoral R$ 15,40) lembrando ainda ao leitor que a BR 101/SC é duplicada e a BR 277 em grande parte é pista simples e que por assim ser e também pela forma como trechos de seu traçado foram construídos tornam-na muito perigosa, não por acaso, li que uma publicação estadunidense de turismo além de indicar as atrações paranaenses alertava sobre a necessidade de cautela ao dirigir pelas rodovias paranaenses.
Os usuários das rodovias paranaenses acostumados ao descaso na manutenção das mesmas pelo governo federal nas gestões (Collor, Itamar, FHC) que as tornaram precárias por falta de manutenção alegando falta de recursos (uma estratégia utilizada por governos neoliberais para o convencimento da população para a necessidade da privatização), diante das promessas de melhorias, nada fizeram para impedir e até mesmo houve quem apoiasse a privatização. O projeto “anel de integração” levado à cabo na época da dobradinha neoliberal Jaime Lerner (Governo do Paraná) e Fernando Henrique Cardoso (Governo Federal) tinha como objetivo dotar o Paraná de boas e modernas rodovias e possibilitar um maior desenvolvimento da economia paranaense e do MERCOSUL. Tais representantes da política estadual e nacional fizeram as tratativas necessárias para possibilitar a concorrência visando a privatização/concessão das rodovias, cujas concessionárias vencedoras, desde o princípio praticaram preços salgados, porém, de forma totalmente legal, pois, as tarifas e as formas de reajustes estavam garantidas em contrato. Mas, os preços da conta não eram os esperados pelos usuários, pois, muitos que defendiam a concessão ficaram indignados com os valores.
Diante das queixas, as concessionárias colocaram nas rodovias algum tempo atrás outdoors com a frase “lembra?” e com fotografias mostrando as péssimas condições daquele trecho antes da privatização, é óbvio que as condições de trafegabilidade das rodovias paranaenses pedagiadas melhoraram se comparadas aos anos do descaso neoliberal, o que realmente incomoda são os preços das tarifas cobradas, que, a julgar por seu valor dão a impressão que as concessionárias estão nos oferecendo rodovias da qualidade das famosas autobhans alemãs. Certa vez Roberto Requião afirmou que: “o melhor negócio do mundo no Paraná é uma concessionária de pedágio bem administrada e o segundo melhor negócio, uma concessionária de pedágio mal administrada” e quando de sua candidatura ao Governo do Estado em 2002, afirmou que iria envidar esforços para acabar com os pedágios, não conseguiu, pois os contratos são um primor do ponto de vista jurídico e neles consta o pagamento de lucros cessantes, dessa forma, torna-se inviável a rescisão, mas, o fato é que pagar valores justos como os cobrados na BR 101 em pistas duplicadas (concedidas à iniciativa privada pelo Governo Lula num modelo diferente que teve como objetivo a menor tarifa ofertada) minorariam a sensação de exploração que sentimos ao viajar pelo Paraná. Além de menores tarifas, a BR 277 precisa ser totalmente duplicada por sua importância como corredor de exportação e integração do MERCOSUL, além do enorme aumento do tráfego observado na última década. Vi até algumas placas indicando que alguns trechos estão recebendo obras nesse sentido, porém, li que as concessionárias desejam a prorrogação dos contratos (e consequentemente das salgadas tarifas) em troca das duplicações. Uma BR 277 totalmente duplicada e no mínimo com tarifas justas é no momento um sonho distante, mas que deve estar na pauta de discussões da próxima eleição, fique atento eleitor!
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
Dando munição para o inimigo
Eu fico muitas vezes estarrecido com as bobagens e/ou manipulações divulgadas por alguns grandes nomes patrocinados pela grande mídia nacional, não vou entrar no mérito se eles vendem a alma (suas mentes) escrevendo ou dizendo aquilo que seus patrões desejam e dessa forma agem como testas de ferro ou se aquilo que escrevem ou dizem é o que realmente pensam. Se for verdadeira a primeira opção além de considerar tal atitude deprimente penso na frase do Barão de Itararé "O homem que se vende recebe sempre mais do que vale”. Eu, inversamente, escrevo e digo o que penso de forma totalmente independente, pois, não sou filiado a nenhum partido político e defendo aquilo em que acredito. Minha consciência é a maior riqueza que possuo, jamais recebi algo em troca de meu posicionamento político e também jamais solicitei algo em troca disso. Nunca escrevi ou falei algo sobre corrupção ou qualquer outro tema visando benefício próprio, pois, nunca fui candidato e provavelmente jamais serei, pois, não tenho nenhuma pretensão nesse sentido. Leciono, escrevo e palestro porque além de garantir a sobrevivência me dá um imenso prazer, tenho gosto por aquilo que faço e o que faço é aquilo em que realmente acredito. No caso referido, se a segunda opção for a correta, somente posso ficar com pena de tais pessoas, e me questiono: o que os levou a serem assim? O que deu errado?
Sabemos que as pessoas refletem aquilo que carregam dentro de si e algumas pessoas são extremamente negativas e toda a negatividade faz mal, assim o melhor é afastar-se do raio de ação de tais indivíduos. Como para toda a regra há a exceção, alguns se sentem bem lendo ou convivendo com tais pessoas, pois também trazem dentro de si a negatividade, que expressa em palavras faz tal parcela da sociedade identificada como extrema direita ou reacionária delirar de prazer ao ler tais artigos. Eu confesso, lia muito a Revista Veja, e, apesar das críticas que recebia, respondia que era necessário saber o que o inimigo pensava, e foi também graças a discordância que mantinha com os artigos de Diogo Mainardi que comecei a escrever para expurgar-me de todo o mal que a linha editorial da revista me fazia. Há algum tempo guardo um artigo do ano de 2006 de Reinaldo Azevedo que em certa parte afirmava: “[...] Eu não tenho o menor interesse na opinião do povo. Quase sempre ele está errado. Aliás, a opinião de muito pouca gente me interessa. A democracia sempre foi salva pelas elites e posta em risco justamente pelo “povo”, essa entidade [...]”. E em outra parte do mesmo artigo afirma: “[...] fico aqui queimando as pestanas, tentando achar um jeito de eliminar o povo da democracia. Ainda não consegui. Quando encontrar, darei sumiço no dito-cujo em silêncio. Ninguém vai perceber... Povo pra quê?”. ¹
Reinaldo Azevedo pode resistir em seu intuito, mas jamais irá obter êxito, pois, etimologicamente, democracia é o governo do povo, ou seja, o povo exerce sua soberania através de seus representantes eleitos, portanto, em lugar do povo (do grego dêmos) somente se pode acrescentar o prefixo “auto” (autocracia: governo exercido de forma absoluta por um líder, um grupo, um comitê, etc., sem o consentimento dos governados. Um exemplo é a ditadura militar que findou nos anos 1980 onde a tônica era a supressão dos direitos civis) ou ainda acrescentando o prefixo “pluto” (plutocracia ou governo exercido pelos mais ricos da sociedade) ambas as formas geram grandes desigualdades sociais e pouca mobilidade social, concluindo, sem o povo, não há democracia e sem o apoio do povo nenhum regime resiste ad eternum.
Ao comentar com alguns amigos a ideia deste artigo, fui alertado que daria munição para o inimigo, pois, ao invés de repulsa a tal argumentação de Reinaldo Azevedo, faria com que mais leitores se tornassem seus seguidores. Preocupa existir um colunista com pensamento tão reacionário, preocupa ainda mais saber que são vários, mas o que tira o sono mesmo é saber que são os gurus intelectuais de parcela significativa da sociedade, a qual, em meu ver parece sofrer de esquizofrenia, com o perdão das pessoas que se tratam de tal doença, pois, estão buscando a cura, enquanto outras a alimentam.
Fonte: 1. http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/lula-novo-com-culpa-povo/ - acesso em 02/01/2014.
sexta-feira, 3 de janeiro de 2014
O contraponto necessário
Há algum tempo atrás enquanto discorria sobre as classes socioeconômicas e o seu percentual de apropriação da riqueza nacional, um aluno perguntou a qual classe social eu pertencia, respondi-lhe: “à classe trabalhadora”, e, este então afirmou que eu não havia entendido e expliquei-lhe que entendi sim, pois, embora minha faixa de rendimentos me inclua na classe média, esta não me representa, pois, segundo Marx, no capitalismo a sociedade é dividida em duas classes, proletários (a ampla maioria) e os capitalistas (a minoria detentora dos meios de produção e aqueles que exploram a mais-valia de seus trabalhadores). Expliquei que grande parte da classe média é composta de trabalhadores e de uma pequena burguesia que alienada defende com unhas e dentes o capitalismo que a explora na ilusão de um dia estar no topo da pirâmide social. O sinal tocou e não tive tempo de aprofundar o tema o qual acabei não retomando na aula seguinte.
Neste momento em que escrevo, lembro-me da música “Burguesia” de Cazuza em que ele afirmava: [...] A burguesia fede/ A burguesia quer ficar rica/ Enquanto houver burguesia/ Não vai haver poesia/ A burguesia não repara na dor/ Da vendedora de chicletes/ A burguesia só olha pra si/ A burguesia só olha pra si /A burguesia é a direita, é a guerra [...]. No entanto, Cazuza também afirmava na letra que também havia o bom burguês que tinha interesse em construir um país, então, não se trata de satanizar a classe média, até porque a luta de todo governo popular é fazer com que mais e mais pessoas ascendam a esta classe social e isto tem sido feito com grande êxito nas gestões Lula/Dilma. Ocorre que boa parte da classe média é alienada e absorve os assim chamados “discursos chiclete” da alta burguesia e defende as bandeiras que acabam por beneficiar esta última. Não interessa à alta burguesia um Estado de Bem-Estar Social no estilo escandinavo por seu custo na forma de impostos, pois, não precisa de escola pública, hospitais públicos, etc., e defende a redução drástica dos impostos para acumular mais riqueza, tal modelo poderia interessar e muito à classe média, porém, esta se espelha na alta burguesia tentando ser o que não é, e, vive a dor de cabeça de ao final do mês ver suas contas fechar no vermelho, então, pensa no alívio que seria pagar menos impostos e sobrar algum tostão para pagar a dívida do cartão, quando deveria estar atuando ativamente em bloco com toda a classe trabalhadora lutando por impostos progressivos (onde os mais ricos pagam mais (sim, classe média você não está no topo da hierarquia social!) e combater os impostos regressivos praticados em nosso país que penalizam os que auferem menores rendimentos, pois, incidem sobre os produtos de consumo básico, ou seja, cobra-se no consumo o mesmo imposto de quem ganha salário mínimo e de quem ganha um milhão por mês. A classe média também deveria estar atuando fortemente na cobrança de investimentos públicos e exigindo qualidade na escola pública, nos serviços públicos de saúde e de segurança, etc..
Encontro pessoas que ouvem decepcionadas quando afirmo que somente através do socialismo alcançaremos a justiça social, pois, o capitalismo se alimenta da desigualdade social, mesmo assim, não raras vezes, alguns desses meus interlocutores afirmam orgulhosos serem capitalistas e apesar da minha “constatação muda” de serem na verdade trabalhadores alienados ou pequenos burgueses para os quais cabe bem a frase de Aldous Huxley: "A ditadura perfeita terá as aparências da democracia, uma prisão sem muros na qual os prisioneiros não sonharão sequer com a fuga. Um sistema de escravatura onde, graças ao consumo e ao divertimento, os escravos terão amor à sua escravidão”. O marxismo é a única ferramenta para impedir a barbárie advinda do fim do sonho de uma sociedade menos injusta e coerente com os direitos humanos para toda a população, dessa forma, ser socialista hoje é não pactuar com a opressão patronal, econômica e midiática que transforma seres humanos em seres embrutecidos por uma vida de muito trabalho por não mais que a mera sobrevivência. Ser socialista é estudar as estratégias do inimigo para resistir mesmo sob fogo cerrado impondo ao Estado a pauta da esquerda, ou seja, do povo. Nunca Marx foi tão essencial como nessa triste época que vivemos!
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