quarta-feira, 24 de julho de 2013
Um estranhamento necessário!
Algumas vezes escrevo sobre algo e posteriormente com grande felicidade encontro artigos de pessoas de notório saber com opiniões convergentes, não é o caso deste artigo que ora inicio, explico, antes de escrever as primeiras linhas tomei contato com o excelente artigo da jornalista Eliane Brum “Doutor Advogado e Doutor Médico: até quando?”¹ embora tivesse a pretensão de escrever sobre tal tema a um bom tempo. Professor que sou sempre me intrigou o fato de a sociedade chamar médicos e advogados de “Doutores” e professores com doutorado apenas como professores. Há algum tempo conversei com um ex-aluno que me perguntou se eu “ainda” era professor como quem diz: Ainda não achou uma coisa melhor como profissão? Não dei importância, ou pelo menos procurei não demonstrar descontentamento, pois muitas pessoas fazem tal afirmação e me contou que estava cursando Direito, disse-lhe que considerava o Direito um curso muito interessante e ele afirmou entusiasmado que futuramente seria tratado como “Doutor” dando a impressão que isto era o mais importante e um diferencial da profissão.
Noutra oportunidade, um agricultor de um município vizinho me contou que ao consultar um médico, este exigiu que lhe chamasse de “Doutor” e o agricultor lhe respondeu que Doutor é quem faz doutorado e que o chamaria se mostrasse o diploma de doutorado. Sempre pensei que este tratamento dado pela sociedade aos “doutores” em questão se devia à história educacional de nosso país, ou seja, em terra que o analfabetismo vigora quem tem um pouco de estudo é doutor, assim, teria nascido o “doutor das leis” (advogado) e o “doutor médico”. Lendo o excelente artigo de Eliane Brum, confirmei minhas suspeitas de que essa forma de tratamento se deve mesmo ao passado² que insiste em ser presente de uma nação gigantesca que não conseguiu ainda na segunda década do Século XXI se desvencilhar do analfabetismo, e, principalmente, mesmo sendo sabedores que há muito tempo a escravidão acabou, a divisão Casa Grande e Senzala permanece dando sustentação ao tecido social de nosso país tendo em vista termos uma das piores distribuições de renda do mundo.
Eliane Brum em seu belíssimo artigo afirma que essa forma de tratamento deve ser cada vez mais tratada com estranhamento, pois diz respeito à realidade de nosso país, ou seja, ao chamar médicos e advogados de “Doutores”, o paciente e o cliente que já costumam entrar nos ambientes de trabalho de tais profissionais com um sentimento de submissão além de lhes conferir tal status de superioridade reconhecem como natural a extrema desigualdade social de nosso país. No caso dos professores que após a graduação e entre o Mestrado e o Doutorado dedicaram pelo menos seis anos de grandes esforços nos estudos desenvolvendo pesquisas para o progresso do conhecimento científico e que deveriam ser assim considerados, não o são, num país que não aprendeu ainda a valorizar a Educação (não falo somente das autoridades constituídas), pois, grande parte da sociedade nela incluindo pais e alunos não aprendeu dar à Educação o valor que ela não apenas merece, mas também necessita. Segundo Eliane Brum, embora os Professores Doutores em seus artigos e correspondências oficiais subscrevam o “Doutor” junto aos seus nomes, não se sentem à vontade em assim serem chamados. Faz sentido! Se Doutor é sinônimo de Casa Grande, professor no Brasil ainda é sinônimo de Senzala.
Fonte:
1.http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/eliane-brum/noticia/2012/09/doutor-advogado-e-doutor-medico-ate-quando.html – Acesso em 16 de julho de 2013.
2. Há um decreto Imperial de D. Pedro I da época em que o Brasil era escravocrata, o detalhe é que como o Império acabou em 1889, questiona-se a validade de tal decreto!
P.S. Em minha opinião doutor é quem faz doutorado e se fosse médico ou advogado (sem doutorado) dispensaria tal forma de tratamento.
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