Durante as Jornadas de
Junho de 2013, tomei uma decisão: parei de assistir ao jornalismo da TV Globo. Explico:
o Movimento Passe Livre protestava contra o aumento das tarifas de ônibus e foi
inicialmente criticado pela emissora, porém, quando as manifestações cresceram
e ganharam outras bandeiras, a Globo deu uma guinada de 180 graus. Isso ocorreu
porque a emissora percebeu a chance de fustigar o Governo Dilma Rousseff (PT),
sendo que o mesmo comentarista que havia condenado os atos, passou a apoiá-los
dias depois.
Foi um espetáculo de falta de credibilidade, com a
emissora transmitindo ao vivo os panelaços e incentivando a adesão popular.
Aquele jornalismo mau caráter me enojou, e lá se vão doze anos sem noticiários
da TV Globo em minha casa.
Uma contradição similar veio do Estadão. Em 2018, o
jornal defendeu que o então ex-presidente Lula cumprisse pena "como
qualquer preso". Agora, com Bolsonaro, argumenta que um ex-presidente não
deve ser tratado assim, sugerindo prisão domiciliar, que no caso de Bolsonaro,
trata-se de uma mansão. Ora, se a regra vale para todos, por que o privilégio?
Argumentam que Bolsonaro está doente, ora, como são tratados os "outros
presos" doentes? Todos têm direito à prisão domiciliar?
A ironia é que, em 2017, seu filho Eduardo Bolsonaro
publicou em uma rede social: "Ladrão de galinha ir para a prisão e ladrão
amigo do rei para prisão domiciliar é sinônimo de impunidade". A frase,
hoje, soa como um retrato da seletividade que se pretende, beneficie seu pai.
Nós brasileiros, parecemos estar presos no roteiro do
filme O Feitiço do Tempo, pois a cada dia, a cada novo amanhecer, a velha mídia
abre espaço para os improdutivos e custosos parlamentares da extrema direita
falarem sobre a necessidade da aprovação
de um projeto de lei (ao arrepio da Constituição Federal) concedendo a anistia
para os criminosos golpistas para a "pacificação" do país.
Penso que o país só se pacificará quando a impunidade
histórica do golpismo acabar e a democracia for fortalecida com uma mídia
regulada, livre do domínio de poucos grupos empresariais que, na sustentação de
interesses escusos, praticam uma interpretação contorcionista da realidade,
ditando a opinião pública para uma sociedade pouco afeita ao pensamento
crítico, pois assim demonstram as pesquisas sobre analfabetismo funcional.
É de se lamentar, que grupos de comunicação brasileiros
constituam marcas valiosas, mas ao mesmo tempo tão pobres em credibilidade, que
é ou deveria ser seu maior patrimônio.
