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sábado, 12 de abril de 2025

Dois Irmãos

 


Milton Hatoum (1952) é um escritor, tradutor e professor brasileiro. É considerado um dos grandes escritores vivos do Brasil. Hatoum é arquiteto formado pela USP, foi preso durante a ditadura militar por participar do movimento estudantil de oposição ao regime militar. Lecionou Literatura na Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e foi professor visitante na Universidade Sorbonne (Paris) e Universidade da Califórnia (Beckerley). Publicou seis romances e dentre outros prêmios, conquistou duas vezes o Prêmio Jabuti (Wikipédia).

            Na obra Dois Irmãos, o narrador é Nael, filho de Domingas, uma "cunhatã" (menina indígena) órfã "adotada" por Halim e Zana unicamente com a intenção de ter uma serviçal em sua casa. Nael tem como seu maior desejo, saber quem é o seu pai, um segredo guardado por sua mãe. Ele conta as histórias que presenciou e as que ouviu dos mais velhos. Halim é um libanês que migrou para o Brasil no início do século XX, se estabelecendo em Manaus, a então pujante capital da borracha. Halim casa-se com Zana, que possui antepassados indígenas. Halim gostava da vida a dois com a esposa, nunca desejou ter filhos, eles vieram. Passou a vida ressentido em dividir a atenção e o tempo da esposa com os três filhos que teve, sendo dois gêmeos (Omar e Yakub) e, Rania, que se torna a sucessora na condução da prestigiada loja da família. A trama se desenvolve em torno da extrema rivalidade dos gêmeos.

            O leitor já deve ter pensado se tratar de mais uma narrativa estilo "Caim e Abel" ou "Esaú e Jacó". Milton Hatoum não caiu nesse clichê, embora no início do livro dê vários sinais nesse sentido. Com o desenrolar da leitura, as personagens vão se tornando mais complexas a ponto de Rania afirmar que Yakub é ainda mais cruel que Omar, o "caçula", o preferido de Zana e por ela mimado. Omar é estudante indisciplinado e relapso, um rapaz preguiçoso, inconsequente e mulherengo. Seu irmão Yakub é estudante elogiado pelos professores, responsável, sério, porém sentindo-se rejeitado, orgulhoso, recusa qualquer ajuda financeira da família. Sozinho, às próprias expensas, muda-se para São Paulo, onde secretamente se casa com a bela manauara Lívia. A moça foi o motivo por trás de uma luta corporal entre os irmãos que causou a Yakub uma grande cicatriz no rosto, única diferença visível entre os gêmeos idênticos. Yakub por seus méritos forma-se engenheiro civil, monta sua própria construtora e enriquece. O ódio é o sentimento alimentado entre os irmãos ao longo de suas existências e, os encontros de ambos sempre trazem preocupação aos familiares.

            A narrativa não é linear e fatos históricos nacionais como a repressão após o golpe militar (1964) estão presentes pela perspectiva manauara, como pano de fundo da trama de ódio recíproco dos irmãos quando de seus encontros. A descrição de lugares no "coração da Amazônia" e a utilização de algumas palavras indígenas e árabes trazem uma sensação de exotismo ao livro. Após ler o livro, fiquei com vontade de conhecer Manaus, a cidade onde a obra foi ambientada.

Sugestão de boa leitura:

Título: Dois Irmãos.

Autor: Milton Hatoum.

Editora: Companhia das Letras, 2006, 198 p.

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