Na obra Dois Irmãos, o narrador é Nael, filho de
Domingas, uma "cunhatã" (menina indígena) órfã "adotada"
por Halim e Zana unicamente com a intenção de ter uma serviçal em sua casa. Nael
tem como seu maior desejo, saber quem é o seu pai, um segredo guardado por sua
mãe. Ele conta as histórias que presenciou e as que ouviu dos mais velhos. Halim
é um libanês que migrou para o Brasil no início do século XX, se estabelecendo em
Manaus, a então pujante capital da borracha. Halim casa-se com Zana, que possui
antepassados indígenas. Halim gostava da vida a dois com a esposa, nunca
desejou ter filhos, eles vieram. Passou a vida ressentido em dividir a atenção
e o tempo da esposa com os três filhos que teve, sendo dois gêmeos (Omar e
Yakub) e, Rania, que se torna a sucessora na condução da prestigiada loja da
família. A trama se desenvolve em torno da extrema rivalidade dos gêmeos.
O leitor já deve ter pensado se tratar de mais uma
narrativa estilo "Caim e Abel" ou "Esaú e Jacó". Milton Hatoum
não caiu nesse clichê, embora no início do livro dê vários sinais nesse
sentido. Com o desenrolar da leitura, as personagens vão se tornando mais
complexas a ponto de Rania afirmar que Yakub é ainda mais cruel que Omar, o
"caçula", o preferido de Zana e por ela mimado. Omar é estudante indisciplinado
e relapso, um rapaz preguiçoso, inconsequente e mulherengo. Seu irmão Yakub é estudante
elogiado pelos professores, responsável, sério, porém sentindo-se rejeitado,
orgulhoso, recusa qualquer ajuda financeira da família. Sozinho, às próprias
expensas, muda-se para São Paulo, onde secretamente se casa com a bela manauara
Lívia. A moça foi o motivo por trás de uma luta corporal entre os irmãos que
causou a Yakub uma grande cicatriz no rosto, única diferença visível entre os
gêmeos idênticos. Yakub por seus méritos forma-se engenheiro civil, monta sua
própria construtora e enriquece. O ódio é o sentimento alimentado entre os
irmãos ao longo de suas existências e, os encontros de ambos sempre trazem
preocupação aos familiares.
A narrativa não é linear e fatos históricos nacionais
como a repressão após o golpe militar (1964) estão presentes pela perspectiva manauara,
como pano de fundo da trama de ódio recíproco dos irmãos quando de seus
encontros. A descrição de lugares no "coração da Amazônia" e a
utilização de algumas palavras indígenas e árabes trazem uma sensação de
exotismo ao livro. Após ler o livro, fiquei com vontade de conhecer Manaus, a
cidade onde a obra foi ambientada.
Sugestão
de boa leitura:
Título:
Dois Irmãos.
Autor:
Milton Hatoum.
Editora:
Companhia das Letras, 2006, 198 p.
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